São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Preso empresário acusado de mandar assassinar a filha

Renato Archilla, 49, foi detido junto com seu pai, Nicolau Archilla Messa, 81; publicitária sobreviveu a 4 tiros em 2001

Fruto de um namoro de juventude, Renata, 29, teve sua filiação e seu direito à herança e à pensão reconhecidos pela Justiça

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO

Foram presos ontem os empresários e fazendeiros Nicolau Archilla Messa, 81, e Renato Garembeck Archilla, 49, pai e filho. Acusação: tentativa de homicídio contra a publicitária Renata Guimarães Archilla, 29, neta do primeiro e filha do segundo, em dezembro de 2001.
O crime foi cometido por José Benedito da Silva, então policial militar, condenado em 2006 a 13 anos e quatro meses de prisão. Segundo as investigações, Silva agiu a mando dos dois homens presos ontem, que queriam livrar-se de Renata, fruto de um amor de juventude entre Renato e a mãe dela, Iara Guimarães.
A defesa dos dois acusados afirmou ontem que eles são inocentes (leia texto abaixo).
Em 1999, depois de um processo de reconhecimento de paternidade que se arrastou por dez anos, a Justiça cravou que Renata era mesmo filha de Renato. A jovem conquistou o direito de usar o nome do pai. Também passaria a receber pensões alimentícias (inclusive atrasadas) e seria "herdeira necessária" dos bens familiares.

Papai Noel
Às 9h15 do dia 17 de dezembro de 2001, entretanto, quando Renata se dirigia para o trabalho em uma agência de publicidade no Morumbi (zona oeste de São Paulo), um homem vestido de Papai Noel, que distribuía balas para motoristas parados no semáforo, assim que viu o Fiat Palio dela caminhou decidido em sua direção. Na hora, a jovem, então com 21 anos, achou que seria assaltada. Fechou os vidros escurecidos com película, baixou o som do rádio, escondeu a bolsa. "Papai Noel" nem pediu nada. Sacou a arma e começou a disparar.
A luz do dia em contraste com a penumbra dentro do carro impediu "Papai Noel" de enxergar Renata com precisão. Ao todo foram três disparos no rosto e um no pulso. De dentro do carro, Renata via o "Papai Noel" aproximando o rosto para tentar divisá-la.
"Cena hedionda, própria de filmes de terror", anotou a juíza Patrícia Álvares Cruz. "A vítima, moça jovem e bela, teve o seu rosto desfigurado. Perdeu boa parte dos dentes e sofreu inúmeras cirurgias para a reconstrução da face. (...) Em virtude de uma delas, acometida de grave pneumonia, teve a sua morte anunciada." Sobreviveu.
"Papai Noel" fugiu certo de ter feito o serviço. Desfez-se da fantasia a poucos quarteirões dali, bem na frente do gerente do motel Desirée, que pôde reconhecê-lo depois de preso.
Um vizinho de Renata, ao ser informado do que ocorrera, lembrou-se de ter visto um carro parado defronte à casa dela, do qual havia anotado as placas. Eram de Sorocaba (100 km de São Paulo) e pertenciam ao policial, que vivia naquela cidade. Soube-se depois que havia feito bicos no haras dos Archilla, no mesmo município.
Rastreando os telefonemas feitos dos aparelhos do policial, os investigadores dizem ter conseguido estabelecer a conexão definitiva entre o quase assassino e familiares da jovem.
Na madrugada de ontem, o casarão em estilo modernista da família Archilla, na rua Colômbia (Jardim América, zona oeste de São Paulo), teve de abrir as amplas portas para os policiais que foram buscar pai e filho para levá-los ao Centro de Detenção Provisória do Belém.
Foi nesse local, em que até ontem moravam o patriarca Nicolau, a mulher dele, Alice, 80, e o filho Renato, que Renata encontrou o pai pela primeira vez, aos 16 anos. A mãe, Iara, tinha acabado de morrer de câncer e a menina quis conhecê-lo. Ao advogado Felipe Pismel, Renata contou que o pai lhe disse que desaparecesse.
Segundo o promotor Roberto Tardelli, "os denunciados agiram por motivo torpe, qual seja a exclusão de Renata do rol de herdeiros". Ele espera que o julgamento aconteça neste ano.

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