São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Policiais são suspeitos de negociar jóias

Comerciante de pedras preciosas afirmou ao Ministério Público Estadual que seus principais clientes são policiais civis de SP

Integrantes do Deic e do Denarc são investigados sob a suspeita de lavagem de dinheiro comprando principalmente esmeraldas

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 20 integrantes de dois setores especializados da Polícia Civil de São Paulo, o Deic (departamento de roubos) e o Denarc (narcóticos), são investigados atualmente pelo Ministério Público Estadual sob a suspeita de lavar dinheiro obtido com a prática de crimes com a compra de pedras preciosas, principalmente esmeraldas.
Além do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo), a Polícia Federal também tem informações de que policiais paulistas são suspeitos de negociar altos valores em pedras preciosas.
Durante os últimos dois anos, o principal fornecedor de pedras preciosas para policiais do Deic e Denarc, de acordo com os levantamentos do Gaeco, seria o comerciante Edson Rodrigues dos Santos.
Em depoimento ao Gaeco, Santos afirmou que seus principais clientes são policiais civis de São Paulo. O Gaeco chegou até o comerciante de pedras preciosas depois de investigar o patrimônio do delegado Everardo Tanganelli Júnior, 56, atual diretor do Denarc.
Santos sustentou aos promotores que o delegado Tanganelli foi seu principal cliente nos últimos anos e comprou dele pedras preciosas avaliadas entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. O Gaeco tem informações de que os investimentos de Tanganelli nas pedras preciosas não foram declarados à Receita Federal.
Dentro do Deic, um policial civil identificado até agora pelo Gaeco apenas como Marcelo atua como intermediário para a venda das pedras preciosas para outros integrantes do departamento que, entre outras atribuições, tem a função de coibir a atuação do crime organizado.
A PF tentará descobrir se as pedras preciosas vendidas por Santos para os policiais civis do Deic e Denarc têm origem legal ou se elas foram extraídas de garimpos clandestinos nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil ou até mesmo em países africanos em guerra.
Ontem, a reportagem tentou localizar Santos, mas não conseguiu encontrá-lo em sua casa, localizada em um bairro da periferia da zona leste de SP.

Denúncias no blog
Tanganelli passou a ser investigado pelo Ministério Público a partir de várias denúncias de possíveis irregularidades na Polícia Civil apontadas pelo também delegado Roberto Conde Guerra em seu blog (www.flitparasilante.blogspot.com), conforme revelou a Folha em julho de 2007.
As suspeitas são as de que o atual chefe do Denarc tenha enriquecido ilicitamente e também tenha praticado lavagem de dinheiro, principalmente com a compra não declarada de pedras preciosas.
Dentro da apuração do Gaeco contra Tanganelli, um fato chamou a atenção dos promotores: em sociedade com Bernardino Antonio Fanganielo, o chefe do Denarc tentou pagar parte da dívida pela compra de uma fazenda de 2.401 hectares em Camapuã, em Mato Grosso do Sul, com esmeraldas.
Mas um juiz de Presidente Epitácio (655 km de SP) impediu o negócio e determinou que, caso as esmeraldas oferecidas por Tanganelli para amortizar R$ 500 mil da dívida fossem lícitas, que o delegado as vendesse e usasse o dinheiro para pagar a dívida.
Além dessa fazenda, Tanganelli, que tem salário de R$ 8 mil, tem outras cinco na região de Camapuã. Seu patrimônio atual, segundo o Gaeco, está perto dos R$ 4,5 milhões. Para tentar impedir a investigação do Gaeco, Tanganelli impetrou habeas corpus na Justiça.


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