São Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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MARIA MOURA MAGALHÃES GOMES (1916-2009)

As balas de coco e a convivência com o escuro

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Até a rainha da Inglaterra, quando veio ao país nos anos 60, experimentou as balas de Maria Moura Magalhães Gomes, lembra a sobrinha Ana Lucia. Branquinhas, de coco, eram embrulhadas em papel de seda e foram encomendadas pelo governador para adoçar a boca da visita real.
Todas as famílias tradicionais de SP costumavam comprar a guloseima, conta a sobrinha. A bala começou a ficar famosa a partir dos anos 30, quando a mãe de Maria, dona Yayá, deu início à fabricação caseira do doce.
As filhas logo assumiram o comando do negócio. Mesmo tendo ficado cega aos 18 anos, devido a uma doença degenerativa, Maria não parou de preparar as balas.
Quando os sobrinhos iam visitá-la em casa -eram 14, sempre pretendendo invadir a cozinha-, a ordem era que não tirassem nenhum objeto do lugar. Um banquinho esquecido no meio do caminho poderia causar um acidente.
Ela nunca reclamou da doença. Independente, adaptou-se tão bem à deficiência que os sobrinhos mal notavam suas dificuldades.
Seus olhos, no fundo, eram sua irmã Nícia, com quem morava e saía de casa para ir à igreja. Quando a irmã morreu, há alguns anos, disse: "Nunca imaginei que ela fosse antes de mim".
As balas, agora, são raramente preparadas por seu único irmão que permanece vivo. Maria morreu terça da semana passada, aos 93, após sofrer uma parada respiratória. Solteira, não deixa filhos.

coluna.obituario@uol.com.br


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