São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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EDUCAÇÃO

Instituições, principalmente da Europa, tentam compensar falta de alunos provocada pela queda da população jovem

Universidade estrangeira assedia brasileiros

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Estudantes são atendidos em balcão no salão EduFrance, que ofereceu vagas em universidades francesas para alunos brasileiros


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

As universidades estrangeiras, principalmente as européias, estão de olho no estudante brasileiro. A necessidade de buscar cérebros para competir com as instituições norte-americanas e a falta de alunos por causa da diminuição da população jovem têm levado essas instituições a adotar uma política mais agressiva de sedução de jovens brasileiros.
A tendência é facilmente constatada na USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFF (Universidade Federal Fluminense). Reitores e representantes da área internacional dessas instituições contam que o assédio estrangeiro por parcerias cresceu.
Em alguns casos, dizem eles, a proposta é boa para as duas partes e pautada pelo critério acadêmico. Em outros, trata-se de puro interesse de mercado.
"A Europa vem enfrentando uma crescente ociosidade nas universidades por causa das baixas taxas de natalidade. Essas instituições precisam justificar investimentos em infra-estrutura e estão atrás de alunos estrangeiros. Além disso, há preocupação também por causa de uma eventual falta de cérebros no campo da pesquisa científica e tecnológica nesses países", diz a reitora da UFMG, Ana Lúcia Gazzola.
Para ela, quando a proposta é de reciprocidade e feita por uma instituição conceituada, tende a ser aprovada. Há algumas, no entanto, que são "predatórias".
"Já vieram muitos reitores pedindo autorização para montar feiras para captar alunos. É o típico tratamento da educação como produto. Em outros casos, as instituições oferecem bolsas, mas querem atrair os melhores quadros para áreas em que estão precisando de mão-de-obra sem levar em conta também as necessidades do Brasil", diz.
O mesmo quadro é confirmado pela assessora para assuntos internacionais da UFF, Maria Laura Costa: "As universidades estrangeiras estão ficando mais agressivas e se organizando melhor para conseguir alunos no Brasil. Muitas propostas são positivas. Em outras, dá para perceber claramente o interesse financeiro".
Costa conta que o primeiro fator que a UFF analisa numa proposta é a reputação da instituição e se haverá custos para o aluno. "A gente também se preocupa em mostrar que também temos conhecimento para trocar", diz ela.
Para Adnei Melges de Andrade, membro da comissão de cooperação internacional da USP e presidente da comissão de relações internacionais da Escola Politécnica, o interesse dos estrangeiros se explica também pelo fato de o Brasil ser considerado uma nação emergente com grande população e capacidade de crescimento.
"Esse aumento tem acontecido também porque fazemos parte do Bric [sigla de Brasil, Rússia, Índia e China]. São quatro países que estão se tornando prioridade na abordagem diplomática de nações desenvolvidas. Sabemos que somos alvo desse interesse, mas nem tudo obviamente nos interessa", afirma Andrade.
Uma prova do interesse foi dado nesta semana pela agência EduFrance, que, em parceria com a embaixada da França no Brasil, promoveu um salão voltado para estudantes no Rio e em São Paulo com a participação de cerca de 150 universidades francesas.
"No nosso caso, não é correto dizer que o interesse é comercial porque as universidades francesas são gratuitas. Também não queremos promover uma fuga de cérebros. Queremos recuperar uma longa tradição de cooperação no ensino superior que foi diminuindo, fazendo com que a França perdesse enormemente seu poder de atração dos intelectuais e pesquisadores brasileiros. Avaliamos então que era necessário uma política de marketing mais dinâmica", afirma Olivier Chiche-Portiche, coordenador da EduFrance para as Américas.
A oferta de universidades estrangeiras costuma atrair tanto estudantes que pensam em se aperfeiçoar no exterior quanto os que querem migrar de vez.
Raquel Brant, 21, por exemplo, aluna de artes cênicas na UFMG, viajou de Belo Horizonte para o Rio para participar do salão de universidades francesas. "Minha idéia é, se conseguir, ficar lá para sempre, porque me identifico mais com a Europa", diz ela.
Já Diego Cotta, 18, aluno de comunicação da UFRJ, diz que quer voltar, mas afirma que os preços nem sempre são convidativos. "Achei as propostas [no salão de instituições francesas] fora da minha realidade financeira."


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