São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HC demite médico que escreveu livro sobre hospital

Em obra, ex-diretor do Instituto Central Waldemir Rezende relata irregularidades

Médico demitido "por justa causa", segundo hospital, diz que vai recorrer; "Tudo o que escrevi é verdade e tem que servir como lição", disse

DA REPORTAGEM LOCAL

O HC (Hospital das Clínicas) decidiu demitir "por justa causa" o médico Waldemir Rezende, ex-diretor do Instituto Central do hospital, autor de um livro em que relata irregularidades supostamente cometidas no instituto. A decisão deve ser publicada hoje no "Diário Oficial" do Estado. O médico diz que irá recorrer à Justiça.
Lançado em dezembro passado, o livro "Estação Clínicas -Os Bastidores do Maior Hospital Público da América Latina" conta histórias de superfaturamento, compras sem licitação e furtos, entre outras irregularidades que Rezende diz ter encontrado no Hospital das Clínicas ao assumir a direção, em dezembro de 2002.
"Tenho a consciência tranqüila. Tudo o que escrevi é verdade e tem que servir como lição de como trabalhar e administrar com sucesso", afirmou ontem Rezende, que ainda não havia tomado conhecimento da demissão oficialmente.
Procurado, o HC não quis se manifestar sobre o caso. A decisão foi tomada pela comissão de sindicância aberta pelo hospital para apurar suposta "transgressão de deveres e proibições funcionais, que configuram procedimentos irregulares de natureza grave".
Formado em 1983 e médico do HC há 15 anos, Rezende afirma que irá recorrer da decisão à Justiça do Trabalho. "Eles [HC] estão no direito deles [de decidir pela demissão]. Mas vou usar de tudo o que tiver direito para não deixar mancharem meu currículo depois de 25 anos", diz o médico, que atua na Divisão de Clínica Obstétrica.
No livro, o médico não cita nomes, mas diz que todos os casos estão em atas e foram transformados em sindicâncias internas e boletins de ocorrência.
A Folha apurou, entretanto, que a comissão decidiu demitir o médico porque ele não teria apresentado, durante o processo de sindicância, provas das acusações feitas no livro e em entrevistas à imprensa.
O processo teria provado ainda a legalidade de uma festa que, segundo o livro, foi bancada por empresas com contrato com o hospital. Em vez disso, a festa teria sido paga por funcionários. Rezende não quis comentar detalhes do processo.
"Relatei o que foi encontrado. Quem pode julgar são os funcionários, que estavam lá antes e que podem comparar."
Entre as histórias, ele conta que o HC comprava, de uma única empresa, feijão, fio cirúrgico, luvas, camisinhas, canetas, lápis e dezenas de outros itens, quase sempre superfaturados ou de má qualidade e sem aplicar punições.
(RICARDO SANGIOVANNI e RICARDO WESTIN)


Texto Anterior: Rio de Janeiro: Só uma entidade se interessa por gerir Cidade da Música
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.