São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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60% dos mortos pela polícia têm marcas de tiro que apontam indícios de abuso

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO

Das pessoas mortas pela polícia no Estado de São Paulo durante a crise provocada pelos atentados do PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo a lista oficial do governo, pelo menos 60% apresentam marcas de tiro que apontam indícios de abuso policial.
De acordo com laudos necroscópicos de 23 IMLs (Institutos Médicos Legais) entregues ontem pelo Ministério Público Estadual à comissão independente que apura as mortes ocorridas entre os dias 12 e 20 de maio, 126 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia paulista.
Desses casos, 75 mortos (60% do total) apresentam algum indício de abuso policial. Entre eles, estão tiros de cima para baixo -que demostrariam que a vítima estava rendida, de joelhos ou no chão-, perfurações pelas costas e ferimentos à bala nos braços, podendo mostrar que a vítima, já dominada, tentou se defender do disparo.
A listagem de 126 nomes entregue ontem à comissão independente inclui os 122 mortos em confronto com a polícia, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, mais quatro casos identificados pelo Ministério Público.

"Tatuagem"
Na análise da documentação, a reportagem excluiu dois casos de jovens mortos em um suposto acidente de moto e um caso cujo laudo necroscópico estava incompleto. Desses 123 mortos, 75 apresentam indícios de abuso: foram 61 casos de pessoas que receberam pelo menos um tiro com a trajetória de cima para baixo.
Dezesseis mortos tinham marcas de tiros pelas costas -desses, cinco também receberam tiros de cima para baixo e estão incluídos nos 61 casos, totalizando, assim, 72 mortos com marcas de suposto abuso.
Outros dois mortos apresentavam "tatuagem" (marca de pólvora que mostra que o tiro não foi à queima-roupa, mas de uma pequena distância) e um apresentava um tiro no braço, um indício de que, rendido, teria tentado apenas se defender.
No final de abril, um levantamento preliminar da Defensoria Pública de São Paulo já apontava indícios de abuso policial a partir de uma análise parcial dos laudos.
Na ocasião, foram analisados os 132 laudos sobre mortos por armas de fogo do período -incluídos até homicídios simples e suicídio- feitos só pelo IML Central de São Paulo.
Desse total, 28 mortos referiam-se a supostos confrontos com a polícia de São Paulo. A análise apenas desses casos mostrou que 22 corpos traziam marcas de tiros de cima para baixo.
A documentação entregue ontem pelo Ministério Público, no entanto, é mais completa e inclui os 23 IMLs do Estado, abrangendo também o IML Central.
Agora, a listagem com os 126 nomes será encaminhada pela comissão para análise do perito criminal Ricardo Molina, da Unicamp (Universidade de Campinas). (ANDRÉ CARAMANTE, FABIANE LEITE, GILMAR PENTEADO E VICTOR RAMOS)

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