São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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Após incêndio, desalojados invadem prédios

Moradores de barracos destruídos no domingo ocuparam, por 6 h, apartamentos que estão em construção para cobrar prefeitura

Objetivo, segundo eles, era pedir inclusão em programa habitacional; invasores deixaram local e foram levados para clube municipal

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Desabrigados após o incêndio na favela Nova Jaguaré, em São Paulo, os moradores invadiram ontem um conjunto residencial em obras

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ontem, um dia após o incêndio na favela Nova Jaguaré (zona oeste de SP) que deixou 300 barracos destruídos e mais de 1.300 pessoas desabrigadas, um grupo de 200 moradores que viviam na área invadiu um conjunto habitacional em construção no terreno ao lado. A invasão teve como objetivo forçar a prefeitura a incluí-los em algum programa habitacional.
Eles invadiram dois prédios do conjunto quando começou a chover. Após seis horas, aceitaram deixar os apartamentos -que serão entregues em 2010 a outras famílias da mesma favela- com a promessa de que seriam cadastrados na Secretaria Municipal de Habitação e de que poderiam ficar alojados em um clube municipal durante uma semana.
Até então, a única alternativa dada pela prefeitura às famílias desalojadas eram os albergues destinados à população de rua. Dos desabrigados, apenas sete aceitaram ir para os abrigos. Os demais se hospedarem na casa de parentes e amigos.
Dentro de um dos apartamentos invadidos, Caíque Bezerra da Silva, 18, justificava a invasão: "É uma forma de chamar a atenção. É como se fosse a desobediência civil. Se não fizermos isso, eles não vão nos ajudar. Ninguém aqui tem a intenção de destruir nada".
Para invadir os apartamentos, os moradores quebraram um muro de concreto que separava o conjunto da favela. Quando ocorreu a invasão, havia apenas assistentes sociais da prefeitura no local. A guarda municipal e a Polícia Militar foram acionadas depois.
O cadastramento, porém, não significa que automaticamente receberão um apartamento. A prioridade é das famílias com idosos, deficientes e crianças e das que estejam há mais tempo no local.
A Secretaria de Habitação já preparava a inclusão dos moradores em programas habitacionais. O cadastramento ainda não havia sido feito porque o terreno está em fase de desapropriação.
Moradores incluídos no programa habitacional recebem uma ajuda financeira para pagar o aluguel até que seu apartamento esteja pronto.
Questionado sobre o incêndio, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse que as pessoas seriam atendidas pelas assistentes sociais da prefeitura. Não fez comentário sobre o drama dos moradores.
A emprega doméstica Márcia Maria Oliveira da Silva, 41, lamentava a perda do barraco pelo qual havia pago R$ 2.000. Ela dividia o local com o marido, os dois filhos e um cunhado. "Da minha casinha, sobraram fotos e um balde com roupas."
Na madrugada de ontem, as assistentes sociais distribuíram colchões, cobertores e cestas básicas às 232 famílias desabrigadas localizadas até então.
Os bombeiros acreditam que as chamas foram provocadas por ligações elétricas clandestinas. A polícia investiga o caso.


Colaborou o "Agora"


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