|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA MOURA MAGALHÃES GOMES (1916-2009)
As balas de coco e a convivência com o escuro
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Até a rainha da Inglaterra,
quando veio ao país nos anos
60, experimentou as balas de
Maria Moura Magalhães Gomes, lembra a sobrinha Ana
Lucia. Branquinhas, de coco,
eram embrulhadas em papel
de seda e foram encomendadas pelo governador para
adoçar a boca da visita real.
Todas as famílias tradicionais de SP costumavam comprar a guloseima, conta a sobrinha. A bala começou a ficar famosa a partir dos anos
30, quando a mãe de Maria,
dona Yayá, deu início à fabricação caseira do doce.
As filhas logo assumiram o
comando do negócio. Mesmo tendo ficado cega aos 18
anos, devido a uma doença
degenerativa, Maria não parou de preparar as balas.
Quando os sobrinhos iam
visitá-la em casa -eram 14,
sempre pretendendo invadir
a cozinha-, a ordem era que
não tirassem nenhum objeto
do lugar. Um banquinho esquecido no meio do caminho
poderia causar um acidente.
Ela nunca reclamou da
doença. Independente,
adaptou-se tão bem à deficiência que os sobrinhos mal
notavam suas dificuldades.
Seus olhos, no fundo, eram
sua irmã Nícia, com quem
morava e saía de casa para ir
à igreja. Quando a irmã morreu, há alguns anos, disse:
"Nunca imaginei que ela fosse antes de mim".
As balas, agora, são raramente preparadas por seu
único irmão que permanece
vivo. Maria morreu terça da
semana passada, aos 93, após
sofrer uma parada respiratória. Solteira, não deixa filhos.
coluna.obituario@uol.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Escolas particulares não afastam grávidas Índice
|