São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000


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INCULTA & BELA

Rio de Janeiro, Bahia, Buenos Aires...

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

Por telefone, troco duas palavras com Jorge Portugal, professor de português e compositor, letrista de "Filosofia Pura" ("A sensação divina de dominar quem domina é que cura qualquer dor"). Falávamos da entrevista que eu faria, no dia seguinte, com Caetano Veloso, no teatro Jorge Amado, em Salvador. A certa altura, Portugal cita dois importantes professores de português de Caetano. "Nestor, de Santo Amaro (da Purificação, terra de Caetano e de Portugal), e Candolina, aqui da Bahia", diz ele. Detalhe: Jorge Portugal estava em Salvador. Para o baiano é normalíssimo referir-se assim a Salvador. "Vou para a Bahia", dizia o avô de Portugal quando ia de Santo Amaro para a capital. Locutores esportivos insistem em referir-se à seleção argentina como "o time portenho". Chamar a equipe nacional argentina de portenha equivale a chamar a italiana de romana ou a francesa de parisiense. Todo portenho é argentino, mas nem todo argentino é portenho. "Portenho" é relativo apenas a Buenos Aires. Outro par desse tipo é carioca/fluminense. Todo carioca é fluminense, mas nem todo fluminense é carioca. "Carioca" vem do tupi "kari"oka" e significa "casa do branco". Diz respeito à cidade do Rio de Janeiro. Já "fluminense" vem do latim "flumen", que significa "rio". É da mesma raiz de "fluvial" e se refere ao Estado do Rio de Janeiro. Jornais e emissoras de rádio e TV se referem ao campeonato do Estado do Rio como "carioca". Sei bem que "uma vez Flamengo, sempre Flamengo". Para flamenguistas (e vascaínos, botafoguenses...) deve ser esquisito dizer "Sou campeão fluminense". Paciência. São Paulo também carrega sua cruz. Um amigo estava em uma cidade do interior do Estado com um carro cuja chapa era da capital. Andando devagar, à procura de um endereço, o forasteiro foi advertido pelo motorista do carro que o seguia. "Anda logo, ô paulista!", disse o cidadão, cujo carro tinha chapa da urbe em que ocorreu o fato. Meu amigo olhou e disse: "Pelo que vejo, o senhor é daqui". À confirmação do outro, concluiu: "Então somos paulistas os dois". Todo paulistano é paulista, mas nem todo paulista é paulistano. Nasci em Guaratinguetá (SP), portanto sou paulista. Como não nasci na cidade de São Paulo, não sou paulistano. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br


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