|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A FAVOR
Os muros verdes
ÍCARO MORENO JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Responsável pela execução
das obras de construção dos
muros no entorno de favelas do
Rio, tenho acompanhado com
atenção as manifestações sobre
os "ecolimites", erguidos como
proteção de nossos ecossistemas. E faço essa minha leitura
indistintamente, dando valor
igual a todas as opiniões, venham elas de moradores de comunidades, de cartas de leitores em jornais ou de intelectuais, escritores famosos.
Contabilizando as opiniões,
verifico que o índice de aprovação é de mais de 80%. E com argumentos de quem conhece a
nossa cidade e teme pelo pior se
não forem adotadas medidas
urgentes para conter a expansão de nossas favelas, em encostas. Entre as opiniões contrárias, de letrados, vejo comparações dos "ecolimites" com
os muros de Berlim ou da Palestina e ilações de que praticamos cruel segregação.
O programa apenas cumpre a lei 11.428/2006, que proíbe a
supressão da vegetação primária do bioma mata atlântica para fins de loteamento ou edificação nas regiões metropolitanas e urbanas. Aqui no Rio, fator decisivo para essa ampliação do desmatamento é a taxa
de crescimento de favelas, cuja
área de ocupação cresceu 7% de
1999 a 2008, uma expansão de
3 milhões de metros quadrados, equivalente a Ipanema.
Os "ecolimites" existentes se
mostraram ineficientes em alguns pontos, exigindo a construção de barreiras, mas não se
espera que só a construção dos
muros resolva os problemas sociais e urbanos do Rio.
O que o Estado espera é que
essa medida sirva de proteção a
um bioma ameaçado e permita
trabalhos como o do morro Dona Marta. Lá, com a ajuda de
um censo que permitiu conhecer toda a comunidade, será
possível não ter mais moradias
em áreas de risco e garantir a
acessibilidade para todos.
Assim, como rotular de segregacionista um programa
que, além de proteger o ecossistema, permite reduzir desigualdades sociais com ações como as que executamos no Dona
Marta e vamos estender a outras favelas, inclusive nas zonas
norte e oeste? Prefiro cultivar
em meu imaginário -e creio
também que os 80% favoráveis- um muro verde, capaz de
pôr fim a uma situação criada
por governos que nada fizeram,
a cultivar fantasmas de muros
que aqui nunca existiram.
ÍCARO MORENO JÚNIOR é diretor-presidente
da EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado
do Rio de Janeiro).
Texto Anterior: Contra: Muro ou trincheira? Próximo Texto: Moacyr Scliar: O pombo inconfiável Índice
|