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Morte de agente leva família ao cemitério no Dia dos Pais
PAULO SAMPAIO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Atento às notícias sobre os
primeiros grandes ataques do
PCC em São Paulo, em maio, o
agente penitenciário Robson
Cleis, 46, nem percebeu quando bandidos da facção invadiram a padaria onde ele assistia
ao "Fantástico" com a mulher,
Mara, para disparar 19 tiros em
sua cabeça.
Quase três meses depois daquele domingo, Dia das Mães,
os filhos de Robson vão comemorar o Dia dos Pais no cemitério. "Vou levar umas flores pra
ele, quero que esse dia passe rápido", diz a estudante Mayara
Marjorie, 18, filha de Robson.
Além da filha do agente, estão na sala da casa de três quartos, em um bairro de classe média de Sorocaba, a viúva, Mara,
43, e a mãe dela, Claudete, 63.
O filho, o estudante do 2º ano
do ensino médio Talisson
Cleiss, 16, está na escola e, segundo Mara, dificilmente vai
querer falar sobre o assunto.
"A reação dele foi a pior possível", lembra ela, que é auxiliar
de enfermagem na penitenciária. "Gritou muito, ficou revoltado, chegou a ter convulsões e
passou um bom tempo à base
de calmantes. Há pouco tempo,
deu um soco na parede que esmigalhou um azulejo."
Duas argolas pequenas nas
orelhas, boné, camiseta e bermuda, Talisson entra em casa
dizendo que não houve aula,
cumprimenta todos e vai para o
quarto.
A mãe o chama, e, a despeito
dos prognósticos, ele fala com
muita suavidade sobre o pai. "A
gente sempre ia pescar junto,
jogava bola, ele era um companheirão", conta.
"Hoje, lembro dele quando
ouço a música Marrom Bombom (do grupo Os Morenos),
porque era a que ele mais gostava de cantar no karaokê."
Nota-se imediatamente que
o pai era uma espécie de herói
imortal para Talisson: ele conta
que riu quando um amigo ligou
para avisar que o agente havia
sido assassinado. Achou que
fosse brincadeira.
"Mas não era. Fui levado para
a Santa Casa e já tinha muita
gente lá, policiais, agentes penitenciários, familiares. Pensei
que os médicos ainda estavam
operando meu pai, mas minha
mãe me chamou em um canto e
disse a verdade."
A família conta que, embora
Robson fosse agente penitenciário, jamais imaginaram que
o perderiam para bandidos.
"Ele era muito querido pela
população carcerária, tanto
que os presidiários fizeram luto
de três dias", conta Mara.
Todos concordam que o pai
era a pessoa mais festeira da casa. "Por ele, a gente comemorava até o aniversário dos cachorros", lembra Mara. "O Robson
não sossegava enquanto não fizesse todo mundo rir."
"E a principal vítima das graças dele era a minha avó", diz
Mayara, rindo.
"Até no caixão. Ele estava sereno e, parece mentira, sorrindo", conta Mara.
A avó dos meninos, Claudete,
diz baixinho: "Quem mata acaba com os sonhos de quem vai e
de quem fica".
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