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Rastro de veneno pode ter sido invisível a análise
DA REPORTAGEM LOCAL
A análise feita pelo IC -como a
esmagadora maioria dos testes
quantitativos- tem limite de detecção. Isso significa que o método só consegue identificar a presença do monofluoracetato de sódio nas amostras de isca e comida
se o veneno lá estiver em determinadas concentrações.
No caso específico, os peritos
verificaram que só conseguiriam
detectar a substância com 95% de
certeza se ela estivesse presente
nas amostras nas seguintes concentrações -8 mg por grama de
isca; 5 mg/ml de água e 13 mg/g de
fruta. Resultado: não estava.
Isso significa que nas amostras
não havia monofluoracetato em
concentrações iguais ou superiores às descritas acima. E abaixo?
"Você está perguntando se é
possível, num nível de detecção
menor do que o nosso, haver uma
concentração tal de monoflúor
que pudesse levar à morte um
animal que comesse muito daquilo? Sim, é possível. Mas é muito
improvável", afirma a perita Alessandra Pereira da Silva, 31, uma
das três que assinam o laudo.
Silva diz ainda que também seria possível reduzir o limite de detecção da análise. O investimento
de tempo e dinheiro, no entanto,
segundo ela, seria desproporcional ao resultado a obter.
"A gente nunca iria afastar 100%
a hipótese [de as amostras analisadas estarem envenenadas],
mas, no material encaminhado,
posso garantir com quase 100%
de certeza que não há veneno. Isso não significa que não tenha havido envenenamento por essa via.
Afinal, se as amostras estão conosco, é porque sobraram. Essas
não mataram ninguém", diz Osvaldo Negrini Neto, 54, diretor do
centro de análises do IC.
Para os peritos, é "possível",
mas não é "razoável" que alguém
com intenção de matar os animais tenha adicionado o veneno a
iscas ou alimentos em uma concentração menor do que detectável pelo teste e ainda de forma homogênea -com a mesma concentração em toda a comida, por
exemplo.
"Mesmo com um limite muito
menor [de detecção], eu tenho
certeza de que a gente não pegaria
nada. É impressão de quem virou
várias noites trabalhando nessa
análise. Mas academicamente eu
não posso dizer isso", diz Silva.
O laudo, porém, não inclui a
convicção pessoal da perita. Nele,
tudo que o IC pode garantir é que
não há veneno acima dos limites
fixados pelos seus testes.
A análise em questão foi a segunda tentada pela perícia em 33
amostras apreendidas no zôo nos
dias 9 e 10 de fevereiro -18 de iscas, 7 de água do fosso dos animais, 5 de restos de comida e 3 de
outros materiais.
Na primeira, feita com outra
técnica, o resultado foi ainda pior:
indicou o mesmo comportamento para amostras que não tinham
monofluoracetato e para porções
contaminadas pelo veneno. "Isso
significa que para buscar monoflúor em isca de rato a técnica é
inespecífica, pois coisas que existem na iscas interferem nos resultados", disse Silva.
(SC)
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