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MORADIA
No Rio, os líderes racharam; em São Paulo, argumenta-se que medo de repressão policial afugentou manifestantes
Fracassa protesto nacional dos sem-teto
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
Acabou em melancolia o Dia
Nacional de Luta pela Moradia,
marcado para ontem pelas lideranças do movimento dos sem-teto. Contabilizando o baixo índice de adesão às manifestações e
invasões programadas em todo o
país, os dirigentes tentavam, à tarde, entender o que deu errado.
Apenas em Recife e em Salvador,
onde aconteceram invasões, as
atividades dos sem-teto conseguiram chamar a atenção.
Em São Paulo, não ocorreu uma
única invasão. Uma passeata pela
avenida Paulista, que os organizadores esperavam contar com
4.000 participantes, teve de se haver com minguados 400.
A presidente da seção paulista
da Central dos Movimentos Populares, Maria das Graças Xavier,
39, arrisca uma explicação: "As
organizações de sem-teto não se
mobilizaram como deveriam, não
houve adesão da Central Única
dos Trabalhadores [CUT] e acho
que as ameaças de repressão, feitas pelo governador Geraldo
Alckmin, intimidaram as pessoas
inexperientes em ocupações".
Até as 23h de anteontem, as lideranças paulistas ainda mantinham o plano de invadir um terreno no centro de São Paulo.
Quando contaram o número de
invasores de que dispunham para
a ação (pouco mais de 70, reunidos no largo de São Francisco,
também no centro de São Paulo),
não restou às lideranças outro caminho que desistir.
A invasão transformou-se numa "Vigília em Solidariedade a
Gegê", em referência ao líder sem
teto Luiz Gonzaga da Silva, preso
desde o dia 5 de abril, acusado de
co-autoria em um homicídio
ocorrido há dois anos. O movimento alega que Silva é vítima de
perseguição política e pede a libertação dele.
Ainda em solidariedade a Silva,
as lideranças tentaram realizar
uma outra vigília, a partir das 13h
de ontem, em frente à 1ª Vara do
Tribunal do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda. No local, o
próprio dirigente preso estava
prestando depoimento sobre a
acusação. Apenas cem correligionários compareceram.
Na avenida Paulista foi onde a
fraqueza da mobilização escancarou-se. Dos 4.000 participantes
esperados, compareceram 400.
Defronte à Caixa Econômica Federal (CEF), um grupo foi recebido pelo superintendente em São
Paulo, Augusto Bandeira Vargas.
Entre as reivindicações dos manifestantes, está a mudança das regras de financiamento da casa
própria, visando ao atendimento
de famílias de baixa renda.
No Rio de Janeiro, um racha na
organização dos sem-teto impediu o encaminhamento do Dia
Nacional de Luta. Em Belo Horizonte, apenas 50 integrantes da
UNMP (União Nacional pela Moradia Popular) saíram em passeata da praça da Assembléia até
uma agência da Caixa Econômica
Federal, onde se manifestaram
com bandeiras e apitos.
Invasões
Bem mais animados estavam
ontem dirigentes do Nordeste.
Em Recife (PE), o Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST),
de tendência mais esquerdista, invadiu três terrenos e um casarão.
Houve ainda um protesto em
frente ao centro administrativo da
CEF. Não foram registrados confrontos com a Polícia Militar.
Os três terrenos invadidos estão
localizados na capital, em Paulista
(região metropolitana) e em
Itambé (80 km de Recife). O casarão tomado fica na cidade de Cabo de Santo Agostinho, também
na região metropolitana.
Em Salvador (BA), os sem-teto
invadiram ontem cinco locais:
três prédios, uma antiga fábrica
de gelo e um depósito do Ministério da Fazenda.
Apesar da chuva que atingiu a
capital baiana durante toda a manhã, cerca de 500 sem-teto fizeram uma manifestação pelas
principais ruas da periferia e do
centro de Salvador.
Quando passavam pela Calçada
(cidade baixa), os manifestantes
derrubaram o portão de entrada
de uma antiga fábrica de gelo.
Menos de um quilômetro à
frente, uma nova invasão -um
depósito do Ministério da Fazenda. "Queremos chamar a atenção
das autoridades federais para o
nosso problema. Falar é muito fácil, o que nós queremos é ver o
discurso sair do papel", disse Pedro Cardoso, 42, o principal líder
dos sem-teto da Bahia.
No começo da noite, mais três
prédios foram invadidos. Em cada edifício, 40 famílias (cerca de
120 pessoas) ocuparam todas as
instalações.
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