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Moradores já temiam acidente em obra
No momento do desabamento, vizinhos ouviram um forte som de explosão e sentiram os prédios do entorno balançar
Temor de que houvesse
acidente já existia em razão
de problemas que surgiram
nas casas; pedidos de
vistoria haviam sido feitos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Atrás das faixas amarelas de
isolamento, vizinhos das obras
do metrô relatavam uma seqüência parecida antes do acidente de ontem na zona oeste
da capital paulista: barulho de
explosão, tremor nos prédios,
som de terra deslizando.
Não houve sirenes como antes das constantes detonações
feitas para abrir caminho para
os túneis. Entre os moradores,
o temor de um acidente já existia por causa de rachaduras que
vinham aparecendo nos imóveis. Outros problemas menores também aconteceram nos
últimos tempos, disseram.
"Tinha acabado de chegar em
casa, houve o barulho de explosão, sem o aviso sonoro, como
costumava ser. Corri para a janela do quarto e vi o guindaste
girando, o caminhão rolando, a
terra derretendo como manteiga. Peguei minhas coisas e saí
correndo", disse Rodney
Eduardo, morador de um prédio de quatro andares na rua
Gilberto Sabino, atrás da obra.
"A gente não pode viver nessa insegurança. E se caísse tudo?", disse, aos prantos, Dirce
Maria Chiara, 50. Ela passava
as férias na casa do filho, no
mesmo edifício de Rodney. Dirce fazia limpeza na casa quando
sentiu o prédio balançar e ouviu barulho de terra deslizando.
Seu marido, Antônio, soube do
acidente por conhecidos e voltou desesperado à casa.
O apartamento foi a primeira
aquisição da família, abrigou o
filho durante o curso de direito
e serviria agora para que sua filha vivesse durante os estudos."Custava desapropriar isso
aqui?" Segundo moradores, o
prédio já apresentava rachaduras em alguns apartamentos.
Também a aposentada Carmen de Leoni, 64, ficou preocupada com as rachaduras que
apareceram no quintal após o
início das obras. Ontem descansava na casa em que vive há
dez anos na rua Capri quando
veio o estrondo. Só pegou a cachorra, Bolinha, e saiu correndo com o marido, o também
aposentado Vitor Gobernacci,
72. "Já sofri dois derrames,
agora não me assusto com nada", disse Vitor, que teve de sair
de casa de pijama.
O casal passou cerca de duas
horas aguardando um abrigo,
sentado em cadeiras plásticas.
A advogada Carolina Gragnoli, 27, também disse que já
havia pedido para técnicos do
metrô verificarem rachaduras
em sua casa em duas ocasiões.
"Amo a minha casa, jamais sairia deste local. Eles disseram
que não havia problema", disse
a advogada. "Agora estou aqui,
sem eira nem beira", afirmou.
Felipe da Silva, 20, de uma
empresa de motoboys que fica
em galpão próximo da obra, diz
que o acidente não foi o primeiro. "Uma vez quebrou um rolamento do guindaste e voaram
pedaços. Acabou com um carro
que estava aqui próximo."
Já Olívia Custódio, 34, segurança da estação de trem da
CPTM próxima do local, disse
que só percebeu o problema
quando acabou a energia.
"Abriu tudo. Pareceria o Iraque", disse Diva Martins -sua
casa fica na frente da cratera e
os netos de seis meses e dois
anos estavam no local. Diva
abordou o prefeito Gilberto
Kassab (PFL) para cobrar ajuda. "É obrigação dele."
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