São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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SEGURANÇA

Distantes quase 30 km de área ocupada pelo Exército, manifestantes protestaram contra ataque a casal no mês passado

Sem tropa, Ipanema faz ato anti-homofobia

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Enquanto moradores da zona oeste protestavam contra a suposta violência do Exército, a primeira passeata em dez dias na zona sul ocorreu ontem, mas sua preocupação era outra: a violência praticada contra homossexuais.
Na favela do Metral, zona oeste, 200 pessoas se manifestaram contra o Exército pela manhã. Reclamavam de constrangimentos de moradores por parte de militares. O Exército negou e apontou a presença no ato de dois traficantes armados, que chegaram a dar tiros para o alto, segundo o Comando Militar do Leste.
Em Ipanema, distante quase 30 km da área ocupada pelas Forças Armadas mais próxima, cerca de 150 pessoas estavam na rua à tarde. Grupos gays e de direitos humanos se reuniram para protestar contra a violência homofóbica.
No dia 25 de fevereiro, um casal de gays foi agredido ao sair da praia por banhistas. Os manifestantes acusam policiais de omissão no caso. "Protestamos aqui no mesmo local para mostrar que nós não vamos fugir. Não podemos ser reféns desse tipo de violência", afirmou Cláudio Nascimento, secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Gays Lésbicas e Transgêneros.
A operação do Exército em favelas do Rio afetou diretamente a rotina de cerca de 200 mil pessoas que moram em áreas onde houve buscas dos fuzis roubados. A presença das Forças Armadas é tema das conversas, mas a maior parte dos mais de 6 milhões de cariocas não viu tanques ou tropas nas ruas, em especial os da zona sul.
Realidade diversa dos moradores do morro da Providência, na zona portuária da cidade. "Este aqui, aquele ali", dizia o menino de três anos, ao arrumar seus pequenos soldados de plástico na entrada do morro. Dez minutos depois, a poucos metros de onde estava, recomeçou a troca de tiros entre traficantes e soldados.
O tiroteio não interrompeu o empreendimento do menino em arrumar os pequenos militares e os dois tanques, também de plástico, que os acompanhavam. "Não me incomodo não, pelo menos esses são de plástico", afirmou a mãe, assistindo à cena e ouvindo os tiros.
A medida que a fronteira das favelas ocupadas se afasta, o ambiente da cidade vai perdendo, aos poucos, o clima de estado de sítio apontado por especialistas.
Na Quinta da Boa Vista, próxima à Mangueira, favela ocupada pela operação do Exército, crianças brincavam com os pais, ontem, sem demonstrar preocupação com a presença dos militares perto dali. "Sentir-se mais seguro a maioria se sente. Só os moradores dos morros ocupados que devem estar sofrendo, infelizmente", disse o industriário Rogério Viana, 55, morador da Tijuca.
Diferentemente de quem vive nas comunidades ocupadas, que relatam a imposição de toque de recolher, a rotina de pessoas que passeavam na orla da praia do Leblon, da lagoa Rodrigo de Freitas, e na Quinta da Boa Vista não mudou. Tanto de quem apóia como dos que são contra a ocupação.
"Não me sinto mais segura, mas o Exército fazendo algo dá uma satisfação ao povo. É um grito de basta", afirma uma moradora do Leblon que preferiu não se identificar. "Meus amigos me criticam. Acham que eu não deveria apoiar o Exército", explica.
Já o deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que participou da manifestação em Ipanema, diz que o Exército tem o direito de buscar as suas armas de volta.
Segundo ele, "é compreensível que as pessoas estejam se sentindo mais segura, devido ao quadro de omissão generalizada". "Dá a sensação de que alguém está fazendo alguma coisa. O central é que as pessoas não querem que uma parte da cidade esteja controlado pelo tráfico de drogas", afirma o deputado.


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