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Promotoria recorre de absolvição de PM do caso João Roberto
Por quatro votos a três, júri inocentou policial militar acusado de matar menino de três anos em julho deste ano no Rio
Decisão revoltou a família; "Estou chocada. Meu filho morreu em vão. Ele [o PM] atirou, teve intenção, e está na rua", disse a mãe do garoto
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério Público do Rio
entrou com um recurso contra
a absolvição do PM William de
Paula no julgamento da morte
do menino João Roberto Amorim Soares, 3, morto em julho.
Por quatro votos a três, o 2º Tribunal do Júri inocentou o cabo
da acusação de homicídio duplamente qualificado.
O julgamento terminou às
23h55 de anteontem. William
foi condenado pelo crime de lesão corporal leve, para o qual
recebeu pena de prestação de
serviços comunitários por um
ano. Preso há quatro meses no
BEP (Batalhão Especial Prisional), ele foi solto na tarde de ontem. Por orientação do advogado, não falou com a imprensa.
A decisão revoltou a família
de João Roberto, morto após
William e o soldado Elias Gonçalves da Costa Neto -que ainda será julgado- supostamente
confundirem o carro onde ele
estava com o de ladrões.
Dezessete disparos atingiram o automóvel, dirigido pela
mãe do menino, Alessandra
Amorim, e onde também estava o irmão de João Roberto, então com nove meses.
O júri entendeu que o PM
cumpria sua função e não tinha
intenção de matar o menino. A
punição por lesão corporal leve
foi dada porque a mãe ficou ferida por estilhaços e o irmão de
João teve problema auditivo.
"Estou chocada. Meu filho
morreu em vão. Ele [o PM] atirou, teve intenção, e está na
rua", protestou Alessandra.
"Quer dizer que hoje a polícia
pode matar e fica por isso mesmo?", questionou o pai, o taxista Paulo Roberto Soares.
O promotor do caso, Paulo
Rangel, considerou a absolvição "uma carta branca que a sociedade entregou aos PMs". "Se
eles matam um garoto de três
anos, naquelas circunstâncias,
e estão agindo no estrito cumprimento do dever legal, imagina quando forem a uma favela."
Rangel afirmou à Folha que,
na reunião do júri, alguns
membros tiveram dificuldade
para entender o questionário
proposto e votaram por engano
a favor do PM. "Um jurado na
hora disse "não entendi, doutor". O juiz [Paulo Valdez] repetiu, mas ele ficou com vergonha
de dizer que ainda não tinha
compreendido. Quando o juiz
leu "com essa decisão vocês absolveram ele", dois disseram
"não é isso, não"."
O juiz negou que tenha havido qualquer manifestação dos
membros do júri após o anúncio da absolvição. Segundo ele,
a dúvida expressa dizia respeito a uma das teses da defesa, e
não em relação à absolvição.
"Estou sendo surpreendido
por esta declaração. A Promotoria não consignou nenhum
protesto em ata", disse Valdez à
Folha. "Só porque a votação
não atendeu à expectativa de
uma ou de outra parte, o juiz
não tem que repetir a votação."
O advogado de defesa do cabo, Maurício Neville, também
entrou com recurso contra a
decisão, questionando a pena
de prestação de serviços comunitários por sete horas semanais durante um ano. Ele sustenta que o PM já cumpriu a
pena ao passar quatro meses
preso. Os recursos devem ser
julgados apenas no próximo
ano.
(ANDRÉ ZAHAR)
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