São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2000


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Sequestro virou coisa de amador

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Até pouco tempo, sequestro era um crime sofisticado que, por sua vez, exigia uma resposta sofisticada, executada por policiais de elite, especialmente preparados.
Os sequestradores eram, na sua maioria, profissionais, guiados por planos meticulosamente esboçados. Exigia-se o acompanhamento da rotina da vítima, esquemas de fuga e esconderijos.
Em muitos casos, era mais fácil e seguro negociar com esse tipo de criminoso que, a rigor, queria dinheiro e manter a vítima viva para sair-se bem-sucedido na operação.
No dilúvio da violência que se alastrou pelo país, banalizaram-se os sequestros e sequestradores, como se viu ontem, no bairro do Jardim Botânico, no Rio, com as chocantes cenas de reféns num ônibus.
Chocantes não só pela tortura ou pelo desfecho, mas pelo desequilíbrio e despreparo do sequestrador e pela incapacidade da polícia garantir a segurança dos reféns - as cenas levantam a firma suspeita de que a refém não levaria um rito, se a polícia fosse mais habilidosa.
Os amadores e desesperados invadiram o comércio do sequestro, especialmente em São Paulo. Alguém sequestrar um ônibus, em pleno Jardim Botânico, se presta como um símbolo desse amadorismo.
Sequestro virou um crime comum, cuja incidência, hoje, é medida em minutos. Espalharam-se os sequestros relâmpados, utilizando os caixas 24 horas dos bancos.
Sequestra-se muito e, hoje, ganha-se pouco, nada parecido com aqueles pedidos milionários de resgate.
A polícia, em geral mal treinada até para situações comuns de criminalidade, apenas acrescenta mais insegurança no dilúvio da violência.
Acabamos com pânico diante de quem comete o crime - e, para piorar, de quem deveria nos proteger.


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