São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moradores já temiam acidente em obra

No momento do desabamento, vizinhos ouviram um forte som de explosão e sentiram os prédios do entorno balançar

Temor de que houvesse acidente já existia em razão de problemas que surgiram nas casas; pedidos de vistoria haviam sido feitos

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Atrás das faixas amarelas de isolamento, vizinhos das obras do metrô relatavam uma seqüência parecida antes do acidente de ontem na zona oeste da capital paulista: barulho de explosão, tremor nos prédios, som de terra deslizando.
Não houve sirenes como antes das constantes detonações feitas para abrir caminho para os túneis. Entre os moradores, o temor de um acidente já existia por causa de rachaduras que vinham aparecendo nos imóveis. Outros problemas menores também aconteceram nos últimos tempos, disseram.
"Tinha acabado de chegar em casa, houve o barulho de explosão, sem o aviso sonoro, como costumava ser. Corri para a janela do quarto e vi o guindaste girando, o caminhão rolando, a terra derretendo como manteiga. Peguei minhas coisas e saí correndo", disse Rodney Eduardo, morador de um prédio de quatro andares na rua Gilberto Sabino, atrás da obra.
"A gente não pode viver nessa insegurança. E se caísse tudo?", disse, aos prantos, Dirce Maria Chiara, 50. Ela passava as férias na casa do filho, no mesmo edifício de Rodney. Dirce fazia limpeza na casa quando sentiu o prédio balançar e ouviu barulho de terra deslizando. Seu marido, Antônio, soube do acidente por conhecidos e voltou desesperado à casa.
O apartamento foi a primeira aquisição da família, abrigou o filho durante o curso de direito e serviria agora para que sua filha vivesse durante os estudos."Custava desapropriar isso aqui?" Segundo moradores, o prédio já apresentava rachaduras em alguns apartamentos.
Também a aposentada Carmen de Leoni, 64, ficou preocupada com as rachaduras que apareceram no quintal após o início das obras. Ontem descansava na casa em que vive há dez anos na rua Capri quando veio o estrondo. Só pegou a cachorra, Bolinha, e saiu correndo com o marido, o também aposentado Vitor Gobernacci, 72. "Já sofri dois derrames, agora não me assusto com nada", disse Vitor, que teve de sair de casa de pijama.
O casal passou cerca de duas horas aguardando um abrigo, sentado em cadeiras plásticas.
A advogada Carolina Gragnoli, 27, também disse que já havia pedido para técnicos do metrô verificarem rachaduras em sua casa em duas ocasiões. "Amo a minha casa, jamais sairia deste local. Eles disseram que não havia problema", disse a advogada. "Agora estou aqui, sem eira nem beira", afirmou.
Felipe da Silva, 20, de uma empresa de motoboys que fica em galpão próximo da obra, diz que o acidente não foi o primeiro. "Uma vez quebrou um rolamento do guindaste e voaram pedaços. Acabou com um carro que estava aqui próximo."
Já Olívia Custódio, 34, segurança da estação de trem da CPTM próxima do local, disse que só percebeu o problema quando acabou a energia.
"Abriu tudo. Pareceria o Iraque", disse Diva Martins -sua casa fica na frente da cratera e os netos de seis meses e dois anos estavam no local. Diva abordou o prefeito Gilberto Kassab (PFL) para cobrar ajuda. "É obrigação dele."


Texto Anterior: "O chão tremeu e desabou tudo", diz operário
Próximo Texto: Desalojados são levados para hotéis
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.