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Órgão europeu alertou, em 2004, sobre racismo na Suíça
Segundo a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância, negros e minorias são alvos
Demógrafo da Universidade
de Lisboa afirma que a crise
econômica mundial pode
agravar as manifestações
xenófobas na Europa
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PARIS
Num relatório de 2004, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (Ecri)
alertava para o perigo de atos
racistas na Suíça, especialmente contra pessoas de origem
africana. "Ao que parece, essa
hostilidade [tem origem] na estigmatização que associa as
pessoas negras de origem africana ao tráfico de drogas, crimes e prostituição. Essa estigmatização tem tido um impacto muito negativo no cotidiano
de pessoas negras que vivem na
Suíça", diz trecho do relatório.
A entidade alertava ainda para ataques contra outras minorias étnicas e contra refugiados
políticos que não dominam a
língua alemã.
O documento pedia que as
autoridades suíças reprimissem "com firmeza" as manifestações de racismo e de xenofobia tanto em partidos políticos
quanto em atos individuais.
A brasileira Paula Oliveira,
agredida na noite da última segunda-feira em Dubendorf, pequena cidade a cerca de cinco
quilômetros de Zurique, falava
ao celular em português com a
mãe, que mora no Brasil, no
momento em que foi abordada.
Agravamento
Para Jorge Malheiros, especialista em imigração do Centro de Estudos Geográficos da
Universidade de Lisboa, a crise
econômica mundial pode ser
uma justificativa para o aumento do racismo e da xenofobia na Europa.
"Nessa época de crise, a população imigrante é mais vulnerável. Acredito que possa haver um incremento de atos anti-imigrantes e também o crescimento de um apoio de parte
da opinião pública a políticas
contra a imigração", explica
Malheiros.
No caso dos brasileiros, o demógrafo afirma que são alvos
de uma certa estigmatização
em Portugal, onde a comunidade brasileira é numerosa e visível, e, por extensão, em outros
países europeus.
"Há duas linhas de discriminação que já são algo antigas e
que se mantêm estáveis. Primeiramente, a associação das
mulheres brasileiras à sensualidade fácil e à prostituição. Esse é um estigma bastante forte.
No caso dos homens, a mão-de-obra menos qualificada é associada à figura do "malandro carioca", numa visão negativa, e
de trabalhadores preguiçosos."
No Reino Unido, há uma semana trabalhadores de uma refinaria da companhia francesa
Total fizeram uma greve para
protestar contra a contratação
de empregados não-britânicos.
O ministro do Comércio Peter Mandelson diz não levar em
consideração a razão do protesto. Já Keith Gibson, líder sindical partidário da greve, disse
que era uma questão de "luta de
classes" e não de racismo.
No entanto, como no caso da
brasileira atacada em Zurique,
a hostilidade a estrangeiros pode ganhar contornos violentos.
No dia 1º deste mês em Roma, um morador de rua indiano
de 35 anos foi queimado enquanto dormia perto de uma
estação de trem em Roma. Na
ocasião, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, condenou "com dureza a violência" e prometeu
que as agressões a estrangeiros
serão punidas com rigor.
Ciganos e ilegais
Na França, também em
2004, a Comissão Europeia
contra o Racismo e a Intolerância apontou os problemas em
relação aos imigrantes instalados no país. De acordo com o
Ecri, os "roma" [ciganos] de
países da Europa Central e do
Leste Europeu são alvos de políticas discriminatórias do governo. O Ecri mostrava-se
preocupado com as acusações
de acampamentos de ciganos
sendo "violentamente" destruídos pela polícia.
A ONG SOS Racisme, baseada na França, condena o programa do Ministério da Imigração e da Identidade Nacional
Da França. Em 2008, o ex-ministro da pasta Brice Hortefeux, comemorou o fato de cerca de 30 mil estrangeiros terem
sido expulsos ou deixado voluntariamente a França.
Na Itália, os ciganos, mas
também indianos, paquistaneses e africanos, são elementos
vulneráveis da população estrangeira. Os centros de detenção de imigrantes ilegais são
criticados por ONGs por violarem os direitos humanos ao
prenderem pessoas em condições insalubres. "Hoje estima-se que haja pelo menos 3 milhões de estrangeiros clandestinos na Europa. Eles são os
mais frágeis", avalia Malheiros.
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