"Quanto mais conheço os homens, mais gosto do meu cão." A frase estava estampada na camiseta que Daniela Cicarelli usou no show do rapper Ja Rule, no último 5 de maio, em Sampa. Mas bem que poderia ser adotada como lema por mulheres cujos maridos não andam sassaricando na noite madrilenha.
Não conheço o jornalista e ex-militante comunista Antônio Carlos Queiroz, professor da UnB e autor da cartilha politicamente correta que a Secretaria Nacional de Direitos Humanos queria distribuir a formadores de opinião.
Também nunca fui apresentada ao secretário Nilmário Miranda, que gastou R$ 30 mil para ver 5.000 exemplares da cartilha impressos. Mas, desde já, posso dizer que os inventores do manual reforçaram o afeto que nutro por meu cão, Pacheco Pafúncio.
Antes que Lula viesse a sofrer uma enxurrada de ações por indenização, a cartilha foi retirada de circulação. Sabe-se apenas que trazia 96 expressões condenadas pelo cunho pejorativo, algumas delas, as mais toscas, amplamente divulgadas na mídia.
Não vi nessa lista qualquer menção à palavra "senhorita". Pois, se os senhores Queiroz e Miranda tivessem feito a lição de casa, eles saberiam que a expressão contém o mais elementar dos preconceitos.
Na França, desde o início dos anos 90, a palavra "mademoiselle" (senhorita) e todo o machismo que ela encerra foi retirada, por lei, do vocabulário. Por quê? Simples: homens não precisam se casar para mudar de status. Senhor é senhor. Mas a mulher é tratada como donzela antes do casamento e só ganha plena respeitabilidade quando se casa e vira "senhora". Assim, mulheres descasadas sem qualquer vestígio virginal continuam a ser tratadas por um diminutivo sexista.
Sugiro que os senhores Queiroz e Miranda vendam os 5.000 exemplares da cartilha politicamente correta em sites de leilões da internet, tipo e-bay ou arremate.com. Aposto um picolé de limão como haverá compradores interessados, pois curiosos e gente querendo aliviar o fígado com uma boa risada é o que não falta. E que usem o dinheiro arrecadado para promover uma discussão nas escolas sobre o bê-á-bá dos termos pejorativos, que começa pelo "severinesco" senhorita.