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Policiais são suspeitos de negociar jóias
Comerciante de pedras preciosas afirmou ao Ministério Público Estadual que seus principais clientes são policiais civis de SP
Integrantes do Deic e do Denarc são investigados sob a suspeita de lavagem de dinheiro comprando principalmente esmeraldas
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 20 integrantes de
dois setores especializados da
Polícia Civil de São Paulo, o
Deic (departamento de roubos)
e o Denarc (narcóticos), são investigados atualmente pelo Ministério Público Estadual sob a
suspeita de lavar dinheiro obtido com a prática de crimes com
a compra de pedras preciosas,
principalmente esmeraldas.
Além do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo), a
Polícia Federal também tem
informações de que policiais
paulistas são suspeitos de negociar altos valores em pedras
preciosas.
Durante os últimos dois
anos, o principal fornecedor de
pedras preciosas para policiais
do Deic e Denarc, de acordo
com os levantamentos do Gaeco, seria o comerciante Edson
Rodrigues dos Santos.
Em depoimento ao Gaeco,
Santos afirmou que seus principais clientes são policiais civis de São Paulo. O Gaeco chegou até o comerciante de pedras preciosas depois de investigar o patrimônio do delegado
Everardo Tanganelli Júnior,
56, atual diretor do Denarc.
Santos sustentou aos promotores que o delegado Tanganelli
foi seu principal cliente nos últimos anos e comprou dele pedras preciosas avaliadas entre
R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. O
Gaeco tem informações de que
os investimentos de Tanganelli
nas pedras preciosas não foram
declarados à Receita Federal.
Dentro do Deic, um policial
civil identificado até agora pelo
Gaeco apenas como Marcelo
atua como intermediário para a
venda das pedras preciosas para outros integrantes do departamento que, entre outras atribuições, tem a função de coibir
a atuação do crime organizado.
A PF tentará descobrir se as
pedras preciosas vendidas por
Santos para os policiais civis do
Deic e Denarc têm origem legal
ou se elas foram extraídas de
garimpos clandestinos nas regiões Centro-Oeste e Norte do
Brasil ou até mesmo em países
africanos em guerra.
Ontem, a reportagem tentou
localizar Santos, mas não conseguiu encontrá-lo em sua casa,
localizada em um bairro da periferia da zona leste de SP.
Denúncias no blog
Tanganelli passou a ser investigado pelo Ministério Público a partir de várias denúncias de possíveis irregularidades na Polícia Civil apontadas
pelo também delegado Roberto
Conde Guerra em seu blog
(www.flitparasilante.blogspot.com), conforme revelou a
Folha em julho de 2007.
As suspeitas são as de que o
atual chefe do Denarc tenha
enriquecido ilicitamente e
também tenha praticado lavagem de dinheiro, principalmente com a compra não declarada de pedras preciosas.
Dentro da apuração do Gaeco contra Tanganelli, um fato
chamou a atenção dos promotores: em sociedade com Bernardino Antonio Fanganielo, o
chefe do Denarc tentou pagar
parte da dívida pela compra de
uma fazenda de 2.401 hectares
em Camapuã, em Mato Grosso
do Sul, com esmeraldas.
Mas um juiz de Presidente
Epitácio (655 km de SP) impediu o negócio e determinou
que, caso as esmeraldas oferecidas por Tanganelli para
amortizar R$ 500 mil da dívida
fossem lícitas, que o delegado
as vendesse e usasse o dinheiro
para pagar a dívida.
Além dessa fazenda, Tanganelli, que tem salário de R$ 8
mil, tem outras cinco na região
de Camapuã. Seu patrimônio
atual, segundo o Gaeco, está
perto dos R$ 4,5 milhões. Para
tentar impedir a investigação
do Gaeco, Tanganelli impetrou
habeas corpus na Justiça.
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