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Para moradores, acordos são "ridículos"
Parentes de vítimas e moradores do entorno da cratera dizem que indenizações são baixas e que falta amparo do governo
Consórcio Via Amarela afirma que o seguro da obra (estimado em R$ 1,2 bilhão) garantiu as indenizações em menos de 90 dias
Thiago Bernardes/Folha Imagem
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Israel Domiciano, 26, que viu a abertura da cratera do metrô
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de amparo por parte
do governo estadual e propostas de acordos consideradas
"ridículas" são as principais reclamações dos parentes das vítimas e moradores ouvidos pela
reportagem da Folha, um ano
após a tragédia nas obras da estação Pinheiros do metrô.
"A nossa família continua toda desamparada. Cadê o Serra
agora? Não recebemos um telefonema sequer", afirma, em
tom indignado, Marli Aparecida Leite, 40, irmã do motorista
da van morto no acidente.
Ela diz que o Consórcio Linha Amarela "praticamente
forçou um acordo", aproveitando-se da fragilidade da família. "Do dinheiro que a minha mãe recebeu de indenização [Marli revela que foram R$
70 mil], só conseguimos dar
entrada em uma van. E a gente
nem conseguiu transferir o documento ainda."
O representante do Consórcio Via Amarela, Renato Miranda, diz que o seguro da obra
(estimado em R$ 1,2 bilhão) garantiu o pagamento das indenizações em menos de 90 dias.
Segundo ele, os parentes das vítimas fatais teriam recebido
um valor muito maior que o
apontado pela irmã do motorista. "Uma indenização por vida [sic] custa de R$ 60 mil a R$
120 mil. As pessoas, nesse caso,
receberam pelo valor máximo",
disse, sem detalhar valores.
O comerciante Silvio Azevedo, 46, no entanto, nega ter recebido o valor da indenização
que o consórcio aponta. Ele,
que perdeu a mãe no desastre,
disse que a família nunca pediu
dinheiro ao consórcio. "Posso
dizer que [o valor da indenização] chegou muito longe disso
[R$ 120 mil]. Pagaram muito
abaixo desse valor."
O Consórcio Linha Amarela
garante que 98% das vítimas já
fizeram acordo sem a necessidade de ir à Justiça. Das 212
pessoas desabrigadas, apenas
uma família continua em hotel.
No total, 55 imóveis tiveram
de ser interditados por causa
da cratera. Dez acabaram sendo condenados e outros três foram demolidos. Desde então,
muito mato cresceu, as ruas da
região ficaram ainda mais esburacadas -principalmente
por causa do vaivém de caminhões pesados- e o comércio
ficou às moscas. Só um escritório de contabilidade e o sobrado de um casal de aposentados
recebem a visita do carteiro.
Além deles, a família da aposentada Itália de Sousa Pereira,
58, também tem feito parte do
cenário desolador -mais necessidade do que insistência.
"No dia do acordo, quem não
assinasse teria a diária do hotel
cortada. Eles nos deram até o
meio-dia [do dia 18 de julho]
para sair. Eu quase chorei. Fiquei na recepção durante cinco
horas para tentar resolver a dívida de R$ 400 que o hotel jogou na minha mão dizendo que
a gente tinha extrapolado o horário", lembra Maysa de Sousa
Pereira, 25, filha da aposentada, que diz ter recebido uma indenização de R$ 4.000 do Consórcio Linha Amarela, mas que
o dinheiro ficou na mão do proprietário do imóvel, alugado há
11 anos. Ela se diz insatisfeita
com a indenização. Agora, voltou a ocupar o sobrado na rua
Gilberto Sabino com o irmão,
os dois filhos, o marido, o padrasto e a mãe.
Reuniões
Em nota, a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
informou que o secretário Luiz
Antonio Marrey, por determinação do governador José Serra, participou de cinco reuniões
com moradores e vítimas. O balanço divulgado pela secretaria
aponta que 118 acordos foram
assinados e 237 pessoas foram
beneficiadas.
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