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REFERENDO
Calibre representa 23,42% das recolhidas na campanha de desarmamento
Exceção em crimes, revólver 22 lidera entrega de armas
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um revólver de baixo calibre e
poder de impacto reduzido, muito popular no Brasil nas décadas
de 50 e 60, é a arma mais comum
entre as entregues pela população
na campanha de desarmamento.
Segundo levantamento parcial
do Sinarm (Sistema Nacional de
Armas), da Polícia Federal, as armas de calibre 22 representam
23,42% do total recolhido. Entre
as armas apreendidas pela polícia
-que foram usadas em crimes-
ou nos registros do cadastro do
governo federal, o mesmo 22 não
supera os 3%.
Para a frente Pelo Direito da Legítima Defesa, a presença surpreendente de armas calibre 22
desmontaria a tese de que a campanha de recolhimento ajudaria a
desarmar os bandidos -que usariam calibres maiores. Para os defensores do desarmamento, o recolhimento de armas de calibre
pequeno, como o 22, terá efeito
principalmente na diminuição de
mortes nos conflitos interpessoais
(brigas de bar ou entre vizinhos).
Até a última segunda-feira,
423.178 armas haviam sido recolhidas no país. Dessas, o Sinarm
cadastrou informações de 54.569
-base desse levantamento parcial. Os dados sobre o revólver 38,
por exemplo, não surpreenderam. Das armas recolhidas, 12.777
tinham esse calibre (23,41%).
O revólver 38 é a arma mais freqüente nas apreensões da polícia
de São Paulo. Representa 47,7%
das armas apreendidas nos casos
de homicídio, segundo um levantamento realizado em 15 mil armas pela CAP (Coordenadoria de
Análise e Planejamento) da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo.
O cadastro do Sinarm -que
reúne dados sobre armas legalizadas e também ilegais apreendidas
no território nacional- traz o registro de 1.898.809 revólveres calibre 38 (27% do total). Em relação
ao calibre 22, o sistema tem o cadastro de 214.427 armas (3,11%).
Segundo o delegado da PF Fernando Segóvia, chefe do Sinarm,
cerca de 90% das armas recolhidas tinham condições de uso e
poderiam matar.
Popularidade
Pequeno e fácil de ser carregado,
o revólver 22 foi muito popular
nas décadas de 50 e 60, segundo o
coronel da reserva José Vicente da
Silva, ex-secretário nacional de
Segurança Pública. "Naquela época, quando era muito fácil adquirir uma arma, o revólver 22 virou
moda porque era pequeno, fácil
de carregar e de manusear e apontado como ideal para mulheres,
dentro daquela concepção da
mulher como sexo frágil", disse.
Segundo o coronel, o revólver
22 tem pequeno poder de impacto -muitas vezes, não consegue
nem derrubar uma pessoa. "Mas,
naquela época, de baixos índices
criminais, a intenção era ter uma
arma só para assustar, sem precisar usá-la", afirmou.
Vicente concorda que a presença surpreendente do calibre 22
mostra que boa parte das armas
recolhidas é antiga, muitas delas
relíquias de família. "Todos sabem que, para o criminoso assíduo, o 22 é arma de criança. Mas a
gente sabe também que, nos casos
de conflitos interpessoais, usa-se
a arma que estiver à mão. É sobre
esses casos que o efeito será
maior", afirmou o ex-secretário,
que votará ""sim" no referendo.
Para o deputado federal Alberto
Fraga (PFL-DF), que coordena a
frente Pelo Direito da Legítima
Defesa, a presença do calibre 22
mostra que o enfoque da campanha de desarmamento está errado. "Nem o bandido mais pé-de-chinelo usa 22. Isso prova que a
arma usada pelo bandido não
vem do cidadão de bem", disse.
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