São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Testemunha de crime no parque foi ignorada

Citada em depoimento à polícia em agosto, pessoa que presenciou uma das 13 mortes só foi procurada nesta semana

Com base nesse relato a Justiça determinou a prisão do sargento reformado Jairo Franco, suspeito de ser o "maníaco do arco-íris"

ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A principal testemunha da Polícia Civil de Carapicuíba (Grande SP) para a prisão do sargento reformado da Polícia Militar Jairo Francisco Franco, 46, suspeito de ser o "maníaco do arco-íris", foi desprezada por quase quatro meses.
Segundo o delegado Paulo Fortunato, a peça na investigação dos 13 assassinatos em série no parque dos Paturis, uma testemunha ocular, só foi encontrada anteontem com a "reinvestigação" dos crimes iniciada nesta semana, após a Folha noticiar as mortes.
A testemunha havia sido citada no depoimento de um comerciante em agosto, quando ocorreu a 13ª morte no parque, mas nada havia sido feito.
A testemunha -que a polícia não revela o nome por motivos de segurança e que está sob proteção- foi achada com ajuda do comerciante, que ficou no parque e avisou os policiais quando ela apareceu. "Todos esses crimes têm testemunhas, mas o pessoal tem muito medo de contar", disse o comerciante, cujo nome a Folha preserva por segurança.
Na delegacia, segundo Fortunato, a testemunha confirmou ter visto o crime e disse que não tinha dúvidas de ser o sargento o autor. A certeza estava reforçada na relação sexual que ambos tiveram antes. Informada desses detalhes, a juíza Roberta Poppi Neri, autorizou a prisão de Franco por 30 dias.
Não era só a Polícia Civil de Carapicuíba que tratava as mortes no parque como "homicídios simples" e isolados. Promotores agiam da mesma forma. Eles dizem saber da possível existência de um assassino em série "ao menos" desde agosto de 2007.
Mesmo diante do aumento de vítimas no parque, os promotores não ouviram testemunhas -procedimento comum em casos complexos.
"Em nenhum desses processos [inquéritos policiais] que eram relatados e passaram por nós, em nenhum, eles [policiais] trouxeram qualquer informação que indicasse quem seria o suposto autor", diz a promotora Juliana Tocunduva.
Também não foi feito um cruzamento de informações dos casos. Com um "protocolado único", por exemplo, os promotores poderiam analisar as semelhanças dos crimes. "A gente vinha acompanhando as investigações da polícia", disse a promotora Cristiane Pariz.
Questionadas sobre o motivo de não ter solicitado até agora exame balístico dos projéteis extraídos dos corpos de 12 das 13 vítimas mortas (uma foi morta a pauladas), a promotora Cristiane disse: "É, não tenho uma resposta para isso".
Ao ser questionado se a polícia só passou a agir após a revelação do caso, o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, negou.
"As investigações já têm algum tempo, isso não foi algo que saiu de um dia para outro. Nós esperamos, no menor tempo possível, que tudo possa ser esclarecido. Não se pode adiantar eventuais providências porque isso atrapalharia o curso do inquérito", disse.


Colaborou BRUNA SANIELE


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