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Preso empresário acusado de mandar assassinar a filha
Renato Archilla, 49, foi detido junto com seu pai, Nicolau Archilla Messa, 81; publicitária sobreviveu a 4 tiros em 2001
Fruto de um namoro de juventude, Renata, 29, teve sua filiação e seu direito
à herança e à pensão reconhecidos pela Justiça
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
Foram presos ontem os empresários e fazendeiros Nicolau
Archilla Messa, 81, e Renato
Garembeck Archilla, 49, pai e
filho. Acusação: tentativa de
homicídio contra a publicitária
Renata Guimarães Archilla, 29,
neta do primeiro e filha do segundo, em dezembro de 2001.
O crime foi cometido por José Benedito da Silva, então policial militar, condenado em
2006 a 13 anos e quatro meses
de prisão. Segundo as investigações, Silva agiu a mando dos
dois homens presos ontem, que
queriam livrar-se de Renata,
fruto de um amor de juventude
entre Renato e a mãe dela, Iara
Guimarães.
A defesa dos dois acusados
afirmou ontem que eles são
inocentes (leia texto abaixo).
Em 1999, depois de um processo de reconhecimento de
paternidade que se arrastou
por dez anos, a Justiça cravou
que Renata era mesmo filha de
Renato. A jovem conquistou o
direito de usar o nome do pai.
Também passaria a receber
pensões alimentícias (inclusive
atrasadas) e seria "herdeira necessária" dos bens familiares.
Papai Noel
Às 9h15 do dia 17 de dezembro de 2001, entretanto, quando Renata se dirigia para o trabalho em uma agência de publicidade no Morumbi (zona oeste de São Paulo), um homem
vestido de Papai Noel, que distribuía balas para motoristas
parados no semáforo, assim
que viu o Fiat Palio dela caminhou decidido em sua direção.
Na hora, a jovem, então com 21
anos, achou que seria assaltada.
Fechou os vidros escurecidos
com película, baixou o som do
rádio, escondeu a bolsa. "Papai
Noel" nem pediu nada. Sacou a
arma e começou a disparar.
A luz do dia em contraste
com a penumbra dentro do carro impediu "Papai Noel" de enxergar Renata com precisão. Ao
todo foram três disparos no
rosto e um no pulso. De dentro
do carro, Renata via o "Papai
Noel" aproximando o rosto para tentar divisá-la.
"Cena hedionda, própria de
filmes de terror", anotou a juíza
Patrícia Álvares Cruz. "A vítima, moça jovem e bela, teve o
seu rosto desfigurado. Perdeu
boa parte dos dentes e sofreu
inúmeras cirurgias para a reconstrução da face. (...) Em virtude de uma delas, acometida
de grave pneumonia, teve a sua
morte anunciada." Sobreviveu.
"Papai Noel" fugiu certo de
ter feito o serviço. Desfez-se da
fantasia a poucos quarteirões
dali, bem na frente do gerente
do motel Desirée, que pôde reconhecê-lo depois de preso.
Um vizinho de Renata, ao ser
informado do que ocorrera,
lembrou-se de ter visto um carro parado defronte à casa dela,
do qual havia anotado as placas.
Eram de Sorocaba (100 km de
São Paulo) e pertenciam ao policial, que vivia naquela cidade.
Soube-se depois que havia feito
bicos no haras dos Archilla, no
mesmo município.
Rastreando os telefonemas
feitos dos aparelhos do policial,
os investigadores dizem ter
conseguido estabelecer a conexão definitiva entre o quase assassino e familiares da jovem.
Na madrugada de ontem, o
casarão em estilo modernista
da família Archilla, na rua Colômbia (Jardim América, zona
oeste de São Paulo), teve de
abrir as amplas portas para os
policiais que foram buscar pai e
filho para levá-los ao Centro de
Detenção Provisória do Belém.
Foi nesse local, em que até
ontem moravam o patriarca
Nicolau, a mulher dele, Alice,
80, e o filho Renato, que Renata
encontrou o pai pela primeira
vez, aos 16 anos. A mãe, Iara, tinha acabado de morrer de câncer e a menina quis conhecê-lo.
Ao advogado Felipe Pismel, Renata contou que o pai lhe disse
que desaparecesse.
Segundo o promotor Roberto
Tardelli, "os denunciados agiram por motivo torpe, qual seja
a exclusão de Renata do rol de
herdeiros". Ele espera que o
julgamento aconteça neste ano.
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