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SAÚDE
Médico usa inseminação artificial em mulheres soronegativas casadas com homens infectados pelo vírus da Aids
"Lavagem' de sêmen livra bebês de HIV
NOELLY RUSSO
da Reportagem Local
A Aids inaugurou um novo procedimento de segurança para o ato
sexual: a inseminação artificial
mesmo para aqueles que não têm
problema de fertilidade.
O objetivo é ajudar casais a ter
filhos com o menor risco de infecção, no caso de homens infectados
pelo vírus da doença e casados
com mulheres soronegativas.
"Esse grupo de mulheres está
disposto a correr riscos de infecção sem nenhuma assistência só
para ter um filho. Por isso, desenvolvemos técnicas para ajudá-las", diz o médico italiano Augusto Semprini, do departamento
de obstetrícia do San Paolo Instituto, em Milão.
Ele participa a partir de amanhã
do 1º Simpósio Internacional sobre Aids e Mulher em São Paulo.
Em entrevista por telefone à Folha, Semprini afirmou que faz a
inseminação assistida para diminuir ao máximo o risco de contaminação da mulher.
O método consiste em "lavar"
o sêmen do homem para desinfectá-lo do vírus da Aids.
Para isso, é colhido sêmen do
marido HIV positivo e, por meio
de procedimentos laboratoriais, é
obtida a quantidade de espermatozóides "limpos" necessária para a inseminação.
Entre os procedimentos estão a
centrifugação, controle de temperatura e da taxa de infecção, além
de uso de substâncias químicas.
Depois disso, os espermatozóides
são injetados na mulher em seu
período fértil.
"O procedimento não é 100%
seguro. Os casais assinam um documento atestando que concordaram com a tentativa."
O sêmen vai sendo aprovado em
diferentes etapas dos exames. A
última amostra de sêmen, preservada para a inseminação, não participa dos testes. O instituto pressupõe que, como parte da amostra
total que foi "lavada", essa última está limpa.
Semprini diz que o ideal é obter a
gravidez na primeira tentativa
(37% dos casos). Quanto menos a
mulher for exposta ao sêmen contaminado, menor a chance de se
infectar. Já foram realizadas 1.585
inseminações, sem nenhum contágio (veja quadro). O resultado
são 206 bebês sãos. As mães também não foram contaminadas.
Os casais têm de cumprir algumas tarefas. Eles precisam usar camisinha por seis meses antes da
inseminação e continuar a usá-la
pelo menos por mais um ano.
Os usuários de droga também
têm de abandoná-las. Homens e
mulheres passam por testes para
checar se os dois são férteis.
O pesquisador diz que hoje a
maioria dos casais que o procura
usa o coquetel de medicamentos
-combinação de remédios usada
para combater o vírus da Aids.
"Mas isso não é fundamental.
Há dez anos, quando começamos,
o coquetel não existia e conseguimos fazer as inseminações sem
contaminar mães e bebês."
O médico diz que esses casais
não devem ser tomados como um
perfil da maioria dos soropositivos. "São pessoas que têm condição de entender o tipo de risco que
estão correndo e optam por correr
mesmo assim", afirma.
Entre os soropositivos analisados no Instituto San Paolo, a
maioria dos homens foi infectada
com o uso de drogas injetáveis, o
que reflete uma realidade européia, onde o consumo de drogas
como a heroína é mais comum do
que no Brasil.
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