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Sequestro virou coisa de amador
GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL
Até pouco tempo, sequestro era
um crime sofisticado que, por sua
vez, exigia uma resposta sofisticada, executada por policiais de elite, especialmente preparados.
Os sequestradores eram, na sua
maioria, profissionais, guiados
por planos meticulosamente esboçados. Exigia-se o acompanhamento da rotina da vítima, esquemas de fuga e esconderijos.
Em muitos casos, era mais fácil
e seguro negociar com esse tipo
de criminoso que, a rigor, queria
dinheiro e manter a vítima viva
para sair-se bem-sucedido na
operação.
No dilúvio da violência que se
alastrou pelo país, banalizaram-se
os sequestros e sequestradores,
como se viu ontem, no bairro do
Jardim Botânico, no Rio, com as
chocantes cenas de reféns num
ônibus.
Chocantes não só pela tortura
ou pelo desfecho, mas pelo desequilíbrio e despreparo do sequestrador e pela incapacidade da polícia garantir a segurança dos reféns - as cenas levantam a firma
suspeita de que a refém não levaria um rito, se a polícia fosse mais
habilidosa.
Os amadores e desesperados invadiram o comércio do sequestro,
especialmente em São Paulo. Alguém sequestrar um ônibus, em
pleno Jardim Botânico, se presta
como um símbolo desse amadorismo.
Sequestro virou um crime comum, cuja incidência, hoje, é medida em minutos. Espalharam-se
os sequestros relâmpados, utilizando os caixas 24 horas dos bancos.
Sequestra-se muito e, hoje, ganha-se pouco, nada parecido com
aqueles pedidos milionários de
resgate.
A polícia, em geral mal treinada
até para situações comuns de criminalidade, apenas acrescenta
mais insegurança no dilúvio da
violência.
Acabamos com pânico diante
de quem comete o crime - e, para piorar, de quem deveria nos
proteger.
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