São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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"As pessoas têm medo de mim"

da Reportagem Local

O menino A.M., 16, mora nas ruas de São Paulo há dois anos e sobrevive com cerca de R$ 5 que consegue arrecadar por dia pedindo esmolas pela cidade.
M. diz que tem dois pontos preferidos para pedir trocados, perto de onde costuma ficar até a 1h: uma lanchonete da rede McDonalds e uma Blockbuster. Os dois lugares ficam na região de Pinheiros, na zona sudoeste.
Apesar de passar suas noites na frente de estabelecimentos que ficam abertos até a meia-noite, o adolescente fala que consegue ganhar dinheiro mais facilmente pela manhã.
Ele explica: "As pessoas têm medo de mim à noite. Elas me vêem sujo e me tratam mal. Muitas vezes ameaçam chamar a polícia quando eu chego perto."
M. parou de estudar na terceira série do ensino fundamental. Passa o dia perambulando pelas ruas e, quando não consegue dinheiro suficiente para comer, procura entidades assistenciais.
Uma de suas únicas diversões é assistir filmes do lado de fora da videolocadora, onde costuma pedir esmola. Ele só consegue acompanhar as imagens, mas diz que "normalmente dá para entender alguma coisinha."
M. afirma que seu sonho é se tornar um cientista. A inspiração surgiu de um dos filmes vistos pelo vidro da videolocadora. "Deve ser muito legal porque é possível aprender e descobrir várias coisas", afirma.

Irmãos
Os irmãos L.C.M., 14, a menina I.M.M., 12, e o caçula J.M., 7, trabalham em média sete horas por dia para sustentar a família.
O pai das crianças morreu e a mãe fica em casa cuidando de outros dois filhos menores no barraco da família.
Os três moram perto da estrada do M" Boi Mirim, no extremo da zona sul de São Paulo, e pegam dois ônibus para chegar em uma das travessas da avenida República do Líbano, em Moema, na zona sudoeste.
Os irmão saem de casa na parte da tarde, depois da escola, e chegam por volta das 17h no "ponto de trabalho".
Teoricamente, os três vão para a rua vender balas. Mas dificilmente encontram compradores e conseguem dinheiro pedindo "dez centavos só para ajudar" aos motoristas.
Segundo o irmão mais velho, J. é o campeão de arrecadação. Consegue R$ 10 por noite.
L., responsável pelos irmãos menores, diz que não vê perigo na atividade.
"Aqui não tem perigo. Eles obedecem e tomam cuidado na hora de atravessar na frente dos carros", disse L. "Na volta para casa, também é tranquilo. Ninguém mexe com a gente." (GN)


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