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Polícia se desculpou por insinuar armação, diz pai
Com a vice-cônsul do Brasil, oficiais da polícia de Zurique visitaram Paula no hospital
Pai de brasileira diz acreditar que mudança de conduta de autoridades policiais só ocorreu depois de pressão diplomática brasileira
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas oficiais da Polícia da Cidade de Zurique visitaram ontem Paula Oliveira e, de acordo
com o pai, pediram desculpas
pelo atendimento prestado depois que ela foi atacada na noite
da última segunda-feira.
"A postura inicial da polícia
suíça foi stalinista, de transformar a vítima em acusado. Os
policiais que a conduziram ao
hospital a pressionaram para
que ela confessasse que inventou tudo. Mas agora viram que
ela está legalmente no país, não
veio se prostituir, é uma pessoa
de bem, e por isso nos pediram
desculpas", disse ontem Paulo
Oliveira à Folha, por telefone.
"As policiais disseram que foi
um absurdo ela ter sido atendida apenas por agentes homens.
Ela teve ferimentos no corpo
todo, até no púbis, e era preciso
ter uma mulher para fazer o
exame de corpo de delito. Todo
o procedimento será reiniciado
e as investigações finalmente
vão começar", afirmou ele, que
teme nova agressão. "Nós não
sabemos quem são eles, mas
eles sabem quem ela é."
Para Oliveira, a mudança no
comportamento da polícia se
deve à pressão diplomática depois que o caso foi amplamente
divulgado pela imprensa. Na
visita a Paula no hospital, as
oficiais estavam acompanhadas da cônsul-geral do Brasil
em Zurique, Vitória Cleaver.
A diplomata condenou com
veemência as especulações divulgadas na imprensa suíça de
que a polícia local considera a
possibilidade de automutilação. "Não há hipótese. Paula
está extremamente ferida. Os
cortes não são profundos, mas
estão espalhados pelo corpo inteiro", afirmou à Folha.
A diplomata disse que nos
contatos oficiais que fez ontem
com as autoridades policiais e
políticas da Suíça essa hipótese
nem sequer foi mencionada.
"Há muitas especulações sobre
o caso, sobretudo de natureza
política. De fato houve uma
queixa da Paula sobre a forma
como a polícia dirigiu a conversa inicial", disse.
Paula, que havia tido alta do
Hospital Universitário de Zurique na terça-feira, voltou a ser
internada ontem após se sentir
mal. Seu pai diz que, apesar de
muito abalada pela tortura, seu
estado de saúde é bom e ela
conversou com parentes de Recife por telefone. "Ela telefonou para minha mãe, que tem
80 anos, para que ela não se assustasse se visse o caso na televisão", afirmou.
Em Recife, os parentes também criticaram a polícia suíça
por levantar a hipótese de armação. "Eles insistem na tese
da automutilação. Ela teria de
ter feito as marcas de letras
[SVP, que formam a sigla de
partido suíço nacionalista] de
ponta-cabeça. É um absurdo",
disse à Folha o tio
Silvio Oliveira, 54, antes do pedido de desculpas das policiais
a Paula, que foi cortada nas
pernas, braços, costas e barriga.
Volta ao Brasil
A família da advogada quer
que ela se mude de volta para o
Brasil. A vinda ao país, marcada
para o dia 19, pode ser antecipada se ela estiver em condições
de saúde para viajar.
Seu pai, contudo, diz que a
estada no Brasil será temporária. "Ela terá que passar por um
período de descanso, mas é
provável que volte a morar na
Suíça. Ela chegou há dois anos,
transferida pela empresa [a
multinacional dinamarquesa A
P Moeler Maersk] para a qual já
trabalhava em São Paulo e
montou a vida dela por aqui."
Colaboraram MALU DELGADO , enviada especial a Zurique, e MARCO BAHÉ , de Recife
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