São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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"Vai ser um pouso difícil", alerta co-piloto

Depois da colisão com Boeing, Paladino comenta com colega que jato havia sido "esquecido" pelos controladores de vôo

Só após o choque com o avião da Gol, comandante percebe, perplexo, que o sistema anticolisão do Legacy estava desligado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois minutos depois da colisão com o Boeing da Gol, o co-piloto Jan Paladino -mais experiente em jatos semelhantes ao Legacy e demonstrando mais controle da situação dramática na cabine- assume o comando do avião para fazer o pouso na base militar na Serra do Cachimbo com o seguinte aviso: "Coloquem os cintos. Vai ser um pouso difícil".
O comandante, Joe Lepore, recém-certificado para pilotar esse tipo de avião, ficou, ao que indica a caixa-preta, em choque ou perplexo, especialmente depois de constatar em voz alta que o TCAS (sistema anticolisão) estava mesmo desligado.
Durante os 26 minutos entre a colisão e o pouso de emergência, Lepore comentava que "bateram em algo".
Pragmático, Paladino já havia localizado o aeroporto mais próximo, iniciou a descida atento a outros aviões, deu instruções a Lepore e aos passageiros que vieram à cabine e tentava controlar a aceleração excessiva durante a descida.
Seis minutos antes de pousar, a tensão começa a subir na cabine porque o avião começa a dar sinais sonoros (três apitos) e uma voz mecânica pede o acionamento do trem de pouso. Isso acontece 26 vezes em três minutos. Paladino diz: "Foda-se a buzina, não se preocupe". Ele opta pelo acionamento no último momento.
Em seguida, comenta de forma retórica: "... o problema é que eles perderam a porra do radar" -indicação de que pode ter compreendido que o TCAS desligado significava que o transponder estava desligado e, portanto, o controle de tráfego aéreo não tinha dados precisos de radar na tela.
Segundos antes do pouso, Lepore volta a comentar: "Nós batemos em algo, cara. Nós batemos em outro avião. Eu não sei de onde da porra ele veio".
Ao tocar o solo, Paladino dá gargalhadas e exclama: "Porra, estamos vivos".
Os cinco passageiros aplaudem e Paladino começa um dos vários pedidos de desculpas ao colega por tomar o comando. "Desculpa, cara. Eu não tive a intenção de fazer isso contigo."
Quando estão quase estacionados, Paladino traça o cenário de que foram "esquecidos" pelos controladores. "Eles provavelmente estavam tentando fazer com que a gente descesse. Mas provavelmente a gente não estava no radar. Ou eles fizeram merda ou simplesmente não..", prossegue.
"Eu tentei pegar eles. Isto não está certo. Eu não falei com ninguém por um longo tempo", disse Paladino. Posteriormente, foi verificado que nem o Legacy nem Brasília tentaram contato por rádio por 35 minutos. "Mas eu estou preocupado com o outro avião. Se nós batemos em outro avião...", conclui Lepore. (LS)


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