São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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A FAVOR

Os muros verdes

ÍCARO MORENO JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Responsável pela execução das obras de construção dos muros no entorno de favelas do Rio, tenho acompanhado com atenção as manifestações sobre os "ecolimites", erguidos como proteção de nossos ecossistemas. E faço essa minha leitura indistintamente, dando valor igual a todas as opiniões, venham elas de moradores de comunidades, de cartas de leitores em jornais ou de intelectuais, escritores famosos.
Contabilizando as opiniões, verifico que o índice de aprovação é de mais de 80%. E com argumentos de quem conhece a nossa cidade e teme pelo pior se não forem adotadas medidas urgentes para conter a expansão de nossas favelas, em encostas. Entre as opiniões contrárias, de letrados, vejo comparações dos "ecolimites" com os muros de Berlim ou da Palestina e ilações de que praticamos cruel segregação.
O programa apenas cumpre a lei 11.428/2006, que proíbe a supressão da vegetação primária do bioma mata atlântica para fins de loteamento ou edificação nas regiões metropolitanas e urbanas. Aqui no Rio, fator decisivo para essa ampliação do desmatamento é a taxa de crescimento de favelas, cuja área de ocupação cresceu 7% de 1999 a 2008, uma expansão de 3 milhões de metros quadrados, equivalente a Ipanema.
Os "ecolimites" existentes se mostraram ineficientes em alguns pontos, exigindo a construção de barreiras, mas não se espera que só a construção dos muros resolva os problemas sociais e urbanos do Rio.
O que o Estado espera é que essa medida sirva de proteção a um bioma ameaçado e permita trabalhos como o do morro Dona Marta. Lá, com a ajuda de um censo que permitiu conhecer toda a comunidade, será possível não ter mais moradias em áreas de risco e garantir a acessibilidade para todos.
Assim, como rotular de segregacionista um programa que, além de proteger o ecossistema, permite reduzir desigualdades sociais com ações como as que executamos no Dona Marta e vamos estender a outras favelas, inclusive nas zonas norte e oeste? Prefiro cultivar em meu imaginário -e creio também que os 80% favoráveis- um muro verde, capaz de pôr fim a uma situação criada por governos que nada fizeram, a cultivar fantasmas de muros que aqui nunca existiram.

ÍCARO MORENO JÚNIOR é diretor-presidente da EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro).


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