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Muros que limitam favelas dividem opiniões no Rio
Datafolha mostra empate técnico entre os que apoiam (47%) e os que são contra (44%)
Divisão entre apoiadores e críticos se repete também entre moradores de favelas; governo do Estado diz que quer proteger áreas verdes
DA SUCURSAL DO RIO
Os muros que o governo do
Estado do Rio está construindo
para cercar 11 favelas da zona
sul dividem a cidade. Mas, desta vez, não se trata de um racha
na opinião entre pobres e ricos
ou entre moradores de áreas
nobres e carentes.
No morro, no asfalto, em grupos de maior ou menor poder
aquisitivo, o Datafolha revela
que praticamente metade da
população é a favor da iniciativa de cercar as favelas, enquanto a outra metade se opõe.
O argumento do Estado é de
que é preciso conter a expansão
de moradias irregulares em
áreas de vegetação e que o objetivo da construção não é segregar os moradores de favelas.
A medida, no entanto, causou polêmica. Até o escritor
português José Saramago criticou a iniciativa em seu blog,
comparando os muros do Rio
aos de Berlim e Palestina.
Na pesquisa, 47% dos cariocas posicionaram-se a favor da
construção dos muros. Outros
44% declararam-se contrários.
Foram feitas 644 entrevistas.
Como a margem de erro da
pesquisa -que foi a campo entre os dias 8 e 9 deste mês- é de
quatro pontos percentuais, trata-se de um empate técnico. O
empate técnico persiste até
quando se investiga a opinião
apenas de moradores de favelas, com 47% apoiando a iniciativa e 46% contrários.
O mesmo se verifica no caso
dos que vivem longe de favelas
(44% a favor e 46% contra).
Apenas entre os moradores de
áreas próximas a favelas há
uma diferença maior de opinião, mesmo assim, de apenas
dez pontos percentuais (50%
favoráveis e 40% contrários).
No morro Dona Marta, uma
das favelas que ganhará muros,
as opiniões também se dividem. "Se você perguntar ao
morador aqui, ele nem sabe onde está esse muro. Para nós é
indiferente", diz José Mário
Hilário, presidente da associação dos moradores.
Já Juan Silva, também morador, tem posição mais crítica.
"O muro não foi proposto pelos
moradores, foi imposto."
O morro Dona Marta é vizinho de uma floresta.
Ricos e pobres
A análise dos números do
Datafolha pelo recorte de renda
mostra que, entre os mais ricos
(renda mensal familiar superior a dez salários mínimos), o
percentual dos que se declararam contra o muro (50%) é
maior que o verificado entre
mais pobres (39%), que recebem até dois salários mínimos.
Os cariocas só começam a
mostrar mais concordância
quando confrontados com algumas afirmações a respeito do
resultado prático da construção dos muros.
Para 67%, eles vão ajudar a
conter a expansão de moradias
irregulares em áreas de vegetação. Também 60% dizem discordar da afirmação de que eles
separarão ricos e pobres.
Para construir os muros, o
governo prevê inicialmente investir R$ 40 milhões para erguer 11 quilômetros de paredões, de três metros de altura,
em 11 favelas da zona sul, a área
mais nobre da cidade.
O governador Sérgio Cabral
ainda não falou publicamente
sobre o assunto desde que ele
veio à tona. Pouco mais de 50
metros dos 634 previstos já foram erguidos no morro Dona
Marta, em Botafogo, ao longo
de aproximadamente um mês.
Todas as áreas escolhidas,
conforme levantamento do
Instituto Pereira Passos, cresceram, em área, abaixo da média em comparação às demais
comunidades.
No Dona Marta, por exemplo, houve redução de 0,99% do
terreno ocupado. O governo estadual alega que, apesar da estabilidade da ocupação dessas
favelas, é preciso evitar que os
moradores ergam construções
em áreas de risco.
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