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TRÂNSITO
Projeto analisado na prefeitura prevê tolerância para multa de estacionamento; licitação prevê substituir sistema zona azul
SP estuda regra polêmica para parquímetro
ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeitura estuda adotar regras polêmicas, já existentes no
ABC paulista e em Porto Alegre,
para a implantação de parquímetros em São Paulo -em substituição ao atual sistema de estacionamento rotativo com talões de
zona azul. O edital da licitação que
selecionará a empresa responsável por fornecer os equipamentos
e ajudar na fiscalização será lançado até julho, segundo a Secretaria
Municipal dos Transportes.
O novo modelo envolve a instalação, nas calçadas, de máquinas
que funcionam com moedas ou
cartões. Elas emitem tíquetes que
liberam a parada do veículo por
períodos de 30 minutos a duas
horas. Para chegar a elas, os motoristas devem andar, no máximo, 50 metros. A prefeitura quer
os equipamentos, no prazo de três
anos, em 15 mil das 31 mil vagas
existentes no sistema zona azul.
A decisão da administração
Marta Suplicy (PT) resgata idéias
das gestões Maluf e Pitta -que,
na época, eram rejeitadas por vereadores petistas.
A resistência, desta vez, poderá
ser de especialistas do setor. Um
projeto na Secretaria dos Transportes prevê que, com os parquímetros, haveria a adoção de uma
regra de "tolerância" para a aplicação das multas -na qual os infratores ficariam livres das penalidades previstas no CTB (Código
de Trânsito Brasileiro), desde que
pagassem uma taxa. A verba iria
para a prefeitura e a empresa.
Por esse sistema, os motoristas
que estacionarem sem pagar a
quantia fixada no parquímetro
(cada cartão de zona azul por uma
hora custa hoje R$ 1,80) ou que ultrapassarem os tempos previstos,
em vez de sofrer a multa de R$
53,20 e acumular três pontos na
carteira, receberiam apenas um
"aviso de irregularidade".
Os infratores teriam um prazo
(no projeto, fala-se em 72 horas)
para regularizar a situação e pagar
uma taxa (próxima de R$ 18). A
multa só seria oficializada se esse
procedimento não fosse seguido.
Essa regra está em análise e ainda não foi incluída no edital, mas
é vista com simpatia por técnicos
da prefeitura, não só por viabilizar a atratividade dos parquímetros à iniciativa privada como por
já ser adotada em São Bernardo
do Campo e por governos do PT
em Santo André e Porto Alegre.
Indústria da multa
A empresa de estacionamento
Estapar responde pelas principais
experiências de implantação de
parquímetros no país, em Pindamonhangaba, São Carlos, São
João da Boa Vista, Araraquara, Jaboticabal, Santo André (todas em
SP) e em Porto Alegre (no RS).
No site da Estapar na internet,
esse sistema é batizado de "Zona
Azul Eletrônica: a solução definitiva para os problemas de estacionamento de sua cidade".
Em Santo André, os parquímetros foram instalados em 1999.
Uma hora de estacionamento
custa R$ 1,20. Se o usuário não pagar ou ultrapassar o tempo previsto, fica sujeito ao "aviso de irregularidade", aplicado tanto por
agentes da prefeitura como da
empresa contratada. Para evitar a
aplicação da multa do CTB, os infratores podem pagar uma taxa
de R$ 8, depositada nos próprios
equipamentos fixados nas calçadas, até as 18h do mesmo dia.
Em São Bernardo, cada hora
custa R$ 1,50. O prazo para evitar
a multa é maior: 72 horas. A taxa é
de R$ 18,75. Em Porto Alegre, a
hora de parada custa R$ 1, e a taxa
de regularização, de R$ 5, pode ser
paga no prazo de 48 horas.
Essas regras de tolerância são
divulgadas como uma forma de
descaracterizar a "indústria da
multa". Ou seja, ao dar uma oportunidade de regularização ao infrator e cobrar um valor menor, a
prefeitura mostraria sua disposição de arrecadar menos.
Um dos problemas apontados
por técnicos é que, por haver interesse direto de remuneração da
iniciativa privada, poderia haver
distorções (com queda das multas
e elevação drástica das taxas).
Dois advogados especialistas
em legislação de trânsito ouvidos
pela Folha também vêem descumprimento do CTB, já que a
autuação não é feita na hora da infração. Os casos em que a fiscalização é atribuída a empresas, e
não aos agentes públicos, também são condenados por eles.
Fraude
O secretário dos Transportes,
Jilmar Tatto, afirma que a idéia
dos parquímetros visa acabar
com as fraudes. Atualmente há regiões loteadas por flanelinhas para a venda de talões de zona azul,
além da falsificação de cartões.
Sobre as propostas, ele diz que
nada foi decidido. "Os técnicos
estão analisando, mas ainda não
passou por mim", diz, sem antecipar se é contra ou a favor dos modelos do ABC e de Porto Alegre.
Os projetos analisados também
abrangem a possibilidade de ampliação do horário do estacionamento rotativo. Em algumas regiões, ele poderia valer até as 24h
-hoje a zona azul vai até as 19h.
"É apenas uma possibilidade. A
gente poderia tentar resolver os
problemas dos valets com parquímetros", afirma Tatto, referindo-se aos serviços de manobristas
oferecidos por bares e restaurantes, que cobram dos clientes para
deixar os carros nas ruas.
Segundo ele, há risco de depredação dos aparelhos semelhante
ao que já acontece com os telefones públicos. "Mas a responsabilidade será das empresas que foram contratadas", diz.
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