São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ENGENHARIA DO CRIME

Dez bilhetes aéreos foram comprados, com notas de R$ 50; polícia acha casa que pode ter sido usada pelo grupo

Passagens reforçam elo de quadrilha com SP

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

VICTOR RAMOS
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

A Polícia Federal identificou ontem uma casa que pode ter sido usada pelos ladrões da caixa-forte do Banco Central de Fortaleza para "rechear" veículos com parte do dinheiro furtado, R$ 164,8 milhões em notas de R$ 50, no final de semana passado. Também ampliou as investigações sobre uma possível conexão com São Paulo, já que existe a possibilidade de o grupo ter viajado para a cidade logo depois do crime.
Dez passagens aéreas foram compradas à vista e com notas de R$ 50 no balcão da empresa aérea TAM, no aeroporto de Fortaleza, às 8h do sábado, dia 6, para o embarque às 14h. A venda das passagens foi confirmada pela TAM.
No começo da tarde de ontem, a Polícia Militar de São Paulo apreendeu um Mitsubishi, abandonado na zona leste da cidade. O carro é parecido com os outros comprados pela quadrilha e passará por uma perícia. De acordo com a PM, existem indícios de que a picape possa ter sido usada pela quadrilha na cidade.
A casa localizada ontem pertence, segundo a PF, a uma das pessoas presas até agora, o empresário José Charles Machado de Moraes, dono da transportadora JE Transporte. Ele foi preso na quarta-feira, em Minas, quando levava para São Paulo, em um caminhão-cegonha, 11 veículos. Em pelo menos três deles a PF já encontrou quase R$ 5 milhões.
A casa, grande e com piscina, fica num bairro periférico de Fortaleza, mas onde há outras casas de luxo. A PF conseguiu à tarde um mandado de busca e apreensão.
Dentro da casa, foi encontrado um carro, um Ford EcoSport preto de placas HXF 1361, que está em nome da empresa JE Transporte. A própria casa, segundo o delegado Wagner Sales, também é de Moraes. A defesa dele nega (leia texto nesta página).
Apesar disso, ele não morava no local, apenas visitava a casa com freqüência, segundo a polícia. Os moradores até o último sábado seriam um casal, que não foi mais visto pelos vizinhos desde então. O dia do sumiço coincide com o furto ao Banco Central.
Testemunhas afirmam que, até dez dias atrás, havia uma placa de vende-se em frente à casa e pouco movimento dos moradores. Depois disso, a placa foi retirada, e o casal voltou a ser visto, até o último sábado, quando, à noite, entre 19h30 e 20h, houve um entra-e-sai de veículos importados da casa.
De acordo com a Polícia Federal, o furto à caixa-forte do Banco Central, por meio de um túnel de 80 metros cavado de uma casa próxima à sede do banco, começou na sexta-feira à noite e terminou no sábado, até, no máximo, o meio-dia.
"Estranhei a movimentação, eram uns dez carros grandes, mas achei que podia ser alguma festa de despedida, porque o casal dizia que ia se mudar", disse uma testemunha, que não se identificou.

Documentação
No final da noite de anteontem, a PF apreendeu documentos e um computador na sede da Brilhe Car, revendedora de veículos onde a quadrilha teria comprado nove carros e um caminhão-cegonha sem a carroceria, por R$ 980 mil, em cédulas de R$ 50, as mesmas levadas do Banco Central.
Os donos da empresa, José Elizomartes Fernandes e Dermerval Fernandes, tiveram a prisão temporária decretada. A compra dos veículos foi feita por Moraes, alega a defesa dos donos da revenda.


Colaborou ALEXANDRE HISAYASU, da Reportagem Local

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