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60% dos mortos pela polícia têm marcas de tiro que apontam indícios de abuso
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Das pessoas mortas pela polícia no Estado de São Paulo durante a crise provocada pelos
atentados do PCC (Primeiro
Comando da Capital), segundo
a lista oficial do governo, pelo
menos 60% apresentam marcas de tiro que apontam indícios de abuso policial.
De acordo com laudos necroscópicos de 23 IMLs (Institutos Médicos Legais) entregues ontem pelo Ministério Público Estadual à comissão independente que apura as mortes
ocorridas entre os dias 12 e 20
de maio, 126 pessoas morreram
em supostos confrontos com a
polícia paulista.
Desses casos, 75 mortos
(60% do total) apresentam algum indício de abuso policial.
Entre eles, estão tiros de cima
para baixo -que demostrariam
que a vítima estava rendida, de
joelhos ou no chão-, perfurações pelas costas e ferimentos à
bala nos braços, podendo mostrar que a vítima, já dominada,
tentou se defender do disparo.
A listagem de 126 nomes entregue ontem à comissão independente inclui os 122 mortos
em confronto com a polícia, segundo dados da Secretaria da
Segurança Pública, mais quatro
casos identificados pelo Ministério Público.
"Tatuagem"
Na análise da documentação,
a reportagem excluiu dois casos de jovens mortos em um suposto acidente de moto e um
caso cujo laudo necroscópico
estava incompleto. Desses 123
mortos, 75 apresentam indícios
de abuso: foram 61 casos de
pessoas que receberam pelo
menos um tiro com a trajetória
de cima para baixo.
Dezesseis mortos tinham
marcas de tiros pelas costas
-desses, cinco também receberam tiros de cima para baixo
e estão incluídos nos 61 casos,
totalizando, assim, 72 mortos
com marcas de suposto abuso.
Outros dois mortos apresentavam "tatuagem" (marca de
pólvora que mostra que o tiro
não foi à queima-roupa, mas de
uma pequena distância) e um
apresentava um tiro no braço,
um indício de que, rendido, teria tentado apenas se defender.
No final de abril, um levantamento preliminar da Defensoria Pública de São Paulo já
apontava indícios de abuso policial a partir de uma análise
parcial dos laudos.
Na ocasião, foram analisados
os 132 laudos sobre mortos por
armas de fogo do período -incluídos até homicídios simples
e suicídio- feitos só pelo IML
Central de São Paulo.
Desse total, 28 mortos referiam-se a supostos confrontos
com a polícia de São Paulo. A
análise apenas desses casos
mostrou que 22 corpos traziam
marcas de tiros de cima para
baixo.
A documentação entregue
ontem pelo Ministério Público,
no entanto, é mais completa e
inclui os 23 IMLs do Estado,
abrangendo também o IML
Central.
Agora, a listagem com os 126
nomes será encaminhada pela
comissão para análise do perito
criminal Ricardo Molina, da
Unicamp (Universidade de
Campinas).
(ANDRÉ CARAMANTE, FABIANE LEITE, GILMAR PENTEADO E VICTOR RAMOS)
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