São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2011

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Corpo fica 7 horas em frente a hospital

Segundo testemunha, morador de rua chegou ao local às 15h de anteontem e passou a noite na calçada, onde morreu

Não há relatos de que ele tenha pedido ajuda; episódio ocorreu no centro de São Paulo e foi visto por crianças


VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

É meio dia. Um bando de crianças passa pela rua Victorino Carmillo, na Barra Funda, rumo à escola. Se surpreendem com o corpo estendido sobre a calçada, coberto por um lençol branco.
O corpo está ali pelo menos desde às 8h, horário aproximado em que a PM foi acionada, em frente a um pronto-socorro gerido pela Santa Casa de Misericórdia e na quadra seguinte a um posto de saúde municipal.
No local, PMs dizem esperar pelo IML desde às 9h30. Os homens do Instituto Médico Legal só chegam às 14h30 para levar o cadáver.
Segundo o porteiro do prédio em frente, Gilvan José dos Santos, 34, o homem, identificado como Damião Barbosa da Silva, 64, estava às 15h sentado em frente ao pronto-socorro Barra Funda, que é 24 horas. Santos diz ter visto o homem depois, por volta das 17h, sentado na calçada do prédio em frente, onde passou a noite e morreu.
"Uma outra vez um homem estava passando mal em frente e ninguém do pronto-socorro queria pegar ele", afirma o porteiro.
"Se tem alguém passando mal aqui na rua, o pessoal do pronto-socorro diz que é para a gente levar para dentro, que eles não vão pegar porque está na rua", diz Clarisse Di Pierro Ortiz, 70, moradora do prédio em frente ao qual Damião morreu ontem.
Ismael Gomes, também porteiro, diz que conversou com o homem por volta das 18h da segunda. Disse que ele estava sentado, meio quieto e "descorado", e que era um morador de rua.
A ocorrência foi registrada como morte suspeita e será investigada pela polícia, segundo a Secretaria de Segurança Pública. A causa da morte só será conhecida após a emissão do laudo do IML, que deve ocorrer em 30 dias.
Em 26 de outubro do ano passado o pedreiro Vilmar Camargo dos Santos, 47, morreu no mesmo quarteirão local que Damião. Ele não foi atendido pela AMA Santa Cecília e morreu a poucos passos do Pronto Socorro Municipal Álvaro Dino de Almeida, sem ser socorrido.
Na época, a Secretaria Municipal da Saúde abriu uma sindicância para apurar se houve omissão de socorro. Mais de cinco meses depois, essa sindicância ainda não foi concluída.


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