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Professoras dizem que foram punidas por manter namoro
As duas querem indenização da Prefeitura de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul
Uma delas teve o contrato rescindido 2 meses após o início do namoro; a outra, com 22 anos de escola, diz que foi colocada à disposição
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Duas professoras que trabalhavam em uma escola rural
municipal de Campo Grande,
em Mato Grosso do Sul, dizem
que foram punidas pela prefeitura por serem namoradas.
Professora havia 22 anos na
escola, Laís, 52, conheceu Roberta (os nomes são fictícios),
38, em fevereiro deste ano,
quando esta começou a dar aulas de português no local. Dois
meses depois, quando o namoro foi descoberto, Roberta teve
seu contrato rescindido e Laís
diz ter sido colocada à disposição -não sendo mais indicada
para escola alguma.
A professora desempregada
pede na Justiça trabalhista indenização de R$ 500 mil por
danos morais e perda salarial
contra a prefeitura. E a outra
docente, que diz ter antecipado
sua aposentadoria após ser colocada à disposição, pretende
ingressar com ação na Justiça
comum, por danos morais.
As punições foram anunciadas em 24 de abril, quando as
duas foram convocadas para
uma reunião com a direção da
Escola Municipal Onira Santos,
que abriga cerca de 120 alunos.
Naquela reunião, segundo a
ata anexada à ação por danos
morais, a diretora ficou sabendo do relacionamento homossexual por meio de outra professora e comunicou aos presentes que Roberta teria seu
contrato (de fevereiro a julho)
rescindido para "evitar que a
notícia chegasse ao conhecimento da comunidade".
Laís disse que foi praticamente obrigada a antecipar sua
aposentadoria por tempo de
serviço. "Antes, não queria a
aposentadoria porque tenho
uma filha na faculdade. Mas depois não havia clima para continuar na escola", disse.
Segundo Roberta, depois do
afastamento ela tentou mais
uma vez trabalhar na rede municipal de ensino, mas os responsáveis pelas escolas alegavam que não havia vagas.
"Nós queríamos que Roberta
arranjasse um emprego. Como
foi recusado, decidimos entrar
na Justiça", afirmou Laís.
Em julho, o advogado José
Trad entrou com ação por danos morais na 7ª Vara do Trabalho de Campo Grande.
Para o advogado, Roberta foi
demitida por sua opção sexual,
o que classifica de ato discriminatório, e que não conseguiu
mais contratos em escolas municipais por conta da dispensa.
Em setembro, ocorreu uma
audiência de conciliação, mas
não houve acordo. Em 9 de janeiro de 2008, vai haver outra
audiência, quando testemunhas do caso serão ouvidas.
Trad deve entrar com uma ação
favorável à professora Laís na
próxima semana.
A professora Laís disse que
ela e Roberta não exibiam o relacionamento na escola nem
"andavam de mãos dadas".
"Nós [cinco professoras] morávamos na escola [que fica a cerca de 100 km do centro de Campo Grande]. Não tinha como
namorar. Só quando nos encontrávamos na cidade, íamos
ao cinema", disse Laís.
Resolveram contar para uma
outra professora. "Quando
contamos, deu no que deu",
afirmou Laís.
Hoje, as professoras continuam morando juntas e se mudaram para uma cidade no interior de Mato Grosso do Sul.
Laís cuida dos netos, e Roberta
trabalha em uma auto-escola.
As professoras não quiseram
divulgar o nome por medo de
represálias.
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