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MARIA INÊS DOLCI
Balas perdidas contra o consumidor
Pais e mães não podem sequer garantir que seus filhos não sejam atingidos por tiros de armas das Forças Armadas
IRONIA das ironias, o CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu, alguns dias antes da semana do consumidor -comemora-se
neste 15 de março o Dia Internacional do Consumidor-, reduzir o rendimento das cadernetas de poupança e, por tabela, do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço).
Esse é um exemplo escolhido para
mostrar como os direitos do consumidor, do cidadão, do eleitor e do
contribuinte são desrespeitados
nesse Brasil de capitanias hereditárias com acesso à internet.
O CDC (Código de Defesa do Consumidor), guarda-chuva que abriga
todas as ações em prol dos cidadãos
quando estabelecem relações de
consumo, completa 16 anos, é avançadíssimo e uma das poucas leis que
pegaram por aqui.
Mas não é nada fácil a vida daqueles que se dedicam a lutar contra todo o tipo de fraude, picaretagem e
crimes de consumo, quando o péssimo exemplo vem de cima. E um dos
baluartes de tais abusos, lamentavelmente, é o CMN, com o beneplácito do Banco Central. Até recentemente, os bancos se esquivavam de
obedecer ao CDC, com o auxílio luxuoso do BC.
Essa sopa de letrinhas CDC,
CMN, BC não esconde absurdos que
sofremos, todos, quando, do lado de
lá da mesa, o oponente é um banco
ou outra instituição financeira.
Não são os únicos, contudo. As
empresas de telefonia também pintam e bordam, relutando até o último fio de cabelo em oferecer, por
exemplo, uma conta mensal detalhada para seus pacientes, digo,
clientes. A prestação de serviços para acesso à internet merece destaque...negativo. É um lixo, pois começa bem e vai caindo de qualidade,
não importa o prestador.
O atendimento nos SACs dos planos de saúde também merece uma
nota vermelha, bem como a constante troca para menos de médicos e
recursos.
Agora, em termos de serviços ordinários, dignos de repetir de ano,
ninguém supera a área pública. Qual
o serviço prestado por governos federal, estaduais ou municipais merece uma nota 5, que seja? Na verdade, os governos só se destacam na
hora de criar, aumentar e arrecadar
impostos dos pobres à classe média.
Dos ricos, bem, a história é diferente, pois estão escudados por excelentes advogados, tributaristas etc.
Pais e mães não podem sequer garantir que seus filhos não sejam
atingidos por balas perdidas à luz do
sol, em cidades como São Paulo e
Rio de Janeiro, com armas de uso
exclusivo das Forças Armadas.
Isso não reduz a importância do
CDC, pois quantas leis que beneficiam o consumidor estão em vigor
hoje? E o Código é o resultado de todos os que lutam, diariamente, pela
cidadania, também nas relações de
consumo.
Evoluímos, sim, enormemente,
na conscientização dos brasileiros,
de que temos direitos e de que devemos cobrá-los como consumidores
que mantemos a roda da economia
girando. Essa ficha, entretanto, ainda não caiu nos palácios do Executivo, Legislativo e Judiciário de todo o
Brasil. Esperemos que isso não
ocorra somente daqui a uns 16 anos,
quando o Código de Defesa do Consumidor, de adolescente, se tornar
um balzaquiano.
NA INTERNET
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br/
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