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SAÚDE/TRATAMENTO
Pneumonia em crianças pode ser tratada em casa
Estudo da OMS conclui que eficiência do tratamento é semelhante à de hospital
Organização Mundial da Saúde alerta que, em casos muito graves, deve haver internação para aplicação de antibióticos na veia
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tratar crianças com pneumonia grave em casa é tão eficiente quanto em hospitais, segundo um estudo divulgado neste mês pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
A conclusão pode mudar significativamente a forma como
a doença que mais mata crianças de até 5 anos no mundo é
tratada. A OMS, que hoje aconselha a internação, anunciou
que revisará suas diretrizes para incluir o tratamento caseiro.
Muitos pais e médicos optam
pela internação para ter segurança quanto à melhora. Mas o
estudo mostrou que o uso de
antibióticos orais, que podem
ser tomados em casa, tem praticamente a mesma chance de
funcionar em relação à aplicação na veia, feita em hospitais.
Analisando o tratamento de
2.037 crianças no Paquistão,
país em desenvolvimento com
características semelhantes ao
Brasil, a OMS detectou falhas
no tratamento de 8,6% dos pacientes internados, praticamente o mesmo índice daqueles tratados em casa: 7,5%.
De acordo com especialistas,
os benefícios de não se deixar a
criança em um leito hospitalar
por vários dias são muitos.
José Eduardo Cançado, presidente da Sociedade Paulista
de Pneumologia e Tisiologia,
afirma que "a eficácia do antibiótico oral é praticamente a
mesma do endovenoso".
Para ele, ficar em casa pode
também favorecer a melhora
porque a criança fica mais à
vontade no ambiente em que
está acostumada, e ainda conta
com a presença mais constante
de familiares.
Cançado afirma ainda que a
falta de conhecimento sobre a
doença por parte de alguns médicos contribui para o grande
número de internações. Em
2006, elas chegaram a 459.755
no SUS, gerando um custo de
R$ 221,4 milhões.
Shamim Qazi, um dos autores da pesquisa e médico do Departamento da Saúde da Criança da OMS, disse à Folha, por e-mail, que o menor número de
hospitalizações é positivo para
um país como o Brasil, com
problemas na saúde pública.
Segundo ele, o tratamento
em hospitais seria a única opção para casos considerados
muito graves, em que a criança
apresenta algum dos seguintes
sintomas: histórico de tosse ou
dificuldade para respirar, incapacidade de beber líquidos, letargia, lábios azulados ou abertura excessiva das narinas ao
respirar. O estudo diz que esses
casos representam apenas de
2% a 3% do total.
Entretanto, o pediatra e diretor clínico do Hospital Infantil
Sabará, de São Paulo, afirma
que, apesar de o trabalho da
OMS ser bem organizado, pode
passar uma idéia de que toda
criança com pneumonia não
precisa ir para o hospital, o que,
segundo ele é perigoso.
"Se ela não for bem tratada,
acompanhada, o caso pode evoluir mal. Alguns pais poderiam
não dar os remédios corretamente, por exemplo", diz.
Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI , da Reportagem
Local
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