São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2011

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ANÁLISE

Custa crer, mas porta de hospital é terra de ninguém

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Custa crer, mas a porta de um hospital é de fato terra de ninguém. As rotinas de atendimento não costumam antecipar a necessidade de apanhar o paciente na rua, e algumas chefias interpretam a ausência de previsão como proibição, que pode ser implementada a ferro e fogo.
Alegam, não sem fundamento, que, se algo acontecer no trajeto entre a rua e o pronto-socorro, o funcionário que faz o transporte é que seria responsabilizado.
Pelo manual, caberia ao Samu realizar a transferência do paciente, mas este serviço muitas vezes alega -e com razão- que tem prioridades que não carregar para as dependências do hospital alguém que já está à sua porta.
No fundo, o que temos aqui é o dilema essencial da burocracia. Se, de um lado, sistemas dependem de rotinas e padronizações para funcionar bem, de outro, a aplicação mecânica e irrefletida de regras (mesmo as razoáveis) pode engendrar verdadeiros absurdos, como deixar um paciente grave sem atendimento.
O problema não se limita a hospitais. A melhor receita para produzir o pior dos mundos é aplicar com máximo zelo todas as leis vigentes. Um exemplo: no trabalho, um colega se queixa de dor de cabeça. Solícito, você lhe dá uma daqueles anti-inflamatórios que guarda na gaveta. Bem, você acaba de violar os artigos 280 do Código Penal (medicamento em desacordo com receita médica) e 281 (exercício ilegal da medicina ou arte farmacêutica). Pelo primeiro, pode pegar até três anos de detenção, pelo segundo, até dois.

BOM SENSO
A solução para evitar esse tipo de paradoxo, além de rever e aprimorar continuamente os protocolos, é deixar que as pessoas usem o seu bom senso. Embora alguns desastres já tenham sido cometidos em nome do bom senso, na média ele mais acerta do que erra.
Essa pelo menos foi a aposta da natureza, ao dotar os mamíferos, em especial os seres humanos, de cérebros capazes de comportamento flexível, isto é, de responder de forma diferente a diferentes situações.


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