|
Próximo Texto | Índice
Obras de Di Cavalcanti, Segall e Picasso são roubadas de dia
Prédio abriga exposições do acervo da Pinacoteca; foi o terceiro caso de peças de museu levadas por criminosos em dez meses
Três homens, pelo menos um armado, levaram 4 quadros da Estação Pinacoteca, na Luz
Joel Silva/Folha Imagem
|
|
Estação Pinacoteca (centro de São Paulo), de onde foram levadas ontem, de dia, obras de Lasar Segall, Di Cavalcanti e Pablo Picasso
DA REPORTAGEM LOCAL
Passando-se por visitantes,
três homens, pelo menos um
deles armado, roubaram ontem
por volta das 12h30 quatro
obras de arte no centro de São
Paulo: duas gravuras do artista
espanhol Pablo Picasso (1881-1973), avaliadas entre US$
4.000 e US$ 6.000; outra do lituano naturalizado brasileiro
Lasar Segall (1891-1957), estimada entre US$ 30 mil e US$
40 mil; e um quadro do brasileiro Di Cavalcanti (1897-1976), o
mais valioso dos quatro, avaliado em US$ 500 mil.
Os valores foram estipulados
pela Fundação José e Paulina
Nemirovsky, dona das obras
-segundo a Secretaria Estadual de Cultural, o valor total é
inferior, cerca de R$ 1 milhão.
As obras estavam na Estação
Pinacoteca, ligada à Pinacoteca
de São Paulo (ambas na Luz),
pertencente ao Estado de São
Paulo. Elas não tinham seguro.
Foi o terceiro caso de peças
de museus levadas por criminosos nos últimos dez meses na
cidade e o primeiro roubo à
mão armada.
Os assaltantes, que não usavam máscara nem capuz, entraram como visitantes, pagaram ingresso de R$ 4 e subiram
de elevador até o segundo andar, onde estavam as obras.
Na hora do crime, pelo menos 120 pessoas estavam no
edifício, incluindo estudantes
do ensino médio.
Em entrevista coletiva, o secretário estadual de Cultura,
João Sayad, disse que havia
obras mais valiosas no local do
que as que foram roubadas. Seu
gabinete fica a menos de cem
metros da Estação Pinacoteca.
Seguranças desarmados
A sala era vigiada por três
monitores, que também tinham a função de seguranças,
mas trabalham desarmados.
Após render os funcionários,
eles desparafusaram as gravuras de Picasso -com uma chave
de fenda que estaria no bolso de
um dos assaltantes- e retiraram da parede as outras duas.
As obras foram colocadas em
duas sacolas brancas. Os criminosos desceram as escadas e
saíram para o pátio que dá para
o estacionamento. Eles não foram seguidos por nenhum funcionário. A ação durou cerca de
dez minutos, segundo a polícia.
"Foi uma ousadia muito
grande", disse o delegado Youssef Abdul Chaim, diretor do
Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), em entrevista coletiva.
Há uma base móvel da Polícia Militar, com cinco policiais,
na praça ao lado do museu.
O prédio tem 50 funcionários. Não há detector de metais,
alarmes, sensores nem revista
de visitantes. A segurança é feita por câmeras e 25 monitores
que trabalham sem armas.
"Se um visitante quiser tocar
um quadro, é possível", afirmou o secretário Sayad.
As obras estavam todas na
mesma sala.
Segundo a polícia, a ação foi
discreta e não houve tumulto.
"Falei com uma das monitoras
que foi rendida. Ela disse que os
criminosos não estavam mascarados. Ela só pediu para que
eles não fizessem nada com
ela", disse Wenna Adriana
Moura, 18, auxiliar de limpeza.
Imagens
A polícia divulgou imagens
de duas câmeras de segurança,
que estão sendo analisadas por
peritos. Elas mostram dois homens, a distância, um deles de
camiseta branca e outro com
uma azul, caminhando tranqüilamente, cada um com uma
sacola branca -segundo a polícia, os quadros foram levados
dentro delas. Eles ainda cruzam com outras duas pessoas.
Além da Polícia Civil, que investiga o caso, órgãos internacionais de investigação podem
ser acionados.
"É o Brasil de hoje. Não se
tem mais segurança para coisa
nenhuma. É uma vergonha.
Nós [a família] só podemos lamentar", disse a atriz Beatriz
Segall, 81, que foi casada com
um filho do pintor Lasar Segall.
A Estação Pinacoteca foi
inaugurada em 1914. Durante o
período da ditadura militar,
tornou-se sede do Dops (Departamento de Ordem Política
e Social), para onde eram mandados os presos políticos. O
edifício ficou fechado no restante do dia e deve reabrir hoje.
Masp
Em 20 de dezembro, os quadros "Lavrador de Café", do
pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962), e "Retrato
de Suzanne Bloch", de Picasso,
foram furtados do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Na
época, quatro homens foram
presos. As obras foram recuperadas no começo deste ano.
Em 6 de agosto de 2007, foram levadas 889 peças do Museu Paulista da USP, conhecido
como Museu do Ipiranga, entre
moedas e cédulas da época do
império -parte delas também
foi recuperada.
(LUÍS KAWAGUTI, MARIANA BARROS, KLEBER TOMAZ e TEREZA NOVAES)
Próximo Texto: Di Cavalcanti: Picasso inspirou "Mulheres na Janela", de 1926 Índice
|