São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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Prédio nega a deficiente vaga de garagem com acesso fácil

Vizinhos decidiram que cadeirante ficaria com vaga descoberta, apertada e longe do elevador

Ata da reunião de condomínio na Vila Sônia (zona oeste de SP) registra que não haveria "concessão a nenhum dos moradores"

Edson Lopes Jr./Folha Imagem
Maria Inês Fantin entre o carro de sua família (à esquerda) e o de um vizinho, na garagem do condomínio onde mora, na zona oeste

JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO

Uma cadeirante de 60 anos ficou com uma vaga de garagem descoberta, longe do elevador e apertada por uma decisão de seus vizinhos de um condomínio na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Por 19 votos a 4, os moradores definiram que, no sorteio das vagas, não haveria exceção a ninguém, nem a deficientes físicos, nem a idosos.
A família da psicóloga e bacharel em direito Maria Inês Fantin mora de aluguel no apartamento e diz que, por isso, não pode votar. Ela pretende recorrer à Justiça por entender que o direito aos deficientes, assim como aos idosos, está amparado por lei.
Maria Inês disse se sentir ultrajada. "Não é nem uma questão de lei, é de humanidade, de educação." A administração do prédio e a síndica afirmam que escolha foi da maioria (leia texto ao lado).
O prédio Maison Le Havre tem 36 apartamentos, com uma vaga de estacionamento para cada, sendo seis delas simples (sem carros atrás) e mais perto do elevador.
No sorteio, restou à família Fantin uma vaga dupla -o carro de trás precisa ser retirado para o da frente sair- e que é a mais distante do elevador (em torno de oito metros).
Fantin é a única cadeirante do prédio, onde também moram quatro idosos. Ela sofre há 12 anos da doença Joseph Machado, que é degenerativa e traz complicações à coordenação motora gradativamente.
Há oito anos, sem o movimento das pernas, a psicóloga precisou ser colocada em uma cadeira de rodas e sofre com engasgos e taquicardias freqüentemente. "Agora, se minha mãe tiver de ser socorrida no meio da noite, e nosso carro estiver na vaga da frente, vou ter de tirar o carro de trás, sair com o carro, colocar minha mãe [no carro], guardar a cadeira, voltar com o outro carro e, então, sair. Emergência para quê, né"?, ironizou a filha Ana Victoria Fantin, 26.
A polêmica em torno do sorteio das vagas estendeu-se por três reuniões do condomínio. Na primeira, quando o marido de uma médica idosa pediu que continuasse com uma vaga simples, sob o argumento de que ela presta socorro à noite, a ata da reunião registra que não haveria "concessão a nenhum dos moradores".
O marido da cadeirante, o economista José Antônio Fantin, 63, disse que soube pelo porteiro que precisaria mudar de vaga. Quando pediu por escrito uma explicação, a administradora do prédio respondeu por e-mail: "Os condôminos definiram que nem os idosos, nem os deficientes terão benefícios, já que isso fere o direito de propriedade".
"Benefícios? Privilégio? Deus me livre se alguém como minha mulher precisar do "privilégio" de ficar preso a uma cadeira de rodas", afirmou ele.


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