São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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JOÃO CALIXTO DA SILVA (1949-2009)

O Calixtão do assentamento de Sumaré

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Naquele pedaço de Sumaré (SP), onde havia um horto florestal, só dava eucalipto. O Estado, dono da área, certa vez a arrendou a uma usina, que cobriu um trecho com cana. Para alguns, o local servia para desmanchar carros. Morador da região, João Calixto da Silva era neto de escravos, analfabeto e trabalhava carregando sacos de cimento nas costas. Certo dia, perdeu o emprego.
Religioso, foi num círculo bíblico que ouviu o padre falar da "terra prometida". Funcionou como estopim, conta o filho Hilário. "O padre dizia: "Vocês vão ficar aí de braços cruzados?" João, muito ativo, uniu-se a outros trabalhadores e saiu em busca de terra. Foram despejados em Araras e Araraquara (SP). "Quando a polícia chegava, eles rezavam em volta da cruz e saíam, pacificamente", diz o filho.
A terra prometida chegou em 1984: num acordo entre o grupo e o governo Montoro, o chão em Sumaré que só conhecia eucaliptos ganhou arroz, feijão e mandioca. Com o tempo, o assentamento se tornou modelo reconhecido pelo Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado). Calixtão, como era chamado, recebia os visitantes e dava palestras sobre o assentamento, cuja maior produção é hoje de bananas. Dizia que Jesus Cristo "era vermelho".
Recentemente, frequentava um curso de alfabetização para adultos. Morreu anteontem, aos 59, de problemas cardíacos. Tinha o título de cidadão sumareense. Deixa seis filhos e três netos.

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