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Uso de anfetamina aumenta o risco de infarto em jovens
Cardiologistas brasileiros endossam pesquisa americana e afirmam que o ecstasy também traz riscos ao consumidor
Estudo analisou prontuários de 3 milhões de pessoas, com idades entre 18 e 44 anos, hospitalizadas de 2000 a 2003 nos EUA
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumo excessivo de anfetaminas -drogas que estimulam o sistema nervoso central e
inibem o apetite- pode aumentar os riscos de adultos jovens sofrerem infarto, aponta
um estudo realizado na Universidade do Texas (EUA), cujos
resultados são endossados por
cardiologistas brasileiros.
O trabalho, publicado na revista especializada "Drug and
Alcohol Dependence", avaliou
prontuários de 3 milhões de
pessoas, com idades entre 18 e
44 anos, hospitalizadas no período de 2000 e 2003 nos EUA.
O Brasil é o quarto maior
consumidor de anfetaminas no
mundo. Estima-se que 2 milhões de brasileiros, especialmente os mais jovens, façam
uso da substância, encontrada
principalmente em fórmulas
de remédios para emagrecimento e para tratamento de
distúrbios psicológicos.
Nos últimos anos, também
tem aumentado o consumo de
um outro tipo de anfetamina
sintetizada com fins não medicinais: o ecstasy, uma metanfetamina popular muito consumida pelos jovens em festas.
Danos
Segundo o médico Arthur
Westover, autor principal do
estudo, as anfetaminas têm
efeito "perverso" ao coração,
"Elas aumentam a pressão sangüínea dos usuários, além de
causar inflamações e espasmos
arteriais que limitam a quantidade de sangue que chega ao
músculo cardíaco", disse ele.
Westover afirmou que embora sejam necessários mais
estudos para verificar a ação
das anfetaminas no coração, os
resultados já podem orientar
melhor os médicos no tratamento do infarto induzido por
anfetaminas.
"Não é recomendável o uso
de medicação beta-bloqueadora, que pode interagir com as
anfetaminas, piorando o problema", afirmou.
Para o cardiologista Raul
Dias dos Santos, do Incor (Instituto do Coração), o estudo
norte-americano comprova
uma suspeita antiga dos médicos de que existe uma relação
estreita entre o consumo de anfetaminas e danos cardíacos.
No Brasil, não há estudos demonstrando claramente essa
relação, segundo ele.
Santos diz que, em jovens
que já têm alguma predisposição para doenças coronarianas
(fumantes, hipertensos ou os
que já têm placas de gordura no
coração, por exemplo), o abuso
das anfetaminas pode acelerar
um evento cardíaco.
"Nós, os cardiologistas, morremos de medo de anfetamina.
Elas podem sim precipitar [um
evento cardíaco]. Os caras não
usam pouquinho, usam dose alta. É um perigo", alerta.
O cardiologista Nabil Gorayeb, do Hospital do Coração,
diz que atendeu recentemente
um jovem de 16 anos que sofreu
um infarto após o consumo de
ecstasy. "Para nós, o resultado
desse estudo [norte-americano] não é uma surpresa, embora o material deles seja muito
maior e mais organizado."
Segundo Gorayeb, os jovens
evitam contar que usaram drogas. "Quando a gente vê que é
jovem e não tem motivo para
ter infarto, temos de usar estratégias, falar que será usado medicamento, que, em interação
com drogas, podem perder o
efeito e complicar a situação."
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