São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE/TRATAMENTO

Pneumonia em crianças pode ser tratada em casa

Estudo da OMS conclui que eficiência do tratamento é semelhante à de hospital

Organização Mundial da Saúde alerta que, em casos muito graves, deve haver internação para aplicação de antibióticos na veia

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tratar crianças com pneumonia grave em casa é tão eficiente quanto em hospitais, segundo um estudo divulgado neste mês pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A conclusão pode mudar significativamente a forma como a doença que mais mata crianças de até 5 anos no mundo é tratada. A OMS, que hoje aconselha a internação, anunciou que revisará suas diretrizes para incluir o tratamento caseiro.
Muitos pais e médicos optam pela internação para ter segurança quanto à melhora. Mas o estudo mostrou que o uso de antibióticos orais, que podem ser tomados em casa, tem praticamente a mesma chance de funcionar em relação à aplicação na veia, feita em hospitais.
Analisando o tratamento de 2.037 crianças no Paquistão, país em desenvolvimento com características semelhantes ao Brasil, a OMS detectou falhas no tratamento de 8,6% dos pacientes internados, praticamente o mesmo índice daqueles tratados em casa: 7,5%.
De acordo com especialistas, os benefícios de não se deixar a criança em um leito hospitalar por vários dias são muitos.
José Eduardo Cançado, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, afirma que "a eficácia do antibiótico oral é praticamente a mesma do endovenoso".
Para ele, ficar em casa pode também favorecer a melhora porque a criança fica mais à vontade no ambiente em que está acostumada, e ainda conta com a presença mais constante de familiares.
Cançado afirma ainda que a falta de conhecimento sobre a doença por parte de alguns médicos contribui para o grande número de internações. Em 2006, elas chegaram a 459.755 no SUS, gerando um custo de R$ 221,4 milhões.
Shamim Qazi, um dos autores da pesquisa e médico do Departamento da Saúde da Criança da OMS, disse à Folha, por e-mail, que o menor número de hospitalizações é positivo para um país como o Brasil, com problemas na saúde pública.
Segundo ele, o tratamento em hospitais seria a única opção para casos considerados muito graves, em que a criança apresenta algum dos seguintes sintomas: histórico de tosse ou dificuldade para respirar, incapacidade de beber líquidos, letargia, lábios azulados ou abertura excessiva das narinas ao respirar. O estudo diz que esses casos representam apenas de 2% a 3% do total.
Entretanto, o pediatra e diretor clínico do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo, afirma que, apesar de o trabalho da OMS ser bem organizado, pode passar uma idéia de que toda criança com pneumonia não precisa ir para o hospital, o que, segundo ele é perigoso.
"Se ela não for bem tratada, acompanhada, o caso pode evoluir mal. Alguns pais poderiam não dar os remédios corretamente, por exemplo", diz.


Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI , da Reportagem Local


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: O traficante que virou educador
Próximo Texto: Aconselhada por pneumologista, mãe tratou dois filhos em casa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.