Confronto entre policiais e mototaxistas ocorreu durante protesto pela morte, no sábado, de Jakson Vieira da Silva, no Rio

Moradores do complexo do Alemão afirmam que jovem foi executado pela polícia; corporação nega e diz que bala perdida o matou

SERGIO TORRES
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um carro da Polícia Militar atropelou ontem, de modo proposital, pelo menos dez motocicletas estacionadas na pista em frente ao cemitério de Inhaúma (zona norte), antes do enterro do mototaxista Jakson Vieira da Silva.
Ele foi morto no sábado a tiros, segundo colegas e familiares, por policiais. A PM, porém, nega a versão e diz que ele foi vítima de uma bala perdida.
As motos foram usadas em um protesto organizado por cerca de 150 mototaxistas que trabalham no complexo de favelas do Alemão. Silva tinha 26 anos e havia um ano trabalhava como mototaxista na região.
Antes de o Gol do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar) atingir as motos, um policial militar atirou para o alto com um fuzil, na tentativa de acabar com o protesto. Houve confronto. Os policiais apontaram armas para os manifestantes, que não recuaram e atiraram pedras. A polícia também agrediu com cassetetes as pessoas que estavam por perto.
Informado do episódio, o governador Sérgio Cabral (PMDB) disse que, se houve truculência, os policiais serão punidos. "Repudio qualquer tipo de truculência por parte da polícia. Já fui vítima de violência na juventude e sei bem o que é isso. É inadmissível."
Segundo o governador, caberá ao secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame identificar os policiais que "cometeram truculência com cidadãos de bem".

Motos danificadas
Três donos de motos avariadas pelo carro da PM deram queixa na 44ª Delegacia. Primo da vítima, Fábio do Nascimento, 26, teve a moto danificada. Ele disse que Silva foi morto a sangue-frio ao não parar, na noite de sábado, em uma abordagem de um PM.
Nascimento afirmou que o primo passava próximo ao Alemão quando foi abordado. Na sua garupa, estava um passageiro. Um policial, do 22º BPM, teria atirado. O passageiro foi baleado nas costas e está em estado grave no hospital de Bonsucesso (zona norte). Silva levou um tiro no pé e tentou correr para a vila olímpica do local, onde teria recebido o tiro fatal.
A PM afirmou ontem que Silva morreu ao ser atingido por uma bala perdida. O comandante da corporação, coronel Ubiratan Ângelo, disse que o rapaz estava atrás dos policiais que naquele momento trocavam tiros com traficantes. Disse ainda que os PMs o socorreram. Segundo o comandante, as imagens do atropelamento das motos serão analisadas pela Corregedoria.
A Folha conversou ontem, no complexo do Alemão, com mototaxistas que estiveram no cemitério. Eles se queixaram de agressões e ofensas.


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