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Ronaldinho, 3 meses, não terá lembrança do pai assassinado
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ronaldo Gabriel, três meses
e meio, nunca vai se lembrar do
pai. Nem do seu rosto ou da sua
voz. Tinha 20 dias quando São
Paulo vivia uma guerra, iniciada pelos ataques do PCC à polícia. Era 15 de maio e ainda estava claro quando seu pai, Lindomar Lino da Silva, 29, voltava
para casa em São Mateus, zona
leste da cidade. No meio do caminho, foi atingido por tiros,
supostamente disparados por
policiais que naquela tarde começaram a reagir aos ataques.
Morreu com uma bala nas
costas e duas na cabeça. Não
pôde nem realizar o desejo de
assistir à Copa do Mundo com o
filho nos braços. Fanático por
Ronaldinho, deu o nome do
ídolo gaúcho ao bebê, mesmo
com a mulher Maria Dinauci de
Lima, 23, sendo contra. Pai de
uma menina de um ano e dez
meses, Lindomar era louco para ter um filho homem. "No dia
em que o Ronaldo nasceu, saiu
pela rua mostrando o bebê para
todo mundo", lembra Dinauci.
Paizão daqueles que têm dois
empregos (ele trabalhava de dia
como cabeleireiro e à noite em
uma lanchonete) e chega em
casa com disposição para rolar
pelo tapete com as crianças.
"Não importava a hora, quando
ele entrava, pegava a Samantha
e brincava com ela sem parar.
Era difícil separar os dois, eles
passavam horas dando risada",
conta a viúva. O grude era tanto
que Dinauci teve de se mudar
de casa e esconder as fotos do
marido porque a menina perguntava pelo pai a todo instante. "Ela não entende o que
aconteceu e não quero que sofra ainda mais."
Quando os filhos crescerem,
diz, vai tentar explicar o que
aconteceu com o marido. "Vai
ser difícil explicar porque ele
morreu sem motivo. Era honesto, foi uma vítima inocente
dessa guerra." Dinauci não gosta de falar no assunto, mas suspeita que o marido tenha sido
assassinado por policiais.
Os vizinhos do casal também
acreditam que os atiradores estavam nas garupas de duas motos, que eram acompanhadas
por um carro da PM. Naquela
tarde do dia 15, a cidade toda tinha parado e a maioria dos trabalhadores voltava para casa
mais cedo. Lindomar era um
deles. O caso agora está na Ouvidoria da Polícia, que instaurou um processo para apurar de
quem é a culpa pelo crime.
Dinauci segue a vida sem nenhuma ajuda do Estado e tenta
criar os filhos. Para trabalhar
como assistente de padeiro e
ganhar R$ 400 no fim do mês, a
viúva paga três crianças da vizinhança para olharem os filhos.
"Não consegui nem vaga na
creche." Do salão que o marido
tinha, recebe apenas R$ 100.
"Pago aluguel, água, luz, comida e o pessoal para tomar conta
das crianças."
Vindo de Solonópole, no sertão cearense, há dez anos, o casal queria prosperar na cidade
grande. Levava uma vida simples, mas não passava necessidade e não deixava de comemorar datas especiais. "Não quero
nem lembrar do Dia dos Pais. É
muito triste saber que meus filhos vão crescer sem um."
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