São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte de agente leva família ao cemitério no Dia dos Pais

PAULO SAMPAIO
ALENCAR IZIDORO

DA REPORTAGEM LOCAL

Atento às notícias sobre os primeiros grandes ataques do PCC em São Paulo, em maio, o agente penitenciário Robson Cleis, 46, nem percebeu quando bandidos da facção invadiram a padaria onde ele assistia ao "Fantástico" com a mulher, Mara, para disparar 19 tiros em sua cabeça.
Quase três meses depois daquele domingo, Dia das Mães, os filhos de Robson vão comemorar o Dia dos Pais no cemitério. "Vou levar umas flores pra ele, quero que esse dia passe rápido", diz a estudante Mayara Marjorie, 18, filha de Robson.
Além da filha do agente, estão na sala da casa de três quartos, em um bairro de classe média de Sorocaba, a viúva, Mara, 43, e a mãe dela, Claudete, 63.
O filho, o estudante do 2º ano do ensino médio Talisson Cleiss, 16, está na escola e, segundo Mara, dificilmente vai querer falar sobre o assunto.
"A reação dele foi a pior possível", lembra ela, que é auxiliar de enfermagem na penitenciária. "Gritou muito, ficou revoltado, chegou a ter convulsões e passou um bom tempo à base de calmantes. Há pouco tempo, deu um soco na parede que esmigalhou um azulejo."
Duas argolas pequenas nas orelhas, boné, camiseta e bermuda, Talisson entra em casa dizendo que não houve aula, cumprimenta todos e vai para o quarto.
A mãe o chama, e, a despeito dos prognósticos, ele fala com muita suavidade sobre o pai. "A gente sempre ia pescar junto, jogava bola, ele era um companheirão", conta.
"Hoje, lembro dele quando ouço a música Marrom Bombom (do grupo Os Morenos), porque era a que ele mais gostava de cantar no karaokê."
Nota-se imediatamente que o pai era uma espécie de herói imortal para Talisson: ele conta que riu quando um amigo ligou para avisar que o agente havia sido assassinado. Achou que fosse brincadeira.
"Mas não era. Fui levado para a Santa Casa e já tinha muita gente lá, policiais, agentes penitenciários, familiares. Pensei que os médicos ainda estavam operando meu pai, mas minha mãe me chamou em um canto e disse a verdade."
A família conta que, embora Robson fosse agente penitenciário, jamais imaginaram que o perderiam para bandidos.
"Ele era muito querido pela população carcerária, tanto que os presidiários fizeram luto de três dias", conta Mara.
Todos concordam que o pai era a pessoa mais festeira da casa. "Por ele, a gente comemorava até o aniversário dos cachorros", lembra Mara. "O Robson não sossegava enquanto não fizesse todo mundo rir."
"E a principal vítima das graças dele era a minha avó", diz Mayara, rindo.
"Até no caixão. Ele estava sereno e, parece mentira, sorrindo", conta Mara.
A avó dos meninos, Claudete, diz baixinho: "Quem mata acaba com os sonhos de quem vai e de quem fica".


Texto Anterior: Ronaldinho, 3 meses, não terá lembrança do pai assassinado
Próximo Texto: População carcerária do Estado cresce quase 300% em 12 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.