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JOÃO CALIXTO DA SILVA (1949-2009)
O Calixtão do assentamento de Sumaré
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Naquele pedaço de Sumaré (SP), onde havia um horto
florestal, só dava eucalipto. O
Estado, dono da área, certa
vez a arrendou a uma usina,
que cobriu um trecho com
cana. Para alguns, o local servia para desmanchar carros.
Morador da região, João
Calixto da Silva era neto de
escravos, analfabeto e trabalhava carregando sacos de cimento nas costas. Certo dia,
perdeu o emprego.
Religioso, foi num círculo
bíblico que ouviu o padre falar da "terra prometida".
Funcionou como estopim,
conta o filho Hilário. "O padre dizia: "Vocês vão ficar aí
de braços cruzados?"
João, muito ativo, uniu-se
a outros trabalhadores e saiu
em busca de terra. Foram
despejados em Araras e Araraquara (SP). "Quando a polícia chegava, eles rezavam
em volta da cruz e saíam, pacificamente", diz o filho.
A terra prometida chegou
em 1984: num acordo entre o
grupo e o governo Montoro,
o chão em Sumaré que só conhecia eucaliptos ganhou arroz, feijão e mandioca. Com o
tempo, o assentamento se
tornou modelo reconhecido
pelo Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado).
Calixtão, como era chamado, recebia os visitantes e dava palestras sobre o assentamento, cuja maior produção
é hoje de bananas. Dizia que
Jesus Cristo "era vermelho".
Recentemente, frequentava um curso de alfabetização
para adultos. Morreu anteontem, aos 59, de problemas cardíacos. Tinha o título
de cidadão sumareense. Deixa seis filhos e três netos.
obituario@grupofolha.com.br
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