São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Uso de anfetamina aumenta o risco de infarto em jovens

Cardiologistas brasileiros endossam pesquisa americana e afirmam que o ecstasy também traz riscos ao consumidor

Estudo analisou prontuários de 3 milhões de pessoas, com idades entre 18 e 44 anos, hospitalizadas de 2000 a 2003 nos EUA

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo excessivo de anfetaminas -drogas que estimulam o sistema nervoso central e inibem o apetite- pode aumentar os riscos de adultos jovens sofrerem infarto, aponta um estudo realizado na Universidade do Texas (EUA), cujos resultados são endossados por cardiologistas brasileiros.
O trabalho, publicado na revista especializada "Drug and Alcohol Dependence", avaliou prontuários de 3 milhões de pessoas, com idades entre 18 e 44 anos, hospitalizadas no período de 2000 e 2003 nos EUA.
O Brasil é o quarto maior consumidor de anfetaminas no mundo. Estima-se que 2 milhões de brasileiros, especialmente os mais jovens, façam uso da substância, encontrada principalmente em fórmulas de remédios para emagrecimento e para tratamento de distúrbios psicológicos.
Nos últimos anos, também tem aumentado o consumo de um outro tipo de anfetamina sintetizada com fins não medicinais: o ecstasy, uma metanfetamina popular muito consumida pelos jovens em festas.

Danos
Segundo o médico Arthur Westover, autor principal do estudo, as anfetaminas têm efeito "perverso" ao coração, "Elas aumentam a pressão sangüínea dos usuários, além de causar inflamações e espasmos arteriais que limitam a quantidade de sangue que chega ao músculo cardíaco", disse ele.
Westover afirmou que embora sejam necessários mais estudos para verificar a ação das anfetaminas no coração, os resultados já podem orientar melhor os médicos no tratamento do infarto induzido por anfetaminas.
"Não é recomendável o uso de medicação beta-bloqueadora, que pode interagir com as anfetaminas, piorando o problema", afirmou.
Para o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Incor (Instituto do Coração), o estudo norte-americano comprova uma suspeita antiga dos médicos de que existe uma relação estreita entre o consumo de anfetaminas e danos cardíacos. No Brasil, não há estudos demonstrando claramente essa relação, segundo ele.
Santos diz que, em jovens que já têm alguma predisposição para doenças coronarianas (fumantes, hipertensos ou os que já têm placas de gordura no coração, por exemplo), o abuso das anfetaminas pode acelerar um evento cardíaco.
"Nós, os cardiologistas, morremos de medo de anfetamina. Elas podem sim precipitar [um evento cardíaco]. Os caras não usam pouquinho, usam dose alta. É um perigo", alerta.
O cardiologista Nabil Gorayeb, do Hospital do Coração, diz que atendeu recentemente um jovem de 16 anos que sofreu um infarto após o consumo de ecstasy. "Para nós, o resultado desse estudo [norte-americano] não é uma surpresa, embora o material deles seja muito maior e mais organizado."
Segundo Gorayeb, os jovens evitam contar que usaram drogas. "Quando a gente vê que é jovem e não tem motivo para ter infarto, temos de usar estratégias, falar que será usado medicamento, que, em interação com drogas, podem perder o efeito e complicar a situação."


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