São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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PM citado em livro sobre tortura vira secretário em Mogi das Cruzes

Ele foi apontado como autor ou por ter participado de assassinatos em 1975

RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO

O prefeito eleito de Mogi das Cruzes (Grande SP), Marco Aurélio Bertaiolli (DEM), indicou para a Secretaria Municipal da Segurança Pública o coronel da reserva da Polícia Militar Eli Nepomuceno.
O policial militar é citado no livro "Rota 66", do jornalista Caco Barcellos, como o responsável pela morte de um mecânico e ainda por ter participado indiretamente do assassinato de três adolescentes em 1975.
Na época, ele comandava uma patrulha da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), batalhão de elite da PM paulista.
Em 2000, o coronel chegou a ser indicado para chefiar a GCM (Guarda Civil Metropolitana), mas o então prefeito Celso Pitta desistiu de nomeá-lo ao cargo após a ampla repercussão pública do livro.
Em Mogi, uma das missões do coronel será a de armar o efetivo da guarda municipal e torná-la mais "arrojada", como ele descreveu em uma entrevista para um jornal local.
À Folha, Nepomuceno disse que não se envolveu nas mortes relatadas no livro de Caco Barcellos e que esses fatos já foram resolvidos. Disse ainda que a política de segurança pública de 1975 não se assemelha em nada com a atual.
Sobre o projeto de armar a guarda municipal, Nepomuceno afirma que essa é uma decisão do prefeito e, caso ocorra, será feita somente depois de treinamentos e avaliações. O "arrojado", segundo ele, se refere aos trabalhos mais eficazes que os guardas poderão atuar, mesmo desarmados.
O prefeito eleito Bertaiolli não atendeu a reportagem. Por meio de sua assessoria, disse que não é a primeira vez que o coronel trabalha na Prefeitura de Mogi. Nepomuceno já foi consultor de segurança em 2002, na primeira gestão do atual prefeito Junji Abe (PSDB), época em que a guarda foi implantada.
Ainda de acordo com sua assessoria, Nepomuceno foi indicado porque é especialista em segurança pública, fez faculdades de direito e filosofia e é morador da cidade. O militar deve cuidar também de um projeto de expansão de monitoramento por câmeras de vídeo no município "dentro de todos os princípios técnicos de qualificação dos guardas".
O prefeito eleito mandou dizer que tem conhecimento do livro, mas o considera um assunto do passado, pois já coube à Justiça esses fatos. Atualmente Nepomuceno é diretor do departamento jurídico e financeiro do Hospital Cruz Azul, ligado à Polícia Militar.


Colaboraram ROGÉRIO PAGNAN e LUIS KAWAGUTI


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