São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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MORADIA

No Rio, os líderes racharam; em São Paulo, argumenta-se que medo de repressão policial afugentou manifestantes

Fracassa protesto nacional dos sem-teto

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA

Acabou em melancolia o Dia Nacional de Luta pela Moradia, marcado para ontem pelas lideranças do movimento dos sem-teto. Contabilizando o baixo índice de adesão às manifestações e invasões programadas em todo o país, os dirigentes tentavam, à tarde, entender o que deu errado. Apenas em Recife e em Salvador, onde aconteceram invasões, as atividades dos sem-teto conseguiram chamar a atenção.
Em São Paulo, não ocorreu uma única invasão. Uma passeata pela avenida Paulista, que os organizadores esperavam contar com 4.000 participantes, teve de se haver com minguados 400.
A presidente da seção paulista da Central dos Movimentos Populares, Maria das Graças Xavier, 39, arrisca uma explicação: "As organizações de sem-teto não se mobilizaram como deveriam, não houve adesão da Central Única dos Trabalhadores [CUT] e acho que as ameaças de repressão, feitas pelo governador Geraldo Alckmin, intimidaram as pessoas inexperientes em ocupações".
Até as 23h de anteontem, as lideranças paulistas ainda mantinham o plano de invadir um terreno no centro de São Paulo. Quando contaram o número de invasores de que dispunham para a ação (pouco mais de 70, reunidos no largo de São Francisco, também no centro de São Paulo), não restou às lideranças outro caminho que desistir.
A invasão transformou-se numa "Vigília em Solidariedade a Gegê", em referência ao líder sem teto Luiz Gonzaga da Silva, preso desde o dia 5 de abril, acusado de co-autoria em um homicídio ocorrido há dois anos. O movimento alega que Silva é vítima de perseguição política e pede a libertação dele.
Ainda em solidariedade a Silva, as lideranças tentaram realizar uma outra vigília, a partir das 13h de ontem, em frente à 1ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda. No local, o próprio dirigente preso estava prestando depoimento sobre a acusação. Apenas cem correligionários compareceram.
Na avenida Paulista foi onde a fraqueza da mobilização escancarou-se. Dos 4.000 participantes esperados, compareceram 400. Defronte à Caixa Econômica Federal (CEF), um grupo foi recebido pelo superintendente em São Paulo, Augusto Bandeira Vargas. Entre as reivindicações dos manifestantes, está a mudança das regras de financiamento da casa própria, visando ao atendimento de famílias de baixa renda.
No Rio de Janeiro, um racha na organização dos sem-teto impediu o encaminhamento do Dia Nacional de Luta. Em Belo Horizonte, apenas 50 integrantes da UNMP (União Nacional pela Moradia Popular) saíram em passeata da praça da Assembléia até uma agência da Caixa Econômica Federal, onde se manifestaram com bandeiras e apitos.

Invasões
Bem mais animados estavam ontem dirigentes do Nordeste. Em Recife (PE), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), de tendência mais esquerdista, invadiu três terrenos e um casarão. Houve ainda um protesto em frente ao centro administrativo da CEF. Não foram registrados confrontos com a Polícia Militar.
Os três terrenos invadidos estão localizados na capital, em Paulista (região metropolitana) e em Itambé (80 km de Recife). O casarão tomado fica na cidade de Cabo de Santo Agostinho, também na região metropolitana.
Em Salvador (BA), os sem-teto invadiram ontem cinco locais: três prédios, uma antiga fábrica de gelo e um depósito do Ministério da Fazenda.
Apesar da chuva que atingiu a capital baiana durante toda a manhã, cerca de 500 sem-teto fizeram uma manifestação pelas principais ruas da periferia e do centro de Salvador.
Quando passavam pela Calçada (cidade baixa), os manifestantes derrubaram o portão de entrada de uma antiga fábrica de gelo.
Menos de um quilômetro à frente, uma nova invasão -um depósito do Ministério da Fazenda. "Queremos chamar a atenção das autoridades federais para o nosso problema. Falar é muito fácil, o que nós queremos é ver o discurso sair do papel", disse Pedro Cardoso, 42, o principal líder dos sem-teto da Bahia.
No começo da noite, mais três prédios foram invadidos. Em cada edifício, 40 famílias (cerca de 120 pessoas) ocuparam todas as instalações.


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