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SEGURANÇA
Distantes quase 30 km de área ocupada pelo Exército, manifestantes protestaram contra ataque a casal no mês passado
Sem tropa, Ipanema faz ato anti-homofobia
ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Enquanto moradores da zona
oeste protestavam contra a suposta violência do Exército, a primeira passeata em dez dias na zona
sul ocorreu ontem, mas sua preocupação era outra: a violência
praticada contra homossexuais.
Na favela do Metral, zona oeste,
200 pessoas se manifestaram contra o Exército pela manhã. Reclamavam de constrangimentos de
moradores por parte de militares.
O Exército negou e apontou a presença no ato de dois traficantes
armados, que chegaram a dar tiros para o alto, segundo o Comando Militar do Leste.
Em Ipanema, distante quase 30
km da área ocupada pelas Forças
Armadas mais próxima, cerca de
150 pessoas estavam na rua à tarde. Grupos gays e de direitos humanos se reuniram para protestar
contra a violência homofóbica.
No dia 25 de fevereiro, um casal
de gays foi agredido ao sair da
praia por banhistas. Os manifestantes acusam policiais de omissão no caso. "Protestamos aqui
no mesmo local para mostrar que
nós não vamos fugir. Não podemos ser reféns desse tipo de violência", afirmou Cláudio Nascimento, secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira
de Gays Lésbicas e Transgêneros.
A operação do Exército em favelas do Rio afetou diretamente a
rotina de cerca de 200 mil pessoas
que moram em áreas onde houve
buscas dos fuzis roubados. A presença das Forças Armadas é tema
das conversas, mas a maior parte
dos mais de 6 milhões de cariocas
não viu tanques ou tropas nas
ruas, em especial os da zona sul.
Realidade diversa dos moradores do morro da Providência, na
zona portuária da cidade. "Este
aqui, aquele ali", dizia o menino
de três anos, ao arrumar seus pequenos soldados de plástico na
entrada do morro. Dez minutos
depois, a poucos metros de onde
estava, recomeçou a troca de tiros
entre traficantes e soldados.
O tiroteio não interrompeu o
empreendimento do menino em
arrumar os pequenos militares e
os dois tanques, também de plástico, que os acompanhavam.
"Não me incomodo não, pelo menos esses são de plástico", afirmou a mãe, assistindo à cena e
ouvindo os tiros.
A medida que a fronteira das favelas ocupadas se afasta, o ambiente da cidade vai perdendo,
aos poucos, o clima de estado de
sítio apontado por especialistas.
Na Quinta da Boa Vista, próxima à Mangueira, favela ocupada
pela operação do Exército, crianças brincavam com os pais, ontem, sem demonstrar preocupação com a presença dos militares
perto dali. "Sentir-se mais seguro
a maioria se sente. Só os moradores dos morros ocupados que devem estar sofrendo, infelizmente", disse o industriário Rogério
Viana, 55, morador da Tijuca.
Diferentemente de quem vive
nas comunidades ocupadas, que
relatam a imposição de toque de
recolher, a rotina de pessoas que
passeavam na orla da praia do Leblon, da lagoa Rodrigo de Freitas,
e na Quinta da Boa Vista não mudou. Tanto de quem apóia como
dos que são contra a ocupação.
"Não me sinto mais segura, mas
o Exército fazendo algo dá uma
satisfação ao povo. É um grito de
basta", afirma uma moradora do
Leblon que preferiu não se identificar. "Meus amigos me criticam.
Acham que eu não deveria apoiar
o Exército", explica.
Já o deputado estadual Carlos
Minc (PT-RJ), que participou da
manifestação em Ipanema, diz
que o Exército tem o direito de
buscar as suas armas de volta.
Segundo ele, "é compreensível
que as pessoas estejam se sentindo mais segura, devido ao quadro
de omissão generalizada". "Dá a
sensação de que alguém está fazendo alguma coisa. O central é
que as pessoas não querem que
uma parte da cidade esteja controlado pelo tráfico de drogas",
afirma o deputado.
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