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SAÚDE
Funcionários de laboratório oferecem amostras grátis a quem comprar medicamento; Anvisa proíbe a prática
Propagandista dá remédio a paciente
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Propagandistas do laboratório
farmacêutico Eurofarma estão
distribuindo amostras grátis de
medicamentos diretamente a
consumidores. A prática contraria resolução da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária)
que estabelece que essas amostras
devem ser dadas "exclusivamente
aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar"
tais produtos -médicos, farmacêuticos, veterinários e dentistas.
De acordo com Maria José Fagundes, gerente de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa, o procedimento é
"totalmente ilegal". "Só o médico
pode distribuir a amostra. A relação tem que ser entre ele e o paciente, não pode ter alguém intermediando."
A empresa diz que os representantes não são orientados a agir
assim (leia texto nesta página).
O esquema funciona da seguinte maneira: na caixa das amostras
que distribuem aos médicos, os
propagandistas colocam etiquetas com o dizer ""economize 30%
mensalmente" e números de telefones celulares.
Após receber do médico o remédio, o paciente pode ligar e pedir o desconto. O representante
do laboratório explica, então, que
esse desconto é dado na forma de
mais caixas com amostras grátis,
entregues à pessoa quando ela
comprova que comprou na farmácia uma caixa nova do medicamento pelo preço de mercado.
A Folha teve acesso a duas dessas caixas, ambas de remédios
psiquiátricos controlados (cloridrato de paroxetina e cloridrato
de fluoxetina, antidepressivos).
Os telefones são de Porto Alegre e
Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Em conversa telefônica na qual
a repórter da Folha se identificou
como consumidora, o propagandista de Porto Alegre disse que o
cliente poderia comprar o remédio em qualquer farmácia, guardar a caixa e ligar para ele para ganhar ""um complemento de
amostra". "A cada caixa que for
comprada, eu dou outra." Questionado se o consumidor teria algum custo com a amostra, disse:
"Não paga nada, sou propagandista do laboratório".
Um psiquiatra de Pelotas, que
não quis se identificar, confirmou
que o propagandista da Eurofarma deixou em seu consultório as
amostras etiquetadas. Ele afirmou
que não sabia que o desconto,
nesse caso, era dado em amostras
grátis. "Eles deixam as amostras e
dão descontos nos programas de
fidelização. Como quero que o
paciente tenha acesso ao remédio,
não vejo problema. Mas não sabia
como era dado esse desconto."
Para Roberto Dávila, corregedor do CFM (Conselho Federal de
Medicina), os médicos podem estar sendo intermediários no esquema por desinformação ou por
querer ajudar o paciente.
"Muitos não sabem ou não
prestam atenção, e outros acham
que vão beneficiar o paciente. Isso
é antiético, o caminho não é esse",
afirma Dávila.
Segundo ele, o CFM se reunirá
com a Anvisa para discutir o assédio da indústria farmacêutica e
começará a orientar os médicos
sobre a questão.
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