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Demissão do presidente causa crise no Condephaat
15 conselheiros colocaram o cargo à disposição por considerar decisão autoritária
Destituição de Carlos Dêgelo foi determinada pela Secretaria da Cultura;
pasta diz que governo busca novo padrão para o órgão
MARIO CESAR CARVALHO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A destituição do presidente
do Condephaat (Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e
Turístico), Carlos Dêgelo, na
última sexta-feira, provocou
uma crise no órgão paulista que
cuida do patrimônio histórico.
Quinze conselheiros colocaram o cargo à disposição ontem. Todos consideram que a
demissão, determinada pela
Secretaria de Estado da Cultura, foi feita de "maneira autoritária". Dêgelo ficou 161 dias no
cargo.
O Condephaat é o órgão que
julga se o Masp pode levantar
uma torre num prédio tombado (aprovado) ou se a Faap
(Fundação Armando Álvares
Penteado) pode construir prédios num bairro tombado como
o Pacaembu (reprovado).
A crítica mais dura à demissão partiu de Ulpiano Bezerra
de Meneses, professor do departamento de História da USP
e vice-presidente do Condephaat. "Trata-se da primeira
vez que isto ocorre na já longa
história do órgão, aí incluídos
os tempos negros da ditadura",
diz Meneses em carta ao secretário da Cultura do Estado,
João Sayad, em que solicita o
desligamento da função de vice-presidente do conselho.
Menezes frisa no documento
que não questiona a legalidade
do ato nem a escolha do novo
presidente. "Questiono o que
este fato representa como
afronta à própria idéia de políticas públicas, em que jogos de
salão ocupam o lugar de programas, pagando o seu tributo à
praga irremovível da cultura
política brasileira, que insiste
em interromper os programas
e a ação de seus gestores, por
mais qualificados que sejam, a
cada mudança de governo."
Adilson Avansi de Abreu,
professor do departamento de
Geografia da USP, foi escolhido
como novo presidente do conselho. Ele foi diretor do MAE
(Museu de Arqueologia e Etnologia) da USP e pró-reitor de
cultura e extensão universitária da mesma universidade.
O secretário-adjunto da Cultura, Ronaldo Bianchi, disse
que o governo busca um novo
padrão de serviços para o Condephaat: "Não estávamos contentes com o serviço que o Condephaat presta à sociedade há
12 anos". Foi por isso, afirma,
que a secretaria buscou um
presidente que reunisse três
qualidades: densidade acadêmica, conhecimento da área e
liderança.
O Condephaat tem um processo que aguarda uma decisão
do conselho desde 1978. Em julho de 2006, o órgão prometeu
um site para o mês seguinte,
mas ele nunca entrou no ar.
A Secretaria da Cultura julgou que o plano de Dêgelo para
o setor era "um quase nada", segundo a Folha apurou.
O que desagradou os conselheiros foi que o presidente
tentava, na visão deles, resolver
a inoperância do órgão. "A demissão foi autoritária. Nos últimos quatro meses, o Condephaat trabalhou mais do que
nos últimos dois anos", diz a
historiadora Silvana Rubino,
que representa a Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) no conselho.
A arqueóloga Silvia Maranca,
representante do MAE no conselho do Condephaat, dizia estar "em estado de choque" com
a demissão. "Estou no Condephaat desde 1992 e nunca vi nada parecido. Estávamos iniciando uma fase produtiva e
democrática", afirma.
A secretaria nomeou duas
novas representantes para o
conselho: arquiteta Regina Meyer, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), e a arquiteta Juliana Prata.
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