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"Governo está acéfalo", afirma comandante a passageiros da Gol
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Estou aqui dividindo minha
indignação." "As autoridades
competentes não fazem nada."
"O governo está acéfalo."
Uau. Mesmo para os passageiros do vôo 1743 da Gol, que
já exibiam o cansaço conformado que se tornou praxe no país
do apagão aéreo, as frases proferidas em tom solene pelo "comandante Ângelo" causaram
uma certa surpresa.
"Ele disse isso mesmo?", perguntaram-se entre si passageiros nas últimas fileiras do
Boeing-737/800 que deveria
ter decolado mais de uma hora
antes na noite de anteontem.
Eram 21h15, e o vôo entre
Congonhas e Macapá, com escalas em Brasília e Belém, tinha
a saída prevista para as 20h05.
Os passageiros só foram embarcados às 20h40, e esperaram uma hora dentro do avião.
A crise aérea brasileira, que
já evidenciou falhas monumentais no controle de vôos, no planejamento das empresas e na
capacidade de gerenciamento
do trio FAB-Infraero-Anac,
agora evidencia uma nova personagem: o piloto que deita no
divã do cockpit e reproduz o
discurso das companhias de
que a culpa toda é do "grande
outro" -no caso, a FAB.
Só que para que o passageiro
possa cumprir seu papel de
analista e não seja contaminado pela inevitável simbiose
com seu analisado, é importante qualificar esse discurso. Até
porque controladores e autoridades aeronáuticas culpam as
empresas e sua expansão por
todos os males da crise.
"Estamos querendo saber,
assim como as outras aeronaves aqui, qual é nossa posição
no seqüenciamento", disse o
comandante, com a bizarra naturalidade que meses de noticiário permitem: hoje quase todo passageiro de avião está algo
familiarizado com o jargão do
setor aéreo. Ele falava da ordem das decolagens.
O comandante explicou que
seu pouso havia demorado porque o 737/800 que pilotava é
um dos modelos que tem restrição para pouso sob chuva em
Congonhas. Mas no domingo
Congonhas só foi interditado
para medição da lâmina d'água
na pista às 18h, por 10 minutos.
A pista estava liberada às
20h20, horário aproximado do
pouso do Boeing.
Outro ponto que o discurso
do comandante não elucidou:
ele queixou-se de que não sabia
qual seu lugar na fila de decolagens, mas a Gol (como todas as
empresas) tem um representante no Centro de Gerenciamento do aeroporto. Em tese,
teria como saber.
Procurada, a assessoria da
Gol disse que a empresa não
orienta seus pilotos a se queixarem e que manifestações como
essas são "espontâneas".
Essa espontaneidade vem se
proliferando. Em janeiro um
relatório da FAB mostrou que
um piloto da TAM falava sobre
os perigos de pousar aviões no
Brasil. Em 28 de janeiro, o piloto do vôo TAM 3324, de Guarulhos a Fortaleza, disse que "os
caras [os controladores] realmente não querem trabalhar".
Como nove entre dez gestores do sistema fazem críticas às
empresas, fica difícil para o
cliente saber quem está com a
razão. E, para isso, não há psicanálise que resolva.
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