São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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CRIME NO QUINTAL

Agente teria decidido levar R$ 2 milhões de cofre da superintendência do Rio com a ajuda de amigo

Escrivão acusa policial por furto na PF

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Em troca do benefício da delação premiada, o escrivão Fábio Marôt Kair disse que não participou do furto de R$ 2 milhões de um cofre da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, na Superintendência Regional da Polícia Federal do Rio de Janeiro, mas que o agente Marcos Paulo da Rocha teria decidido furtar o dinheiro. Rocha está preso.
Kair foi preso na semana passada sob a acusação de envolvimento com a suposta quadrilha de policiais federais acusados de envolvimento no furto, no sumiço de 20 kg de cocaína da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), em pelo menos duas mortes e no furto de cheques.
Kair prestou depoimento na sexta-feira passada à juíza federal Flávia Peixoto. Por segurança, ele foi retirado do Rio pela PF.
Kair disse que o furto do dinheiro comprovou que "a ocasião faz o ladrão". Ele contou que tinha providenciado o depósito da quantia em uma agência do Banco do Brasil quando o superintendente interino Roberto Prel deu ordem para que o dinheiro continuasse na superintendência até que fosse mostrado a jornalistas.
Depois da apresentação do dinheiro à imprensa, o expediente bancário já havia sido encerrado. As notas foram, então, guardadas na DRE e lá seriam mantidas durante o fim de semana.
A Folha revelara em 22 de setembro que o escrivão, em depoimento na Corregedoria da PF, havia dito que só não depositara o dinheiro por causa da interferência do delegado Prel.
De acordo com o depoimento na Justiça Federal, o furto ocorreu no domingo. Kair disse que não participou, mas apontou como envolvido o agente Marcos Paulo da Rocha. Rocha, sabendo que o dinheiro estava guardado em uma repartição vulnerável, sem plantonistas, teria decidido furtá-lo. O agente também está preso.
No dia seguinte ao crime, Kair disse a colegas que não aceitaria ser responsabilizado porque faria o depósito, como manda o regulamento da PF, mas foi impedido pelo superintendente interino.
O escrivão afirmou no depoimento que Rocha soube de sua indignação e o procurou para dizer que era o autor do furto e que não o deixaria ser responsabilizado. Kair disse também que Rocha teve a ajuda do amigo Ubirajara Maia, o Bira, que está foragido.
O furto do dinheiro ocorreu no mês passado. O crime motivou o afastamento de 59 policiais federais que trabalharam na superintendência no fim de semana em que o furto ocorreu.
O depoimento de Kair apontou ainda outros crimes em que agentes federais estariam envolvidos. Ele disse que em março presenciou o assassinato de dois homens pelo agente Rocha no estacionamento do Centro Empresarial Rio Office Park, na Barra da Tijuca.
Ele e Rocha estariam investigando, por conta própria, o roubo de R$ 5 milhões de agiotas que atuam na zona norte. Umas das vítimas estaria envolvida no crime. A outra teria sido morta para "queimar arquivo".
Kair falou ainda do sumiço de 23 cheques durante a ação da PF em uma rinha de galos de briga em que foi preso, em outubro do ano passado, o marqueteiro Duda Mendonça. Ele disse que não participou do roubo, mas, mesmo assim, recebeu uma parte da quantia obtida quando os cheques foram descontados.
A Folha tentou ouvir ontem o delegado Prel. Ele não foi localizado. Em entrevistas após o furto do dinheiro, Prel disse que o dinheiro não foi depositado no banco porque não haveria tempo útil.
Por causa do feriado, a Superintendência da PF só funcionou ontem com uma equipe de plantão.


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