São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Polícia se desculpou por insinuar armação, diz pai

Com a vice-cônsul do Brasil, oficiais da polícia de Zurique visitaram Paula no hospital

Pai de brasileira diz acreditar que mudança de conduta de autoridades policiais só ocorreu depois de pressão diplomática brasileira

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas oficiais da Polícia da Cidade de Zurique visitaram ontem Paula Oliveira e, de acordo com o pai, pediram desculpas pelo atendimento prestado depois que ela foi atacada na noite da última segunda-feira. "A postura inicial da polícia suíça foi stalinista, de transformar a vítima em acusado. Os policiais que a conduziram ao hospital a pressionaram para que ela confessasse que inventou tudo. Mas agora viram que ela está legalmente no país, não veio se prostituir, é uma pessoa de bem, e por isso nos pediram desculpas", disse ontem Paulo Oliveira à Folha, por telefone.
"As policiais disseram que foi um absurdo ela ter sido atendida apenas por agentes homens. Ela teve ferimentos no corpo todo, até no púbis, e era preciso ter uma mulher para fazer o exame de corpo de delito. Todo o procedimento será reiniciado e as investigações finalmente vão começar", afirmou ele, que teme nova agressão. "Nós não sabemos quem são eles, mas eles sabem quem ela é."
Para Oliveira, a mudança no comportamento da polícia se deve à pressão diplomática depois que o caso foi amplamente divulgado pela imprensa. Na visita a Paula no hospital, as oficiais estavam acompanhadas da cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Cleaver. A diplomata condenou com veemência as especulações divulgadas na imprensa suíça de que a polícia local considera a possibilidade de automutilação. "Não há hipótese. Paula está extremamente ferida. Os cortes não são profundos, mas estão espalhados pelo corpo inteiro", afirmou à Folha.
A diplomata disse que nos contatos oficiais que fez ontem com as autoridades policiais e políticas da Suíça essa hipótese nem sequer foi mencionada. "Há muitas especulações sobre o caso, sobretudo de natureza política. De fato houve uma queixa da Paula sobre a forma como a polícia dirigiu a conversa inicial", disse.
Paula, que havia tido alta do Hospital Universitário de Zurique na terça-feira, voltou a ser internada ontem após se sentir mal. Seu pai diz que, apesar de muito abalada pela tortura, seu estado de saúde é bom e ela conversou com parentes de Recife por telefone. "Ela telefonou para minha mãe, que tem 80 anos, para que ela não se assustasse se visse o caso na televisão", afirmou. Em Recife, os parentes também criticaram a polícia suíça por levantar a hipótese de armação. "Eles insistem na tese da automutilação. Ela teria de ter feito as marcas de letras [SVP, que formam a sigla de partido suíço nacionalista] de ponta-cabeça. É um absurdo", disse à Folha o tio Silvio Oliveira, 54, antes do pedido de desculpas das policiais a Paula, que foi cortada nas pernas, braços, costas e barriga.

Volta ao Brasil
A família da advogada quer que ela se mude de volta para o Brasil. A vinda ao país, marcada para o dia 19, pode ser antecipada se ela estiver em condições de saúde para viajar.
Seu pai, contudo, diz que a estada no Brasil será temporária. "Ela terá que passar por um período de descanso, mas é provável que volte a morar na Suíça. Ela chegou há dois anos, transferida pela empresa [a multinacional dinamarquesa A P Moeler Maersk] para a qual já trabalhava em São Paulo e montou a vida dela por aqui."

Colaboraram MALU DELGADO , enviada especial a Zurique, e MARCO BAHÉ , de Recife


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