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RIO
Processos no Superior Tribunal Militar mostram que soldados e sargentos ajudam a desviar armamento pesado e facilitam furtos
Tráfico usa militares para reforçar arsenal
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Processos no STM (Superior
Tribunal Militar) mostram que os
traficantes das principais favelas
do Rio de Janeiro estão cooptando militares de baixa patente para
desviar fuzis, granadas e submetralhadoras dos quartéis ou ajudar em invasões às unidades para
furtos das armas.
A Folha obteve investigações
que chegaram ao STM, as quais
comprovam a ação conjunta de
militares e traficantes que buscam
reforçar seus arsenais com armamento pesado.
Segundo os processos, neste
ano, um cabo e um soldado da
Marinha foram condenados por
terem ajudado traficantes a invadir uma unidade da corporação
em 2002 e três fuzileiros navais foram denunciados sob acusação de
ter desviado armas de um quartel
para vender ao tráfico.
O total de casos comprovados
neste ano indica um aumento do
número de militares envolvidos
com o tráfico. Entre 1995 e 2003,
só outros oito integrantes das
Forças Armadas haviam sido
condenados e quatro denunciados pelo mesmo motivo.
Os últimos condenados foram o
soldado da Marinha Carlos
Eduardo Mombrine Louzada -a
seis anos de prisão- e o cabo Sidney Antunes Pessoa -a nove
anos. De acordo com o Superior
Tribunal Militar, ambos participaram da invasão à Estação Rádio
Central da Marinha, em Duque de
Caxias (Baixada Fluminense), no
dia 25 de agosto de 2002.
Os dois e mais quatro homens
armados renderam dois sentinelas do quartel e roubaram seis fuzis, duas pistolas, 247 munições e
três coletes à prova de bala.
A invasão, segundo o processo,
foi comandada por traficantes da
favela do Dique, no Jardim América (zona norte). Louzada e Pessoa foram condenados em primeira instância, mas recorreram
da decisão. Estão presos.
Desvio recente
Dois inquéritos sobre episódios
recentes de desvio de armas em
quartéis do Rio estão próximos de
serem concluídos.
Em março, os fuzileiros navais
Inácio Vicente da Silva, Cliff Bruce Moreno Ferreira e Sílvio Pimentel foram denunciados à Justiça Militar sob a acusação de terem furtado dez submetralhadoras do Centro de Reparos e Suprimentos do Corpo de Fuzileiros
Navais, no dia 28 de fevereiro.
De acordo com a denúncia, Silva e Ferreira pretendiam vender
as armas para traficantes, o que
não ocorreu porque elas foram
apreendidas antes.
Em agosto do ano passado, dois
soldados e um cabo do Exército
foram denunciados sob a acusação de terem desviado 1.100 munições do 3º Batalhão de Infantaria Blindado (em São Gonçalo, cidade a 25 km de distância do Rio),
em junho de 2003.
Segundo a Promotoria Militar, a
ação contou com a participação
de um ex-militar e a munição foi
vendida por R$ 5.000 ao traficante
apelidado de Neném, da favela
Vila do João, no complexo da Maré (zona norte).
Condenações
Outros processos da Justiça Militar mostram que armas roubadas por militares são destinadas a
traficantes que atuam em favelas
do Rio.
Em 2002, os soldados do Exército Alex Cardoso Barreto e Paulo
César Mendonça foram condenados a dois anos de prisão pelo
roubo de um fuzil do 1º Depósito
de Suprimento, em Manguinhos
(zona norte), em 20 de dezembro
de 2001. O fuzil foi vendido a traficantes do morro do Chapadão,
em Costa Barros (zona norte).
O sargento fuzileiro naval Fábio
Reis, que servia no Batalhão de
Operações Especiais de Fuzileiros
Navais, foi condenado a quatro
anos e seis meses de prisão depois
que escutas telefônicas feitas em
2000 pela Polícia Civil comprovaram que negociava a venda de armas e munições desviadas de
quartéis com o traficante Márcio
José Guimarães, o Tchaca, do CV
(Comando Vermelho).
Quando foi preso, no mesmo
ano, a polícia apreendeu com Reis
539 munições, além de granadas
de uso exclusivo da Marinha.
Já o soldado do Exército João
Carlos Teixeira Coutinho foi condenado e expulso das Forças Armadas por ter furtado um fuzil do
24º Batalhão de Infantaria Blindado (Bonsucesso, zona norte), em
maio de 2000. A arma, segundo os
autos, seria vendida no morro da
Fazendinha, no complexo do Alemão (zona norte).
Uma quadrilha formada por
quatro militares do Exército foi
desarticulada em 1995. Naquele
ano, os soldados Mauro Luiz Garcia Silva, Marcelo Rozeno, Aílson
Luiz dos Santos e o sargento Flávio Augusto Pereira foram condenados a penas de três a cinco anos
de prisão, depois que ficou comprovado que desviaram munição
para vender a traficantes.
Segundo relatório do STM, os
quatro furtaram 21 caixas com
420 cartuchos de munição 7,62
mm do Batalhão de Forças Especiais (em Guadalupe, zona norte),
onde serviam. Outras caixas de
munição, além de granadas, foram desviadas posteriormente
pelo mesmo grupo.
Segundo os autos, os militares
manipulavam os registros de entrada e saída de munições para esconder os desvios. As munições
foram vendidas em favelas como
Rocinha e Dona Marta, ambas na
zona sul, e no complexo de São
Carlos (zona central).
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