São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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ANTÔNIO THOMAZ ORTIZ (1918-2008)

Um tipo que "carrega a tristeza" calado

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"É um bom tipo, meu velho, que anda só e carregando sua tristeza infinita", canta Altemar Dutra, triste como a música. Assim, o filho define o pai que voltou da Segunda Guerra Mundial (vitorioso) para não mais tocar no assunto. "Fui, cumpri o dever, fiz meu melhor e saudações", dizia Antônio Thomaz Ortiz.
Foi no dia 21 de fevereiro de 1945 que os combatentes da Força Expedicionária Brasileira conseguiram tomar o Monte Castelo (Itália) dos alemães. Quem na batalha esteve não esquece. Não é que Ortiz não esquecesse. Preferia não lembrar.
Tanto que o cantil, o cinto e todos os despojos pessoais da guerra acabaram se perdendo. Restaram as fotos de momentos felizes (em que os soldados posavam em Roma, em Pisa, em Veneza, garbosos da vitória) -e a memória.
"Meu pai nunca foi de desfiles", diz o filho, de quem teve dois netos e dois bisnetos. "É que não era muito social e não gostava de falar do assunto." Era um filho de pecuaristas de Soledad (RS), que saiu da fazenda para entrar para o Exército e acabou indo à guerra. Reformado há mais de 40 anos, passava os dias com netos e bisnetos e a canastra no clube -"entre as boas amizades que tinha".
Dia 7 completou 90 anos, não sem a troça do filho; é que um dia depois se comemora a rendição das tropas alemãs. "Eu dizia que era seu presente de aniversário." Morreu, de falência múltipla dos órgãos, aos 90, domingo, Dia da Independência.

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