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ANTÔNIO THOMAZ ORTIZ (1918-2008)
Um tipo que "carrega a tristeza" calado
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"É um bom tipo, meu velho, que anda só e carregando
sua tristeza infinita", canta
Altemar Dutra, triste como a
música. Assim, o filho define
o pai que voltou da Segunda
Guerra Mundial (vitorioso)
para não mais tocar no assunto. "Fui, cumpri o dever,
fiz meu melhor e saudações",
dizia Antônio Thomaz Ortiz.
Foi no dia 21 de fevereiro
de 1945 que os combatentes
da Força Expedicionária
Brasileira conseguiram tomar o Monte Castelo (Itália)
dos alemães. Quem na batalha esteve não esquece. Não é
que Ortiz não esquecesse.
Preferia não lembrar.
Tanto que o cantil, o cinto
e todos os despojos pessoais
da guerra acabaram se perdendo. Restaram as fotos de
momentos felizes (em que os
soldados posavam em Roma,
em Pisa, em Veneza, garbosos da vitória) -e a memória.
"Meu pai nunca foi de desfiles", diz o filho, de quem teve dois netos e dois bisnetos.
"É que não era muito social e
não gostava de falar do assunto." Era um filho de pecuaristas de Soledad (RS),
que saiu da fazenda para entrar para o Exército e acabou
indo à guerra. Reformado há
mais de 40 anos, passava os
dias com netos e bisnetos e a
canastra no clube -"entre as
boas amizades que tinha".
Dia 7 completou 90 anos,
não sem a troça do filho; é
que um dia depois se comemora a rendição das tropas
alemãs. "Eu dizia que era seu
presente de aniversário."
Morreu, de falência múltipla
dos órgãos, aos 90, domingo,
Dia da Independência.
obituario@folhasp.com.br
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