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Irmão de morto pela PM do Rio sofre ameaça
Taxista teve para-brisa atingido por tiro e hoje mora fora da cidade; parentes também se dizem intimidados
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Um ano depois de ter o irmão
morto por policiais militares
no Rio, o taxista Josilmar Macário dos Santos, 46, sofre com
ameaças desde que o Ministério Público denunciou os PMs.
Na sexta-feira, ele teve o vidro de seu táxi estilhaçado na
direção da cabeça enquanto
passava próximo ao túnel Santa
Bárbara, no centro. Segundo a
perícia, o carro foi atingido por
um tiro. A bala ricocheteou e
não ultrapassou o para-brisa.
Esta seria a terceira ameaça
contra a família do lanterneiro
Josenildo dos Santos, morto
em abril de 2009 durante uma
operação da polícia no morro
da Coroa, no centro do Rio.
Josenildo cuidava de uma
horta comunitária na favela no
dia em que policiais fizeram
uma operação contra o tráfico
de drogas. Outras cinco pessoas, apontadas como traficantes de drogas pela polícia, foram mortas na ação.
Segundo testemunhas ouvidas na Justiça, ele foi morto desarmado. Laudo aponta que o
disparo foi feito na nuca.
Os policiais militares Vagner
Barbosa Santana, Carlos
Eduardo Virgínio dos Santos,
Jubson Alencar Cruz Souza e
Leonardo José de Jesus Gomes
foram denunciados pela Promotoria por homicídio doloso
(intencional) das seis vítimas.
Eles negam o crime e afirmam
que houve confronto.
Em outro episódio, a irmã de
Josenildo conta que no dia 8 de
março, em uma operação policial no morro da Coroa, sua casa foi invadida por PMs.
"Eles disseram que se eu estivesse na rua eu teria morrido.
Entendi como um recado. Dentro de casa eles não teriam como fazer nada. Na rua poderiam dizer que foi bala perdida", diz ela, que pede para não
ter o nome publicado. O caso
foi registrado na Corregedoria,
sem conclusão do inquérito.
Nos dias 30 de abril e 1º de
maio, o taxista diz que PMs arrancaram, sob ameaças, cartazes de um protesto contra a violência, que seria feito no dia 2.
A PM afirma que desconhece
as ameaças. Diz ainda não ter
visto "indícios de cometimento
de crimes por parte dos policiais militares". O advogado dos
policiais não foi localizado para
comentar o caso.
Após o tiro que atingiu seu
carro, Josilmar tentou ser incluído no Programa de Defensores de Direitos Humanos do
governo federal. Após encontro
com o ministro Paulo Vanucchi, lhe foi oferecido o Programa de Proteção à Testemunha,
o que ele recusou por ser exigido que se afastasse do local onde vive e não se expusesse.
"Assim quem vai estar preso
serei eu, não os policiais que cometeram o crime. É uma inversão de valores", diz Josilmar,
que vive desde sexta na casa de
amigos fora do Rio. Desde o início das ameaças, três dos nove
irmãos de Josenildo saíram do
morro da Coroa.
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