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LETRAS JURÍDICAS
Ellen Gracie na busca do Judiciário eficiente
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
A presidente do STF, ministra Ellen Gracie, teve manifestação digna de aplauso no
seu discurso de posse, a ser cobrada dela e de todos os líderes de tribunais, quando disse que a "compreensão de um sistema judiciário eficiente e operante tem como
ponto central o acesso mais amplo ao serviço público essencial
que é a Justiça". Ela, mais do que
outros, sabe, pois tem a missão
precípua de guarda da Constituição, que a Carta Magna exige eficiência dos serviços públicos.
Para chegar a esse objetivo, manifestou quatro posições que a
classe jurídica também defende:
a) a difusão e o fortalecimento
dos juízos de primeiro grau devem ser priorizados; b) todos os
cidadãos devem ter "acesso fácil a
um juiz que lhes dê resposta pronta", como ideal a ser buscado; c) a
avaliação do mérito das questões
discutidas não pode ser atrapalhada pelo formalismo ou pelo
uso de manobras que adiam a decisão final; d) a sentença deve ser
"compreensível a quem apresentou a demanda" e se enderece "às
partes em litígio, com caráter esclarecedor e didático".
Em síntese: mais juízes, mais rapidez, menor número de jogadas
processuais para a arquibancada
e mais gols do direito material
realizado. Se Ellen Gracie cumprir apenas essa parte de seu projeto inaugural, já terá feito belo
trabalho. No juízo de primeiro
grau, nas comarcas próximas ou
distantes, pequenas ou grandes
em população ou extensão, o magistrado na vara é o único a combater diretamente na trincheira
do povo, cara a cara com a sociedade. Nos tribunais, a distância,
em face dos advogados, é mantida, sob desculpa de que a conversa pessoal é perda de tempo. Não
é. O advogado fala em nome do
cliente, de quem busca a Justiça
oficial. Um dos preços pagos pela
magistratura à sociedade é o de
ouvir as partes ou seus representantes.
A sinceridade transparente nas
palavras da primeira mulher a
presidir um tribunal superior do
Brasil encontrará limites nos obstáculos da burocracia dos que recusam a eficiência. Dos que não
compreendem, nas palavras dela,
que o destinatário do trabalho do
juiz é "o cidadão jurisdicionado,
não as academias jurídicas, as
publicações especializadas ou as
instâncias superiores". Nem sempre o magistrado mostra plena
consciência de que é pago com os
tributos que nós todos, os cidadãos, temos de recolher. Cada um
de nós tem o direito de cobrar do
magistrado; e do Estado, a prestação da Justiça. Nada deve ser
mais claro e acessível do que uma
decisão judicial rápida e bem fundamentada, disse a ministra
Ellen Gracie.
A presidente do STF foi além
quando discutiu o assunto da linguagem complicada nas sentenças. Ellen Gracie ao referir, em seu
discurso de posse, a questão, pôs
fé na clareza necessária da sentença e, "sempre que possível, líquida", isto é, que já indique o valor a ser cobrado ao perdedor.
Quando o juiz silencia a respeito,
está fazendo o jogo da parte contrária, "sacrificando a dignidade
do Poder que representa". Há
ações em que o particular enfrenta órgãos como o DNER, o INSS, a
CEF, na esfera federal, o Estado e
a Prefeitura de São Paulo, nas
quais protelação só é possível graças ao poder Judiciário. O discurso de Ellen Gracie merecerá outros comentários, mas só as considerações hoje examinadas já caracterizam sua posição como
exemplarmente bem definidas.
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