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CRIME NO QUINTAL
Agente teria decidido levar R$ 2 milhões de cofre da superintendência do Rio com a ajuda de amigo
Escrivão acusa policial por furto na PF
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Em troca do benefício da delação premiada, o escrivão Fábio
Marôt Kair disse que não participou do furto de R$ 2 milhões de
um cofre da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, na Superintendência Regional da Polícia Federal do Rio de Janeiro, mas que o
agente Marcos Paulo da Rocha teria decidido furtar o dinheiro.
Rocha está preso.
Kair foi preso na semana passada sob a acusação de envolvimento com a suposta quadrilha de policiais federais acusados de envolvimento no furto, no sumiço de
20 kg de cocaína da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), em pelo menos duas mortes
e no furto de cheques.
Kair prestou depoimento na
sexta-feira passada à juíza federal
Flávia Peixoto. Por segurança, ele
foi retirado do Rio pela PF.
Kair disse que o furto do dinheiro comprovou que "a ocasião faz
o ladrão". Ele contou que tinha
providenciado o depósito da
quantia em uma agência do Banco do Brasil quando o superintendente interino Roberto Prel deu
ordem para que o dinheiro continuasse na superintendência até
que fosse mostrado a jornalistas.
Depois da apresentação do dinheiro à imprensa, o expediente
bancário já havia sido encerrado.
As notas foram, então, guardadas
na DRE e lá seriam mantidas durante o fim de semana.
A Folha revelara em 22 de setembro que o escrivão, em depoimento na Corregedoria da PF, havia dito que só não depositara o
dinheiro por causa da interferência do delegado Prel.
De acordo com o depoimento
na Justiça Federal, o furto ocorreu
no domingo. Kair disse que não
participou, mas apontou como
envolvido o agente Marcos Paulo
da Rocha. Rocha, sabendo que o
dinheiro estava guardado em
uma repartição vulnerável, sem
plantonistas, teria decidido furtá-lo. O agente também está preso.
No dia seguinte ao crime, Kair
disse a colegas que não aceitaria
ser responsabilizado porque faria
o depósito, como manda o regulamento da PF, mas foi impedido
pelo superintendente interino.
O escrivão afirmou no depoimento que Rocha soube de sua
indignação e o procurou para dizer que era o autor do furto e que
não o deixaria ser responsabilizado. Kair disse também que Rocha
teve a ajuda do amigo Ubirajara
Maia, o Bira, que está foragido.
O furto do dinheiro ocorreu no
mês passado. O crime motivou o
afastamento de 59 policiais federais que trabalharam na superintendência no fim de semana em
que o furto ocorreu.
O depoimento de Kair apontou
ainda outros crimes em que agentes federais estariam envolvidos.
Ele disse que em março presenciou o assassinato de dois homens
pelo agente Rocha no estacionamento do Centro Empresarial Rio
Office Park, na Barra da Tijuca.
Ele e Rocha estariam investigando, por conta própria, o roubo
de R$ 5 milhões de agiotas que
atuam na zona norte. Umas das
vítimas estaria envolvida no crime. A outra teria sido morta para
"queimar arquivo".
Kair falou ainda do sumiço de
23 cheques durante a ação da PF
em uma rinha de galos de briga
em que foi preso, em outubro do
ano passado, o marqueteiro Duda
Mendonça. Ele disse que não participou do roubo, mas, mesmo assim, recebeu uma parte da quantia obtida quando os cheques foram descontados.
A Folha tentou ouvir ontem o
delegado Prel. Ele não foi localizado. Em entrevistas após o furto do
dinheiro, Prel disse que o dinheiro não foi depositado no banco
porque não haveria tempo útil.
Por causa do feriado, a Superintendência da PF só funcionou ontem com uma equipe de plantão.
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