São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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SAÚDE
Médico usa inseminação artificial em mulheres soronegativas casadas com homens infectados pelo vírus da Aids
"Lavagem' de sêmen livra bebês de HIV

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

A Aids inaugurou um novo procedimento de segurança para o ato sexual: a inseminação artificial mesmo para aqueles que não têm problema de fertilidade.
O objetivo é ajudar casais a ter filhos com o menor risco de infecção, no caso de homens infectados pelo vírus da doença e casados com mulheres soronegativas.
"Esse grupo de mulheres está disposto a correr riscos de infecção sem nenhuma assistência só para ter um filho. Por isso, desenvolvemos técnicas para ajudá-las", diz o médico italiano Augusto Semprini, do departamento de obstetrícia do San Paolo Instituto, em Milão.
Ele participa a partir de amanhã do 1º Simpósio Internacional sobre Aids e Mulher em São Paulo.
Em entrevista por telefone à Folha, Semprini afirmou que faz a inseminação assistida para diminuir ao máximo o risco de contaminação da mulher.
O método consiste em "lavar" o sêmen do homem para desinfectá-lo do vírus da Aids.
Para isso, é colhido sêmen do marido HIV positivo e, por meio de procedimentos laboratoriais, é obtida a quantidade de espermatozóides "limpos" necessária para a inseminação.
Entre os procedimentos estão a centrifugação, controle de temperatura e da taxa de infecção, além de uso de substâncias químicas. Depois disso, os espermatozóides são injetados na mulher em seu período fértil.
"O procedimento não é 100% seguro. Os casais assinam um documento atestando que concordaram com a tentativa."
O sêmen vai sendo aprovado em diferentes etapas dos exames. A última amostra de sêmen, preservada para a inseminação, não participa dos testes. O instituto pressupõe que, como parte da amostra total que foi "lavada", essa última está limpa.
Semprini diz que o ideal é obter a gravidez na primeira tentativa (37% dos casos). Quanto menos a mulher for exposta ao sêmen contaminado, menor a chance de se infectar. Já foram realizadas 1.585 inseminações, sem nenhum contágio (veja quadro). O resultado são 206 bebês sãos. As mães também não foram contaminadas.
Os casais têm de cumprir algumas tarefas. Eles precisam usar camisinha por seis meses antes da inseminação e continuar a usá-la pelo menos por mais um ano.
Os usuários de droga também têm de abandoná-las. Homens e mulheres passam por testes para checar se os dois são férteis.
O pesquisador diz que hoje a maioria dos casais que o procura usa o coquetel de medicamentos -combinação de remédios usada para combater o vírus da Aids.
"Mas isso não é fundamental. Há dez anos, quando começamos, o coquetel não existia e conseguimos fazer as inseminações sem contaminar mães e bebês."
O médico diz que esses casais não devem ser tomados como um perfil da maioria dos soropositivos. "São pessoas que têm condição de entender o tipo de risco que estão correndo e optam por correr mesmo assim", afirma.
Entre os soropositivos analisados no Instituto San Paolo, a maioria dos homens foi infectada com o uso de drogas injetáveis, o que reflete uma realidade européia, onde o consumo de drogas como a heroína é mais comum do que no Brasil.



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