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INCULTA & BELA
Rio de Janeiro, Bahia, Buenos Aires...
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Por telefone, troco duas palavras com Jorge Portugal, professor de português e compositor, letrista de "Filosofia Pura"
("A sensação divina de dominar quem domina é que cura
qualquer dor").
Falávamos da entrevista que
eu faria, no dia seguinte, com
Caetano Veloso, no teatro Jorge Amado, em Salvador.
A certa altura, Portugal cita
dois importantes professores de
português de Caetano. "Nestor,
de Santo Amaro (da Purificação, terra de Caetano e de Portugal), e Candolina, aqui da
Bahia", diz ele. Detalhe: Jorge
Portugal estava em Salvador.
Para o baiano é normalíssimo referir-se assim a Salvador.
"Vou para a Bahia", dizia o
avô de Portugal quando ia de
Santo Amaro para a capital.
Locutores esportivos insistem
em referir-se à seleção argentina como "o time portenho".
Chamar a equipe nacional argentina de portenha equivale a
chamar a italiana de romana
ou a francesa de parisiense. Todo portenho é argentino, mas
nem todo argentino é portenho. "Portenho" é relativo apenas a Buenos Aires.
Outro par desse tipo é carioca/fluminense. Todo carioca é
fluminense, mas nem todo fluminense é carioca.
"Carioca" vem do tupi "kari"oka" e significa "casa do
branco". Diz respeito à cidade
do Rio de Janeiro. Já "fluminense" vem do latim "flumen",
que significa "rio". É da mesma raiz de "fluvial" e se refere
ao Estado do Rio de Janeiro.
Jornais e emissoras de rádio e
TV se referem ao campeonato
do Estado do Rio como "carioca". Sei bem que "uma vez Flamengo, sempre Flamengo". Para flamenguistas (e vascaínos,
botafoguenses...) deve ser esquisito dizer "Sou campeão
fluminense". Paciência.
São Paulo também carrega
sua cruz. Um amigo estava em
uma cidade do interior do Estado com um carro cuja chapa
era da capital. Andando devagar, à procura de um endereço,
o forasteiro foi advertido pelo
motorista do carro que o seguia. "Anda logo, ô paulista!",
disse o cidadão, cujo carro tinha chapa da urbe em que
ocorreu o fato. Meu amigo
olhou e disse: "Pelo que vejo, o
senhor é daqui". À confirmação do outro, concluiu: "Então
somos paulistas os dois".
Todo paulistano é paulista,
mas nem todo paulista é paulistano. Nasci em Guaratinguetá (SP), portanto sou paulista. Como não nasci na cidade de São Paulo, não sou paulistano. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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