São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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SEGURANÇA

Desse grupo, 8 soldados teriam cometido abusos contra moradores do Parque Novo Mundo

Vítimas apontam 10 PMs ao ouvidor

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Ouvidoria da Polícia de São Paulo vai investigar um grupo de dez policiais militares, entre eles dois tenentes, supostamente envolvido em arbitrariedades ocorridas no Parque Novo Mundo, zona norte de São Paulo.
Os nomes foram relacionados ontem pelas supostas vítimas ao ouvidor da polícia, Itajiba Farias Ferreira Cravo. Eles pertenceriam, na época dos abusos, à Força Tática do 5º Batalhão da PM -mesma unidade da qual faziam parte os policiais que mataram o dentista Flávio Ferreira de Sant'Ana, no mês passado, e tentaram forjar provas contra ele- e à 6ª Companhia, que fica no local.
Oito soldados citados foram apontados como autores dos abusos. Os dois tenentes entraram na lista porque, segundo Cravo, estariam fazendo investigações sobre o caso sem autorização, o que também os colocaria sob suspeita.
Entidades de direitos humanos, associações de moradores do Parque Novo Mundo e a Ouvidoria denunciam agressões supostamente praticadas por PMs, invasões de domicílio, tentativas de forjar provas e indícios de assassinatos de adolescentes.
Segundo Cravo, os nomes dos policiais e até números de identificação de carros da polícia supostamente envolvidos em ações irregulares serão encaminhados à Corregedoria da PM. A Ouvidoria da Polícia também está apurando se esses policiais foram alvos de outras denúncias.
Parte dos policiais suspeitos, de acordo com o ouvidor, foi transferida para outro batalhão da PM. "Queremos saber por que isso ocorreu", diz.
O ouvidor também quer saber por que os oficiais foram ao Parque Novo Mundo se a investigação está sendo realizada pela Corregedoria. "Se tivesse um IPM [Inquérito Policial Militar], ele teria sido feito pelo batalhão, e não pela companhia a qual pertencem", afirma Cravo.
Anteontem, quando as denúncias foram publicadas pela primeira vez, um tenente foi até a casa do presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Parque Novo Mundo, Cícero Pinheiro do Nascimento.
Segundo o líder, o oficial queria conversar com ele sobre as denúncias e levá-lo até a 6ª Companhia. De acordo com o ouvidor, o tenente estava acompanhado por um soldado, que também foi apontado pelos moradores como um dos autores dos abusos.
O Movimento Nacional dos Direitos Humanos também vai auxiliar na identificação dos policiais. A entidade está colhendo informações sobre os casos e pretende encaminhar as vítimas para o reconhecimento dos suspeitos na Corregedoria.
Segundo João Frederico dos Santos, coordenador nacional do movimento, o CDDPH (Conselho dos Direitos de Defesa da Pessoa Humana) deve discutir a situação do Parque Novo Mundo na próxima terça-feira.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que a Polícia Militar não compactua com ações de maus policiais e que, se comprovadas as irregularidades, os PMs serão punidos.
Segundo a assessoria de imprensa, a secretaria "colabora com os órgãos de controle externo em todos os casos investigados". Dois inquéritos policiais militares foram instaurados para apurar as mortes de dois adolescentes no Parque Novo Mundo e enviados à Justiça.


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