São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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Programa deve investir R$ 23 bi

DA AGÊNCIA FOLHA, EM GILBUÉS

Em um projeto que envolve sete ministérios, secretarias estaduais e ONGs, o governo federal lançou o PAN (Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca), com previsão de investir R$ 23,5 bilhões até 2007.
As comunidades atingidas diretamente pelo problema da desertificação, como em Gilbués, querem ver as ações na prática. Investimentos já realizados por governos passados não surtiram efeito.
Em Gilbués, foi construído, com verba pública, um prédio para o Instituto Desert, de Teresina, que nunca funcionou. Salas de capacitação, auditórios e um terreno suficiente para pesquisas estão abandonados.
"Por isso a população rejeita o tema desertificação. Não quer nem ouvir falar. Já houve muitas promessas, mas nunca foi feito nada", afirma Ivete Oliveira, presidente da SOS Gilbués.
A dificuldade para conseguir investimentos aumenta ainda mais pelas desavenças políticas locais. A ONG é ligada ao PT -Oliveira foi eleita vereadora pelo partido. O prefeito do município é do PFL.
"Enquanto não acabarem as barreiras políticas, pode ter certeza de que não vai mudar nada e que o processo de desertificação só vai aumentar", disse José Celesmá Bertulino, engenheiro agrônomo e secretário da Agricultura de Gilbués.
A descrença também é justificada pela demora nas ações dos governos sobre o tema, mesmo com apoios internacionais. O conceito internacional de desertificação foi discutido no Brasil, na Eco 92. Em 1995, o país assinou um convênio de cooperação com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Apenas nove anos depois o plano de ação para o combate à desertificação foi colocado no papel.
O PAN é uma soma de programas sociais em curso, como o Bolsa-Família (os investimentos sociais devem tomar 90% dos recursos do programa), e de projetos ambientais, como a recuperação do rio São Francisco.
Para o coordenador-técnico José Roberto de Lima, do Ministério do Meio Ambiente, a maior novidade do programa é pôr o tema desertificação como prioridade.
O problema foi tema de discurso de Marie-Pierre Poirier, representante do Unicef no Brasil. Ao divulgar um relatório sobre a miséria entre as crianças no país, disse que "a pobreza brasileira tem a cara da criança do semi-árido nordestino". Pelo relatório, 45% das crianças e dos adolescentes do Brasil vivem abaixo da linha da pobreza. (KF)

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