São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

Próximo Texto | Índice

Obras de Di Cavalcanti, Segall e Picasso são roubadas de dia

Prédio abriga exposições do acervo da Pinacoteca; foi o terceiro caso de peças de museu levadas por criminosos em dez meses

Três homens, pelo menos um armado, levaram 4 quadros da Estação Pinacoteca, na Luz

Joel Silva/Folha Imagem
Estação Pinacoteca (centro de São Paulo), de onde foram levadas ontem, de dia, obras de Lasar Segall, Di Cavalcanti e Pablo Picasso

DA REPORTAGEM LOCAL

Passando-se por visitantes, três homens, pelo menos um deles armado, roubaram ontem por volta das 12h30 quatro obras de arte no centro de São Paulo: duas gravuras do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), avaliadas entre US$ 4.000 e US$ 6.000; outra do lituano naturalizado brasileiro Lasar Segall (1891-1957), estimada entre US$ 30 mil e US$ 40 mil; e um quadro do brasileiro Di Cavalcanti (1897-1976), o mais valioso dos quatro, avaliado em US$ 500 mil.
Os valores foram estipulados pela Fundação José e Paulina Nemirovsky, dona das obras -segundo a Secretaria Estadual de Cultural, o valor total é inferior, cerca de R$ 1 milhão.
As obras estavam na Estação Pinacoteca, ligada à Pinacoteca de São Paulo (ambas na Luz), pertencente ao Estado de São Paulo. Elas não tinham seguro.
Foi o terceiro caso de peças de museus levadas por criminosos nos últimos dez meses na cidade e o primeiro roubo à mão armada.
Os assaltantes, que não usavam máscara nem capuz, entraram como visitantes, pagaram ingresso de R$ 4 e subiram de elevador até o segundo andar, onde estavam as obras.
Na hora do crime, pelo menos 120 pessoas estavam no edifício, incluindo estudantes do ensino médio.
Em entrevista coletiva, o secretário estadual de Cultura, João Sayad, disse que havia obras mais valiosas no local do que as que foram roubadas. Seu gabinete fica a menos de cem metros da Estação Pinacoteca.

Seguranças desarmados
A sala era vigiada por três monitores, que também tinham a função de seguranças, mas trabalham desarmados.
Após render os funcionários, eles desparafusaram as gravuras de Picasso -com uma chave de fenda que estaria no bolso de um dos assaltantes- e retiraram da parede as outras duas.
As obras foram colocadas em duas sacolas brancas. Os criminosos desceram as escadas e saíram para o pátio que dá para o estacionamento. Eles não foram seguidos por nenhum funcionário. A ação durou cerca de dez minutos, segundo a polícia.
"Foi uma ousadia muito grande", disse o delegado Youssef Abdul Chaim, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), em entrevista coletiva.
Há uma base móvel da Polícia Militar, com cinco policiais, na praça ao lado do museu.
O prédio tem 50 funcionários. Não há detector de metais, alarmes, sensores nem revista de visitantes. A segurança é feita por câmeras e 25 monitores que trabalham sem armas.
"Se um visitante quiser tocar um quadro, é possível", afirmou o secretário Sayad.
As obras estavam todas na mesma sala.
Segundo a polícia, a ação foi discreta e não houve tumulto. "Falei com uma das monitoras que foi rendida. Ela disse que os criminosos não estavam mascarados. Ela só pediu para que eles não fizessem nada com ela", disse Wenna Adriana Moura, 18, auxiliar de limpeza.

Imagens
A polícia divulgou imagens de duas câmeras de segurança, que estão sendo analisadas por peritos. Elas mostram dois homens, a distância, um deles de camiseta branca e outro com uma azul, caminhando tranqüilamente, cada um com uma sacola branca -segundo a polícia, os quadros foram levados dentro delas. Eles ainda cruzam com outras duas pessoas.
Além da Polícia Civil, que investiga o caso, órgãos internacionais de investigação podem ser acionados.
"É o Brasil de hoje. Não se tem mais segurança para coisa nenhuma. É uma vergonha. Nós [a família] só podemos lamentar", disse a atriz Beatriz Segall, 81, que foi casada com um filho do pintor Lasar Segall.
A Estação Pinacoteca foi inaugurada em 1914. Durante o período da ditadura militar, tornou-se sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), para onde eram mandados os presos políticos. O edifício ficou fechado no restante do dia e deve reabrir hoje.

Masp
Em 20 de dezembro, os quadros "Lavrador de Café", do pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962), e "Retrato de Suzanne Bloch", de Picasso, foram furtados do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Na época, quatro homens foram presos. As obras foram recuperadas no começo deste ano.
Em 6 de agosto de 2007, foram levadas 889 peças do Museu Paulista da USP, conhecido como Museu do Ipiranga, entre moedas e cédulas da época do império -parte delas também foi recuperada.
(LUÍS KAWAGUTI, MARIANA BARROS, KLEBER TOMAZ e TEREZA NOVAES)

Próximo Texto: Di Cavalcanti: Picasso inspirou "Mulheres na Janela", de 1926
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.